Tully

“Tully”- Idem, Estados Unidos, 2018

Direção: Jason Reitman

A visão da barriga imensa de Marlo descendo a escada da casa dela, assusta. Gravidíssima, ela não pode descansar porque dois filhos a esperam: Sarah de 8 anos e Jonah de 6, que sofre de um leve autismo ou é pelo menos hiperativo. Ele é um caso sem diagnóstico.

Marlo (Charlize Theron, excelente) não tem dinheiro para pagar uma terapia para o filho. Então, o escova todas as noites dos pés à cabeça. Disseram que seria bom para ele.

Percebemos que Marlo é uma boa mãe, carinhosa, dedicada mas fato é que ela está cansada. Últimos dias da gravidez, as crianças e todo o trabalho da casa. Exaustivo.

Quando o marido Drew (Ron Livinston) chega, o menu é pizza congelada. Foi o máximo que ela conseguiu.

Dia seguinte tudo recomeça. Mas vai ter que ir até a diretora da escola que quer conversar sobre Jonah. Depois de todas as frases corretas vem a verdade:

“- Marlo, não é justo. Jonah mobiliza a professora. Ele precisa da atenção total de uma pessoa junto a ele. E não temos essa pessoa. Vocês vão ter que pagar por ela. Ou tirar Jonah daqui. Tem muitas escolas melhores para ele. Você sabe. Ele é peculiar.”

A vida de Marlo está pesada, em todos os sentidos. Ganhou muitos quilos com a gravidez, as crianças, especialmente Jonah dão trabalho e seu casamento está um tédio.

Quando vai visitar o irmão rico (Mark Duplass), ouve que vai ganhar um presente: uma babá noturna. Com ela em casa, Marlo vai poder descansar de noite, diz o irmão. Nem vai ter que levantar para amamentar, porque a babá traz o bebê para ela.

Mas Marlo não quer. Uma estranha cuidando do bebe? Nunca.

Mas o parto e a bebê Mia em casa acontecem rapidamente.

E Marlo entra numa rotina infernal. Fraldas, amamentações, ninar, cortar as unhas, banho e todo aquele choro alto dos recém nascidos. Ela joga a toalha. Percebe que vai ter um colapso e chama a babá.

Tully (Mackenzie Davis) é tudo de bom. Além de cuidar da bebê com um jeitinho maternal, limpa a casa, lava os pratos e prepara o café da manhã.

“- Por que a casa está tão limpa? ”estranha a filha Sarah.

A princípio Tully e Marlo se estudam, Marlo com um pé atrás. Mas ela, que veio cuidar do bebê, se ocupa também com a mãe.

As duas passam a conversar muito e rir juntas. Marlo, olhando o corpinho enxuto de Tully, lembra-se de sua própria juventude e reflete, agora que saiu da exaustão, sobre o que quer da vida.

A sereia serena nadando na água azul, passa a ser um sonho recorrente de Marlo, agora mais voltada para dentro de si mesma, querendo voltar a ser quem era.

“Tully” tem roteiro de Diablo Cody que escreve diálogos bem naturais e tem um humor levemente  ácido, além de uma boa imaginação para criar personagens. A dupla com o jovem diretor Jason Reitman já deu certo em “Juno”2007, que deu um Oscar de melhor roteiro para ela, e juntos também fizeram “Jovens Adultos”2011.

Em “Tully” acertaram novamente. Há uma reviravolta inesperada que dá originalidade à história contada e acena com esperanças.

Assim, o filme pode ser visto como um conto de fadas com varinha mágica e tudo mais, ou como um sonho ruim que descreve como fica uma mãe que enfrenta uma depressão pós parto, encontrando depois, nela mesma, a força e a coragem para seguir em frente com a vida que escolheu para viver.

Ótimo filme.

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