O Último Dançarino de Mao

“O Último Dançarino de Mao”- “Mao’s Last Dancer”, Austrália, 2009

Direção: Bruce Beresford

Há histórias reais que, quando contadas no cinema, dão a impressão de terem sido inventadas.

Como é que um menino chinês pobre, nascido em 1961 na longínqua província de Shandong, na costa nordeste da China, vira um bailarino clássico de primeira grandeza nos palcos ocidentais?

Li Cunxin contou sua vida extraordinária no livro “Adeus China – O Último Dançarino de Mao”, que virou filme em 2009, dirigido pelo australiano Bruce Beresford, ganhador do Oscar em 1990 por “Conduzindo Miss Daisy”.

O filme começa em 1981 quando Li chega aos Estados Unidos contratado por 3 mêses para dançar em Houston, Texas. Tinha sido escolhido entre muitos na China e representava o seu país. Não era um turista.

Mas, o filme volta no tempo e vemos onde morava Li na China. Um vilarejo paupérrimo, cercado de altas montanhas. Sua família de lavradores mora em uma casinha acanhada, onde se apertam mãe, pai e seis filhos.

Nesse dia, a escola em que Li estudava aos 11 anos, é visitada por homens de Pequim que vem escolher meninas e meninos para um teste. Os escolhidos, em todo o país, por sua flexibilidade e força, seriam treinados para dançar na Companhia de Madame Mao.

Estamos em plena Revolução Cultural na China, presidida pela temida mulher do presidente Mao, cujo retrato onipresente também está na parede da escolinha de Li.

Quem já fez algumas aulas de ballet clássico sabe como é. Infindáveis exercícios na barra. Suor e lágrimas.

Agora, para alguém se tornar um primeiro bailarino, é preciso mais que determinação e repetições exaustivas de coreografias. Para alguém se tornar um solista, o ballet tem que ser a sua vida.

Li Cunxin conseguiu. E quando ele voa com graça, faz piruetas no ar e empresta emoção e talento aos personagens que ele dança com alma, sentimos que valeu a pena tantos sacrifícios.

Esse é o ponto alto do filme. O ator e dançarino Chi Cao, que interpreta Li Cunxin, foi escolhido pelo próprio. Aprendi com Luiz Zanin, do Estadão, que “os pais de Cao foram antigos professores de Cunxin na Academia de Dança de Pequim”.

Além de excelente bailarino, Cao tem carisma no palco e sai-se bem como ator.

Os trechos escolhidos para os momentos de dança são dos mais lindos da história do ballet clássico: O Lago dos Cisnes, Gisele, o “pas-de-deux” de Don Quixote, A Sagração da Primavera.

E, de quebra, assistimosa um vídeo com Mikhail Baryshnikov no auge de sua carreira, que encanta Li Cunxin e a todos nós.

Vale apontar também, como pontos fortes do filme, a reconstituição de época e a direção de arte esmerada.

O ponto fraco do filme são concessões à política americana da época da Guerra Fria, que soam megalomaníacas na realidade dos nossos dias. Pode até ser que isso esteja no livro de Li Cunxin. Paciência. Ele pode. Conquistou o direito de ser feliz na América.

Este post tem 0 Comentários

  1. Erandy disse:

    Comento depois por falta de tempo agora. bjo

  2. Sonia Clara Ghivelder disse:

    OLá Eleonora,
    A partir da lenda chinesa “Do poço para o mundo”, contada para o protagonista Li Cunxin, começa a história desse menino que saiu da província da Shandong no apogeu da revolução cultural capitaneada pelo ditador Mao Tsé Tung, e a temível Mme Mao, encarcerando o pensamento e o direito de ir e vir de milhões de chineses que sofreram torturas e prisões.
    Este filme impactante nos mostra através de Li Cunxin o contraste entre duas sociedades. A sociedade asiática com o seu regime ditarial e a ocidental com sua ampla liberdade de viver e de expressão. É interessante ver a inadequação de Li ao chegar naquele admirável mundo livre e o permanente retrato da sua família subserviente ao regime que lhes foi imposto.
    Li Cunxin é um personagem real, um excepcional bailarino, que fez brilhante carreira pelo mundo afora.
    A direção do australiano Bruce Beresford acompanha com profunda compreensão os passos do bailarino, os passos da sua vida e seus conflitos.
    O final do filme poderia ser menos óbvio mas atende à expectativa emocional do público.
    É um filme lindo que sem dúvida mobbiliza o espectador.
    O trabalho do bailarino e ator Chi Cao tem a delicadeza de seu povo.
    Saí emocionada.
    BJss
    Sonia Clara

    • Eleonora Rosset disse:

      Sonia Clara querida,
      Pois é. Tb acho. Esse filme pega a gente pela emoção. Esse bailarino extraordinário tem uma vida mt emocionante. Isso é raro pq a arte do ballet costuma pedir só sacrifícios e o nosso chinezinho conquistou o mundo, o amor e o sucesso. Teve a parte dele e lutou por isso.
      Dá uma lição de vida!
      Fora que a música, a barra, os ensaios, a construção da dupla e os ballets no palco são uma coisa mt linda de se ver!
      Acho que o público adora! Todo mundo sai com uma carinha feliz do cinema.
      Bjs

    • celia basto disse:

      Queridoquérrima Sonia,
      Em alguns momentos o óbvio cai bem…e só poderia ter esse happy end mesmo sequenciado pelo reencontro com o Teacher….aliás…ponto altíssimo do movie.
      Façamos assim….
      são tantas emoções ( com trilha deslumbrante diga-se de passagem )que me fez aplaudir na frente da televisão como se estivesse lá naquele instante tão espetacular!!
      Direção, atuação, fotografia etcetcetc…tudo very very bonito e na medida certa.
      Sei que verei de novo, porque é mais um pra se ter nas prateleiras móveis das lembranças e indiscutivelmente das boas escolhas!!
      Amei!
      Amei!
      Ufa..consegui chegar aqui…finalmente!!
      Bjos

      PS/ Eleonora…..mais uma vez obrigada pela oportunidade de dividirmos coisas tão bonitas, belas, autênticas e boas…até porque não seria diferente não???rsss
      Bjão pra voce…nessa carona double!!

  3. O legal é que a Eleonora repara em tudo.
    Não é a primeira vez que ela fala do comportamento do público q assiste o filme.

  4. jorge zalis disse:

    Cara Eleonora:
    Sai do cinema emocionadissimo e tambem soltei algumas lagrimas.Amuito tempo que qao me acontece.Sera que Freud
    explica?.
    Adoro teus comentarios.

    • Eleonora Rosset disse:

      Jorge querido,
      Como é bom verter umas lágrimas no escurinho do cinema!
      Antigamente tinha mais filmes assim…
      E,claro, existe uma explicação. A gente se identifica com os personagens e chora por eles, quando na verdade, estamos chorando por nós. Nesse filme choramos principalmente de emoção pelo que o bailarino chinês consegue para a vida dele!E talvez por sonhos nossos ainda não realizados…
      Sem esquecer a aparição inesperada e comovente da mãe no teatro.É uma excelente atriz que se destaca em uma ponta. Aliás ela apareceu com o filme “O último Imperador”. Bela!
      Bjs

  5. sonia Clara Ghivelder disse:

    Célia “Clever” querida,
    Que boa surpresa vc aparecer aqui nesse blog inteligente e elegante da Eleonora.
    Volte sempre!
    Bjss
    Sonia Clara

  6. Nanna disse:

    O que me irrita é que os filmes bons vão para horários péssimos ou lugares absurdos.17h40? Dureza.

  7. Cleo disse:

    Não vi o filme,porém li o livro…pra mim é um dos melhores livros que já vi,me emocionei muito,não conseguia parar de ler.nota 10000.

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