A Última Nota

“A Última Nota”- “Coda”, Canadá, 2019

Direção: Claude Lalonde

“- Sem música nossa vida seria um erro, ” diz a voz da narradora que continua, “os filósofos alemães tendem ao exagero mas isso faz sentido. Tentei ser pianista… até perceber que tocar piano frente a um auditório, principalmente com milhares de pessoas, é colocar-se num lugar de extrema fragilidade. “

E vemos o pianista famoso internacionalmente, Henry Cole (Patrick Stewart), tocando para uma plateia atenta. Vestido num fraque impecável, com agilidade e força, ele executa o final de uma peça difícil.

Angustiado, ele se precipita para fora da sala e acende um cigarro. Respira fundo. Atrás dele vem correndo seu agente:

“- O que aconteceu? ”

“- Você se dá conta do que é tocar para tanta gente? Não vieram apenas para ver alguém tocar. Eles vieram por causa do perigo que eu enfrento. Vem para ver a tragédia do erro. “

Fragilizado, ele ouve a ovação da multidão. E volta para terminar o concerto.

No camarim, pessoas o esperam. Ele nota a moça bonita e jovem (Katie Holmes) que chega por último. E ela pergunta:

“- Por que a “Fantasia”? É porque se trata de um grito de desespero depois que ele se separou de Clara? “

Ele a olha com intensidade e diz:

“- Sabe o que Schumann respondia quando perguntavam isso para ele? Ele sentava no piano e tocava outra vez. ”

“- É verdade que o senhor não tocou por três anos? ” questiona outro dos presentes.

Foi a gota d’água. Ele sai irritado sem responder.

Quando volta ainda sem folego, batem na porta delicadamente. Ela entra e diz:

“- Meu nome é Helen. Desculpe por minha pergunta. Sou jornalista do New Yorker. Mas não quis me intrometer…”

“- Música nunca é sobre desespero. É uma celebração. Uma vitória. “

E vamos ver aquele homem importante e reservado, viúvo recente, aceitar que Helen, muito mais jovem que ele, entre em sua vida para ajudá-lo a se recuperar da tristeza do luto.

Belas locações em Nova York, Londres e principalmente uma cidadezinha nos Alpes suíços, Sils, que Helen apresenta para Henry. E ela conta do lago azul e de suas caminhadas em torno a ele.

Foi lá, diz ela, que Nietzsche se inspirou e construiu a ideia, olhando uma determinada rocha, do “eterno retorno”. O que leva Helen a se perguntar, como a narradora do filme, se o filósofo queria dizer que tudo se repete sempre ou que a vida de todos tem um ápice e quando lá chegamos está na hora de começar a viver outra vida?

Na cena final é o pianista Serhyi Salov que ouvimos tocar. Henry depois do concerto vai ao lago, encontra a pedra de Nietzsche, senta-se num banco e recorda a vida. E nós com ele.

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  1. o mistério do eterno retorno que ainda não entendemos.

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