Mank

“Mank”- Idem, Estados Unidos, 2020

Direção: David Fincher

Um céu com nuvens brancas, tons de cinza e branco, serve de fundo para os créditos do filme que continuam aparecendo quando a câmera foca a estrada poeirenta abaixo. Estamos no sul da Califórnia, no deserto. Dois carros trazem o roteirista e crítico de teatro, Herman J. Mankiewicz (1897-1953) e seu séquito, ele usando muletas, devido a um fêmur quebrado. O destino é o Rancho Verde.

Mank, como todos o chamam, será o personagem principal de uma história sobre o homem que escreveu o roteiro de “Cidadão Kane”, “O Mágico de Oz” e “Os Homens Preferem as Louras”, na Hollywood da década de 30/40.

Vamos ver o que aconteceu naquele quarto, onde Mank (Gary Oldman, extraordinário), se refugia, deitado numa cama, ditando para a secretária Rita (Lily Collins), jovem inglesa eficiente e bela, o que viria a ser o roteiro do filme “Citizen Kane”.

O telefone toca e Orson Welles (1915-1985), aos 24 anos, cobra pressa no trabalho, diminuindo o prazo de 90 para 60 dias. O “Wonderboy”, que vinha de sucessos no teatro e no rádio, tinha carta branca da RKO para fazer seu primeiro filme do jeito que quisesse e com quem escolhesse.

Mank só funcionava sob efeito de muito álcool e diziam, Seconal, fornecidos por Welles. Veremos o roteirista se debatendo entre o passado e o presente em memórias de Holywood onde figuravam os donos de estúdios e colegas roteiristas, atores e atrizes, em “flashbacks” que chegam a desnortear o espectador. Porque tudo se passa em meio a intenso falatório, ironias, fumaça de cigarros e charutos, em plena crise no país.

Mas não se assustem. Mesmo não sabendo quem é quem, conseguimos entender a história.

E um dos “flashbacks” traz Mank nos domínios do magnata da mídia, William Randolph Hearst (Charles Dance), onde estão também o chefão da MGM, Louis B. Mayer (Arliss Howard) e a louríssima estrela Marion Davies (Amanda Seyfried), amante do dono de San Simeon, propriedade surreal, onde passeavam girafas e elefantes, num zoológico privado.

O magnata, quem Mank adorava e depois veio a odiar, será o personagem central de “Cidadão Kane”. Escrito o roteiro, Orson Welles disse que usou o que queria e colocou novas cenas imaginadas por ele, tornando-se assim, portanto, o co-autor do roteiro. Afinal, o filme é do roteirista ou do diretor?

O roteiro de “Mank”, escrito por Jack Fincher, antes de sua morte em 2003, foi filmado como uma homenagem do diretor David Fincher a seu pai.

O diretor de “Mank” 58 anos, já recebeu 30 indicações ao Oscar, duas delas para melhor diretor. Pode ser que venha agora o tão merecido prêmio para quem dirigiu filmes como “O Clube da Luta”, “Zodíaco”, “Seven”, “Garota Exemplar”, “”Millenium – A Garota com a Tatuagem de Dragão” e séries de sucesso na Netflix como “MindHunter”.

Certamente Gary Oldman já é um forte candidato a melhor ator. E o filme já está na Netflix.

Vale lembrar que “Cidadão Kane” foi indicado para 10 Oscars e só levou o de melhor roteiro, que Mank teve que dividir com Orson Welles. Prestem atenção na última cena de “Mank” onde o próprio, empunhando o seu Oscar, fala o que pensa com a ironia fina que sempre usou para encarar a verdade.

Surpreendente.

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