A Cabana

“A Cabana”- “The Shak”, Estados Unidos, 2015

Direção: Stuart Hazeldine

Se você quer ver o filme “A Cabana” e não gosta de saber sobre o filme antes de assistir, não leia essa resenha porque ela vai ter “spoilers”, ou seja, desmancha-prazeres. Mas quando tiver visto, volte aqui.

O livro do canadense William P. Young que inspirou esse filme foi um sucesso mundial. Vendeu mais de 22 milhões de exemplares, sendo 4 milhões deles só no Brasil.

Vi o filme, interessada em saber por que as pessoas se emocionam tanto com ele, apesar da crítica ter detestado.

A história envolve um personagem que teve uma infância difícil. O menino, filho de um alcoólatra violento, vê a mãe ser agredida e sente-se impotente e culpado por não poder ajudá-la.

Quando expõe para a comunidade da igreja que a família frequenta o que vê em casa, leva uma surra e, de novo, sente-se culpado por ter envergonhado o pai.

Mas, como toda criança tratada de maneira violenta, fica com muita raiva e vemos uma cena em que ele põe veneno na bebida do pai. Não sabemos se foi uma fantasia ou realidade.

Todo mundo fantasia, todo mundo sonha.

Mack, o menino do pai agressivo cresce com a culpa de ter matado, se não na vida real, mas em seu íntimo, aquele que deveria amar e respeitar.

Cresce, cria a própria família, mas sente-se em dívida. Quer ser punido.

Quando acontece o pior e sua filha pequena desaparece, eis o castigo que ele vai receber num misto de grande culpa, depressão e um certo alívio. Chegou afinal o que ele esperava que viesse. Mas que não o redime. Só o castiga, jogando-o numa depressão sombria e empurrando para uma solução fatal. Assim, não vê o caminhão vindo em sua direção na estrada e vai parar no hospital. Dias desacordado.

Perdido em seu duplo luto pelo pai e pela filha, Mack (Sam Worthington) vai sonhar que vê Deus, o Todo Poderoso que ele tacha de cruel.

Só que aquele que é o culpado de ter abandonado Mack e deixado sua filha morrer, é também aquela vizinha que o consolava na infância, com sua torta de maçã e palavras carinhosas.

Octavia Spencer, já oscarizada, faz com desenvoltura o papel de “Papa” (que é como a mulher de Mack chamava Deus) e ensina boas lições para Mack, que precisava pensar para poder sair da depressão e do luto.

E as lições que ele aprende envolvem primeiro ter que entender que ele pode se recriar, com Sarayou ( a japonesa Sumire Matsubara), depois, desenvolver confiança no outro, com o filho de ”Papa”, interpretado com simpatia pelo israelense Avraham Aviv Alush. A corrida deles sobre as águas do lago é um momento inusitado de companheirismo e alegria.

Depois disso, Mack será levado pela personificação masculina de “Papa” frente à Sabedoria (Alice Braga), para entender o senso de justiça e, finalmente, terá que se haver com a capacidade de perdoar.

Já sabemos que quem não perdoa, não será perdoado. Uma lei muito simples. O que condenamos nos outros, condenamos também em nós mesmos.

E eis que Mack é levado a refletir, e também a plateia, que somos os responsáveis por nossas escolhas. Não existe um Todo Poderoso cruel mas a maldade. E, se escolhermos a maldade, vamos arcar com as consequências.

Existe também aquilo que não podemos evitar. Nem Deus.

E isso não é desculpa para nos entregarmos à amargura. Qualquer vida aqui na Terra vai ter sofrimento, muito ou pouco. É a lei da vida. Que tem também prazeres para serem apreciados.

“A Cabana” nos reconcilia com a ideia da bondade, da força do amor, da possibilidade de procurarmos ser pessoas melhores.

Não é um grande filme mas é muito bom nas lições que ensina ou nos faz relembrar.

Este post tem 0 Comentários

  1. Manduka disse:

    Sua sinopse é ótima, mas vou contra a maré, achei o filme lugar comum, típica sessão da tarde!

    • Eleonora Rosset disse:

      Manduka querida,
      Tem muito de Sessão da Tarde sim! Mas não foi por isso que fiz a resenha do filme. Gostei da mensagem sobre a capacidade de perdão e a bondade.
      Bjs

  2. Às vezes, tb faço isso, vou assistir
    um filme ou ler um livro – por sinal
    tentei varias vezes ler algum do
    Paulo Coelho, mas nunca consegui
    chegar no fim. Vou tentar de novo –
    pra tentar saber pq as pessoas
    gostaram tanto.
    Respeito muito o gosto das pessoas,
    pq sei que é da categoria das coisas
    íntimas, do inconsciente mesmo, mas
    isso não impede que eu lastime muitas
    vezes essa adesão tão fácil ao piegas
    e ao mau gosto.
    Isso faço no silêncio do meu quarto…
    Mas, afinal, vc descobriu pq as pessoas
    gostam tanto.
    Às vezes acho que as pessoas não tem
    preguiça pra nada, só pra pensar e adoram
    soluções mastigadas entregues na bandeja
    em suas mãos.

  3. Tatiane Dos Santos De Jesus disse:

    Pra mim é um grande filme. Ótimo comentário! Muito esclarecedor.

Deixe seu comentário

Obter uma imagen no seu comentário!