A Árvore dos Frutos Selvagens

“A Árvore dos Frutos Selvagens”- “Ahlat Agaci”,Turquia, França, Alemanha, Bulgária, 2018

Direção: Nuri Bilge Ceylan

Recém chegado em sua aldeia natal, formado professor, a profissão de seus pais, Sinan (Aydin Dogu Demivkol) recebe más notícias. O pai dele deve dinheiro e não pagou. O homem diz que até aceitaria o cão de caça dele para saldar a dívida, mas não houve acordo. Idris (Murat Cemcir) é viciado em apostas e pelo jeito só piorou, pensa o filho aborrecido. Tudo continua igual.

Mas a preocupação maior de Sinan é arranjar dinheiro para publicar o livro que escreveu. Visita alguns possíveis patrocinadores, mas percebemos que Sinan entra em discussão com essas pessoas e sai sem o dinheiro que queria.

Um encontro no campo, em meio a folhagens estremecidas pelo vento, com o sol filtrado pelas folhas verdes da árvore antiga, parece que vai amansar Sinan.

Nada feito. A bela Hatice vai se casar, apesar de sonhar com outras cidades, ruas cheias, boa comida e navios, noites de verão e paixão.:

“- Tudo está tão longe,,,”

E a moça se vai depois de um beijo mordido.

Ruptura e separação estão à espreita para destruir coisas belas, pensa Sinan.

Em casa o clima é de briga e Sinan não tem vontade de estudar. Vai prestar o exame para um concurso público mas não tem esperança de conseguir uma das disputadas vagas.

“- São 300.000 professores desempregados”, diz para o pai.

Existe uma postura de resignação pelos sonhos não realizados. A mãe de Sinan fala do pai na juventude deles, bonito e exímio com as palavras. Agora tem que cuidar do dinheiro para que ele não gaste tudo em apostas:

“- Mas eu me casaria com ele mesmo assim, se pudesse voltar ao passado e escolher novamente.”

Ouve-se um tema musical nostálgico em algumas cenas. As pessoas mais velhas ainda vivem como sempre viveram mas os jovens estão irritados e decepcionados.  A alternativa para os desempregados é a polícia ou o exército.

Um sonho de Sinan mostra ele fugindo por ruas estreitas e acabando dentro de um cavalo de Tróia. Tudo leva a um engano?

Numa visita à casa dos avós com o pai que teima em furar um poço num local tido como seco há milênios, Sinan encontra algo que vai vender para publicar seu livro. Um meta-romance responde ao escritor local que também acaba brigando com ele por causa de seu jeito arrogante.

“- Será que vão gostar do meu livro? A verdade nem sempre é popular”, diz para a mãe que recebe o primeiro exemplar, com uma dedicatória carinhosa.

“Sono de Inverno” deu a Palma de Ouro ao cineasta turco Nuri Bilge Ceylan, autor de filmes poéticos, diálogos inteligentes e  natureza belamente fotografada. Ao longo das três horas de filme, “A Árvore dos Frutos Selvagens”, título do livro do personagem principal, ele faz o público viajar para a Turquia rural e reconhecer-se nos seus personagens tão humanos.

Imperdível para cinéfilos.

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