A Busca

“A Busca”, Brasil, 2012

Direção: Luciano Moura

O rosto expressivo de Wagner Moura, transtornado, em lágrimas, cambaleando no meio de uma estrada. De repente um baque. Atropelado?

Esse começo, com a cena que se repete no meio do filme, nos faz conhecer o estado em que se encontra o personagem Theo, médico, pai de Pedro (Brás Antunes), quase 15 anos e ex-marido de Branca (Mariana Lima).

Ele não se conforma com a separação. Está tão deprimido com a situação de seu casamento, que a raiva explode nele por quase tudo. Seu mundo desabou. Não presta atenção em nada. Só pensa em convencer Branca a voltar com ele.

Pior. Desconta o que lhe vai na alma em cima do filho, Pedro, que faz aniversário em breve e ganha uma cadeira do avô. Por que Theo não quer que o filho aceite o presente do pai dele?

Havia entrado na casa da família com a chave que ainda guardava, sem ter direito a ela, e reclamara com Branca, com um jeito bravo, que Pedro não tinha ido na reunião de intercâmbio para a Nova Zelândia.

Notamos por esse diálogo que Theo quer escolher à força um caminho para o filho.

Logo ficará patente que conversa do garoto com os pais não existe. E ele some no mundo sem deixar pistas.

É a história dessa busca que o filme do estreante em longas, Luciano Moura, vai contar. O roteiro escrito em parceria com sua mulher, Elena Soarez, descreve a viagem de um pai à procura do filho, por estradas de terra que o menino trilhou em um cavalo negro, que adotara na Zoonose.

Por que Pedro fugiu num cavalo? Ninguém sabe dizer até que a mãe, vasculhando desesperada o quarto do filho, encontra desenhos que fornecem indícios para que o pai possa procurá-lo.

À medida que essa busca se desenrola, Theo vai encontrando personagens e lugares que mostram sinais rarefeitos de Pedro. Isso vai levá-lo a também procurar dentro de si as memórias do filho perdido e Theo revigora assim, o laço que parece que tinha ficado esquecido dentro dele.

A viagem de carro pelas estradas pouco trafegadas entre São Paulo e Espírito Santo, é acompanhada por uma imersão de Theo em seu interior e, buscando o filho, ele vai reencontrar a si mesmo. Aliás, esse é sempre o destino das buscas que envolvem afetos.

O maravilhoso ator Lima Duarte, em uma ponta, mostra o seu talento e esclarece o enigma da fuga do garoto.

A vida tem desses desencontros e reencontros e “A Busca” mergulha nesse tema, envolvendo o espectador com emoção, paisagens pouco vistas, bela fotografia e música de Arnaldo Antunes, pai do adolescente que faz Pedro.

Como disse o próprio Wagner Moura, um dos nossos melhores atores, “A Busca” é “um filme brasileiro argentino”. E claro que isso é um elogio.

 

Este post tem 0 Comentários

  1. Maria Isabel Alves De Lima disse:

    Eleonora ,sempre me perguntei por que nos brasileiros , conhecidos mundialmente por nossa musica , ficava aquem em nossos filmes. Achava que era falta da poesia ,da delicadesa de sentimentos, enfim quase sempre mostrando episodios reais ou imaginarios grotescos , turbulentos muitas vezes sem finura, mais escrachados. Logico , ha excessões.
    O filme argentino chega na alma, por drama ou comedia sempre mais doce..sera o caso desse?
    Bjs Bebel

    • Eleonora Rosset disse:

      Bebel querida,
      Isso mesmo! Esse filme tem mt de ” argentino ” porque tem várias camadas. Há um auto-conhecimento que se processa para que o pai lembre-se de que não é sómente pai mas filho como o filho dele.
      Fala-se de introspecção, de uma busca dentro.
      Os filmes brasileiros quase sp são mt pra fora e pouco pra dentro. ” A Busca” procurou esse caminho de dentro para poder trilhar o de fora. Eu gostei mt!
      Bjs

  2. Yra doce disse:

    Eleonora,,,tenho um filho de acabou de completar 17 anos.

    E eu mais de 60.

    Vou deixar como herança para meu filho seu blog.

    Posso? rsrs

    Abraços.

    Yara Maria.

  3. Eleonora Rosset disse:

    Yra querida,
    Vc me emocionou com esse doce pedido!
    Alegrias para vc e seu filho!
    Volte sempre!
    Bjs

  4. Erandy Bandeira Albernaz disse:

    Belíssima resenha pra mim que ando uma manteiga derretida!

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