O Dono do Jogo

“O Dono do Jogo”- “Pawn Sacrifice”, Estados Unidos, 2016

Direção: Edward Zwick

No século passado, muita gente jogava xadrez, algo que mudou totalmente. É um jogo difícil, que exige concentração, memória, poder de antecipar os próximos movimentos do adversário porque é um jogo baseado na lógica e horas de estudo dos jogos entre mestres para aprender aberturas e táticas de defesa. Além disso , a criatividade é a marca dos campeões.

Mas “O Dono do Jogo” dirigido por Edward Zwick, 63 anos, de “Lendas da Paixão”1984 e “Diamante de Sangue” 2006, não é um filme sobre xadrez. Trata-se de contar a ascensão e queda de uma celebridade, usada politicamente pelos Estados Unidos em plena “guerra fria”, para derrotar os soviéticos.

O menino judeu, nascido em Chicago em 1943, aparece em 1951, morando no Brookyn, em Nova York, com sua mãe judia-suíça, Regina (Robin Weigert), naturalizada americana e sua irmã mais velha, Joan (Lily Rabe).

Numa cena, vemos uma reunião de pessoas conversando sobre política e comunismo. Bobby vê um carro estacionado em frente à casa e a tela mostra que ele é fotografado. Quando corre para contar para a mãe, ela diz:

“- Um homem lá fora no carro? Eles querem bisbilhotar o meu trabalho. Nunca responda nada a eles, Bobby. Coloque-o para dormir”, diz para a filha.

Na verdade, a mãe de Bobby era mesmo vigiada pelo FBI por causa de sua simpatia pelo comunismo.

E é um garoto assustado, de 8 anos, que não consegue dormir, atento a barulhos e com o rostinho preocupado, que vemos valer-se de seu tabuleiro de xadrez para refugiar-se em um mundo onde se sentia mais protegido.

Mente brilhante, ele logo ganhava de todos os que se reuniam nos clubes de xadrez de Nova York. Foi campeão americano 8 vezes, em oito participações. A primeira vez que ganhou o título, em 1967, tinha 14 anos e foi o mais jovem campeão americano.

Pouco tempo depois, assistimos a outra cena, em que ele escuta barulhos que vem do quarto da mãe. Furioso, ele vai interpelá-la:

“- E o meu pai? Ele existe? Não se lembra?”

“- Ele foi embora”, responde a mãe querendo justificar a presença de outro homem em sua cama.

“- Volte para Moscou com seus amigos comunistas! Eu preciso de silêncio. Escuto vocês transando todas as noites! Preciso de silêncio!” grita Bobby e histericamente expulsa os dois de casa.

Essa necessidade de fechar-se num mundo silencioso tem uma clara motivação sexual, com raízes em um complexo de Édipo complicado. Sua mãe nunca contou a ele sobre seu pai e o menino se ressentia disso.

Ao longo do filme vamos ver Bobby interromper jogos para exigir silêncio e mesmo quando conseguia, não se livrava dos barulhos em sua cabeça.

Logo aparecem delírios persecutórios envolvendo russos e judeus (apesar dele mesmo ser judeu). Há uma rebeldia e uma provocação frente à autoridade que parecem vir de um menino carente de pai.

Seu treinador, o padre Bill Lombardy (Peter Sarsgaard, excelente) e o advogado (Michael Stuhlborg), que viu em Bobby o potencial para ser um campeão, conversam durante o ponto alto do filme, em 1972, Reykjávik, Islândia, quando Bobby Fisher (Tobey Maguire, impecável) enfrenta o campeão russo Boris Spassky (Liev Schreiber, soberbo), para quem ele havia perdido o torneio em 1966, em Santa Monica. Desse jogo sairia o campeão do mundo:

“- Ele tem medo de perder”, diz o advogado.

“- Ele tem medo de ganhar e não saber o que virá depois”, retruca o padre.

No final, vemos o próprio Bobby Fisher (considerado pelos grandes mestres do xadrez o melhor enxadrista do século XX) uma figura exótica, de cabelos e barba longos e brancos, chegando à Islândia em 2005, onde viveu até sua morte em 2008, com apenas 68 anos.

Uma mente brilhante e uma pessoa enigmática.  

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