Toscana

“Toscana”-“En la Toscana”, Dinamarca, 2022

Direção: Mehdi Avaz

Quase todo mundo reconhece fotos da Toscana, Itália, mesmo que nunca tenha ido lá. Ciprestes centenários margeiam as estradinhas entre campos coloridos pelas plantações. Aqui e ali uma casinha branca de telhados ocre. Tudo lembra uma pintura.

Foi lá que o chefe de cozinha Theo (Anders Matthsen) viveu sua infância, que parece que ele quis esquecer. Por que?

Ele é um sujeito forte, meticuloso, obsessivo por medidas corretas de ingredientes em sua cozinha contemporânea de criações estéticas. Não abre nunca um sorriso. Nem quando é elogiado por suas duas estrelas no Michelin.

Parece que não há nenhum momento em que ele se descontraia. Não relaxa e nem mesmo aproveita de seus dons culinários para seu próprio prazer.

Theo precisa de dinheiro para finalmente ter o restaurante de seus sonhos e procura investidores. Naquela noite ele ia conhecer alguém interessado e, portanto, se preocupa em deixar tudo perfeito. Mas Theo se desentende com o investidor logo de saída e o sujeito sai dizendo que não volta.

E o chefe recebe a notícia de que seu pai, que não vê há décadas, morreu e deixou o Castelo de Ristonchi como herança. Não há tristeza no rosto do filho, que só vê uma oportunidade de fazer dinheiro vendendo a morada de sua infância, onde aprendeu a cozinhar com o pai.

Aos poucos vamos intuindo que está ali o problema do jeito fechado, de poucas palavras e raivoso. O pai havia abandonado o filho e a mulher e nunca mais voltou. Theo quer se ver livre daquele lugar de lembranças amargas e vai para lá com a firme intenção de vender. Se possível, logo. Quer distância daquele lugar.

Mas o que não estava no programa de Theo era reencontrar a menina Sophia (Cristiana Dell ’Anna), companheira de sua infância, que ele nem reconhece quando a encontra no restaurante do pai dele, que ela agora chefia.

O filme “Toscana” dirigido pelo iraniano Mehdi Avaz, 40 anos, quer mostrar que o reprimido sempre volta à tona quando menos se espera. Theo vai reviver o trauma da infância, que o deixou tão seco e duro e vai se expor ao sol, ao calor, ao sabor das frutas, das folhas e flores daquele lugar. Será que vai se lembrar de sentir o sabor   e esquecer de medir ingredientes? Irá recuperar e usufruir do prazer das pequenas coisas que existem numa cozinha italiana?

O filme é agradável e mexe com a gente. Quantas vezes deixamos de lado o mais importante dos ingredientes da vida? O amor?

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