Rainha de Copas

“Rainha de Copas”- “Dronningen”, Dinamarca, Suécia, 2019

Direção: May el-Toukhy

O que aconteceu com Anne?

Advogada de sucesso, uns quarenta e tantos anos, casada com um médico sueco bonitão com quem tem uma boa vida, filhas gêmeas de 11 anos e uma casa com uma bela arquitetura, cercada de árvores de um bosque, parecia que ela era feliz. Tinha tudo que o luxo dinamarquês permitia.

Ela (Trine Dynholm, atriz fantástica) e ele (Magnus Krepper) são extremamente dedicados ao trabalho, sendo que Anne exagera quando leva para casa adolescentes que ela defende de abuso sexual e violência doméstica. Está sempre estudando os processos do escritório de advocacia do qual é sócia, chega tarde em casa, muitas vezes depois do marido.

Mas o casamento vai bem.

Porém algo inesperado acontece nesse cenário perfeito, sem problemas.

O marido de Anne teve um primeiro casamento e um filho, Gustav (Gustav Lindh) que, expulso da escola na Suécia, onde vivia com a mãe, vem morar na casa do pai. Era isso ou um internato.

As meninas estão felizes com esse irmão que aparece de surpresa. E Anne tenta acolher o garoto problemático, que se mostra arredio a princípio.

Quando acontece um roubo na casa deles, em pleno dia, sem ninguém em casa, Anne não leva muito tempo para descobrir que o culpado foi o enteado. Mas, ao invés de contar para o marido, ela chama Gustav e abre o jogo com ele. Tudo ficaria entre eles dois, se ele prometesse entrosar melhor na família e tratar bem as irmãs.

E Gustav parece que entendeu o ato de Anne perdoá-lo e devolve com gratidão, tornando-se mais íntimo das irmãs.

Um belo dia de verão, Anne, Gustav e as gêmeas vão para um passeio no lago. E quando ela entra na água, onde está Gustav, as meninas estranham:

“- Mãe você nunca quer nadar…”

E foi ali que Anne se entregou a uma parte dela que não media as consequências de seus atos. Esse lado a empurra para a cama do enteado. É ela que o seduz. Logo ela que protegia crianças e adolescentes de adultos perversos.

A cegueira ética que a invade é comandada por uma parte dela, altamente destrutiva, liderando uma sabotagem disfarçada de liberdade.

Seu narcisismo a impede de ver o estrago que poderia causar na vida de toda a família e principalmente na dela.

Anne não avalia os prejuízos que poderiam vir com esse relacionamento, que era incentivado não tanto pelo sexo, mas para preencher sua insegurança com seu poder de sedução. Coisa que não raro acontece entre as mulheres e os homens de meia idade.

Essa história contada com talento pela diretora May el-Toukhy é um triste exemplo, valioso para uma séria reflexão sobre temas importantes na vida de todos nós.

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