Memórias de Verão

“Memórias de Verão”- “Geçem Yaz”,Turquia, 2021

Direção: Ozan Açiktan

Quase todo mundo se lembra da própria adolescência com saudades. Éramos belos, divertidos, vivíamos numa turma de amigos. Tudo eram risadas e um mal estar escondido.

É sobre essa ambiguidade que o filme do diretor turco Ozan Açiktan, 43 anos, se debruça. A camara tem imagens do alto, nas quais o mundo parece tão imenso e as pessoas uma coisinha à toa. E closes que mergulham no escuro dentro de seus personagens. Lá estão as dúvidas, os medos, as inseguranças, a tentação de acabar com tudo, o outro lado da vida sem preocupações aparentes.

O sol é onipresente nas praias e no mar azul de Bodrum, às margens do mar Egeu, em 1997. Não era um lugar sofisticado. Ao contrário.  A natureza permanecia intocável, as casas antigas e sem luxos. Os bares se aproveitavam do escuro da noite e da luz das estrelas para os embalos de todas as noites. Bebia-se muito e rolavam baseados.

Deniz (Faith Berk Sahin), que tem 16 anos, chegou com o pais e a irmã mais velha Ebru (Asilhan Malbora). Por dentro agitado, Deniz vai rever o amor de sua infância, Asli (Ece Çesmioglu), amiga de sua irmã, loirinha e atrevida. Segura de si. Pelo menos parece.

Sabemos como as meninas amadurecem mais cedo do que os meninos e Ali vive com o pai e vê a mãe muito pouco. Não sabemos o porquê.

Quando se reencontram, depois de muito tempo, ele parece uma criança e ela uma mulher adulta.

“- Você cresceu! As bochechas sumiram!”, diz ela.

E ele fica sem graça. Tinha sonhado com esse momento e aconteceu tudo diferente. Deniz se encolhe em sua timidez.

Na piscina do clube ele nada muito bem e é elogiado. Mas as conversas entre os amigos tem outro assunto:

“- Perdeu a virgindade?” pergunta um deles.

“- Eu não.  E você?”

O sexo borbulhando, hormônios exaltados e onde está a coragem de enfrentar a primeira vez? É como pular daquela rocha alta sobre o mar. Quem se atreve?

Deniz vai acabar pulando e percebe sua autoestima crescer e a confiança em si mesmo aumentar.

O pulo da infância para a idade adulta também se anuncia mas não é fácil nem obrigatório. Vai depender da vontade de enfrentar os perigos do mundo e do amor. É preciso poder fazer o luto pelo corpo infantil e ver os pais com outros olhos.

O filme de Ozan Açiktan é delicado e não tem tragédias para mudar o rumo da história. Tudo se passa com simplicidade e é internamente que o mundo pode ser visto como perigoso.

Trata-se de um filme de passagem de uma fase da vida, que não volta nunca mais, para outra com mais responsabilidades. Não há idade certa para isso acontecer.

E como o tempo passa rápido, 1997 parece longe para os que viveram o verão em Bodrum ou Ipanema.

E as memórias? São subjetivas. Cada um com a sua.

E entendemos a última frase de Deniz, voltando para a cidade:

“- Só não quero me esquecer.”

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