A Felicidade das Pequenas Coisas

“A Felicidade das Pequenas Coisas”- “Lunana: A Yak in the Classroom”, Butão, China, 2019

Direção: Pawo Choyning Dorgi

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O que é a felicidade? Para cada um de nós será uma coisa diferente?

Ter poder, paz de espírito, acumular bens materiais, riqueza, saúde, conhecimento, ter acesso à comida, morar bem, ter a natureza ao redor, amar e ser amado, habitar cidades grandes com acesso à cultura ou pequenas com direito à fruição do silêncio, a lista é vasta porque a felicidade parece ter a ver com desejos realizados. E cada um é cada um. Isso no Ocidente.  Difícil ser feliz por aqui. Pois a cada desejo realizado logo aparece um substituto.

Mas no longínquo Butão, um reino no Oriente entre a China e a Índia, pesquisadores opinaram que ali era o lugar onde viviam as pessoas mais felizes do mundo.

E por que assim seria? Algo a ver com o tipo de vida muito próximo da natureza, sem cidades grandes afeitas ao estresse e a poluição? A espiritualidade não forçosamente ligada à religião? Pouca ambição? Cultura que estimula o viver frugal?

Perguntas difíceis de responder.

Mas o filme “A Felicidade das Pequenas Coisas” parece que nos oferece uma oportunidade de refletirmos sobre o que é a felicidade. Através do personagem Ugyen, um professor, funcionário público que devia servir ao país por mais um ano, vamos conhecer suas dificuldades e a aparente inadaptação ao que lhe é oferecido. Ou seja, ensinar numa aldeia no Himalaia, a mais de 5.000 m de altura. Seu posto seria o de professor na mais longínqua escola do mundo.

E ele, que gostava de cantar e queria viver na Austrália, aceita o risco e vai subir as montanhas do Butão para cumprir o que deve ao reino.

O caminho é longo e árduo. Os guias da aldeia tentavam facilitar a jornada, parando quando percebiam o quanto o professor se cansava com a falta de oxigênio. Mesmo assim foram oito dias de dificuldades.

Mas algo que Ugyen nem cogitava, vai acontecer. O sorriso e os cantos das crianças e seus pais, quando estavam ainda a caminho, vindo ao encontro do tão esperado professor, deu-lhe novas forças e o último pedaço da caminhada foi diferente do resto.

E essa descoberta, do quanto era importante para toda a aldeia, cresceu a cada dia e mudou o espírito do professor, que passou a cantar com as crianças, refazendo o ambiente da sala de aula com tudo que havia num baú esquecido.  E o mais importante, passou a gostar de partilhar seu espaço da escola com um iaque, animal venerado pelos aldeões, já que lhes fornecia tudo que precisavam para subsistir.

Mas nem mesmo os iaques aguentavam os gélidos invernos do Himalaia e desciam para os altiplanos de clima mais ameno, onde alguma grama ainda existisse.

Assim será com o professor. Vai aprender com o modo de viver na aldeia, ensinando o que podia e se sentindo feliz com a gratidão que recebia em troca. Quem sabe não voltaria para rever a bela pastora de iaques que cantava tão lindamente?

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Coda: No Ritmo do Coração

“Coda: No Ritmo do Coração” - “Coda”, Estados Unidos, Canadá, 2021

Direção: Siân Heder

A princípio, você pode ter a impressão de que já viu esse filme. E pode ser que tenha visto “A Família Bélier”, filme francês de 2014, do qual a jovem diretora e roteirista americana Siân Heder, 44 anos, fez um remake.

Mas aqui a família Rossi não tem uma fazenda, tem um barco. São pescadores há muitas gerações. E são surdos. Todos menos a caçula de 17 anos, Ruby (Emilia Jones), que ouve bem e trabalha como intérprete de tempo integral para a família.

Ela é essencial no barco pesqueiro, já que as leis proíbem a surdos, sem intérprete, de exercer essa profissão. Há perigos no mar e o rádio, peça essencial de comunicação com a terra e outros barcos, é obrigatório. Então, Ruby tem que acordar todo dia às 3 horas da manhã para ir com o pai (Troy Kotsur) e o irmão (Daniel Durant) para o mar.

Acontece que Ruby não vai bem na escola. Claro, porque acorda muito cedo e dorme nas aulas. Praticamente não está presente como querem os professores. Mas quando ela decide entrar no coral da escola, descobrem que ela canta qual um rouxinol. Nem ela mesma levava em conta o quanto sua voz era bela, afinada e rara. Ruby só sabia que cantar era sua paixão.

O professor Villalobos (Eugenio Derbez) se dá conta da joia preciosa que ele tem em seu coral e se oferece para dar aulas grátis para que Ruby possa fazer o teste de audição para entrar em Berkeley.

Mas como explicar para seus pais o que é cantar? Eles não entendem. E como sempre contaram com Ruby para a ajuda essencial como intérprete, não viam o porquê dela querer ir para a faculdade e deixá-los.

Egoísmo? Pode ser e é até compreensível. Quando uma cena muda acontece, levamos um choque ao experimentar o que é a surdez.

Mas os atores ótimos, Troy Kotsur, o pai, Marlee Matlin a mãe, atriz surda na vida real, o professor do coral, todos fazem com que a história dessa família toque o nosso coração. Torcemos por Ruby mas entendemos o sofrimento de sua família.

Em tempo, “Coda” é a abreviatura para “criança filha de pais surdos”.

O filme estreou no Festival de Sundance em 2021 e empolgou a plateia, levando vários prêmios. No SAG AWARDS, do sindicato dos atores, ganhou o prêmio principal. Teve 3 indicações para o Oscar de melhor filme, melhor ator coadjuvante para Troy Kotsur e melhor roteiro adaptado.

Esse é um daqueles filmes que nos fazem ver a vida com mais otimismo. Indispensável nos momentos difíceis em que vivemos.

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