A Filha Perdida

“A Filha Perdida”- “The Lost Daugther” Estados Unidos, Grécia, 2021

Direção: Maggie Gylenhaal

A identidade da autora do livro, lançado em 2006, permanece obscura. Muitos procuraram identificar quem é Elena Ferrante. Até agora, o editor chamou de especulações erradas todas as tentativas de decifrar o enigma.

Maggie Gylenhaal, sem se preocupar com quem é Elena Ferrante, manteve um diálogo por correspondência com a pessoa que escreveu o livro e recebeu o aval para a adaptação, com a única exigência de que ela fosse a diretora e roteirista do filme. É seu primeiro longa e ela se saiu de maneira esplêndida.

A primeira cena é misteriosa. É noite. Uma mulher chega até a beira do mar e cai desacordada. Sonho?

Numa praia da Grécia, Leda Caruso, (Olivia Colman, magnífica), 48 anos, professora universitária, parece pronta a desfrutar de férias merecidas. Suas malas estão repletas de livros e ela vai aproveitar a calma do lugar para estudar e escrever seus trabalhos. É uma especialista em literatura italiana e literatura comparada.

Mas dura pouco essa tranquilidade. Pesarosa, vê chegar uma família barulhenta de americanos, se sentindo donos do lugar. Will, o estudante em férias que cuida da praia, conta para Leda que eles vem todo ano e alugam a vila rosa no alto da colina. E recomenda cuidado para não se encrencar com eles.

Leda observa o tumulto e as pessoas. Mas quem mais chama sua atenção é uma jovem mãe (Dakota Johnson) com uma filha pequena, que traz uma boneca maltratada com ela.

A partir de um encontro de olhares, um vinculo se forma entre as duas mulheres. Nina, a jovem mãe, lembra à Leda sua própria juventude e Leda é imaginada por Nina como sendo alguém que ela poderia ser no futuro.

O mundo feminino vai ser encarado em suas camadas profundas e vai obrigar Leda a reviver um passado que ela quer esquecer.

À noite, Leda acorda com uma cigarra pousada no travesseiro a seu lado, no quarto de janelas abertas. Um sinal de algo estranho? Outro sonho?

Em “flashbacks” vemos o que era a vida de Leda aos 20 e poucos anos, com duas filhas pequenas que a solicitam o tempo todo e sua irritação quando tenta dividir com o marido essa invasão constante de seu espaço, o que a impede de se concentrar e estudar, mesmo com fones de ouvido.

Dia seguinte, na praia, Leda vê a pequena Elena enfiar os dentinhos no rosto da boneca semi destruída e encharcada da agua do mar. Isso incomoda Leda. Quando Elena some, a família entra em pânico.

Sentimentos ambíguos sobre a maternidade são universais e inconscientes. São fantasias sobre a mãe poderosa, doadora da vida mas que pode também trazer a morte ou pior ainda, infernizar a vida da filha. E, numa frase da jovem Leda (Jessie Buckley), percebemos uma relação difícil com a própria mãe.

Na praia, a pequena Elena é encontrada mas a boneca sumiu. A menina quer ela de volta e não aceita substitutas. A jovem mãe conta para Leda que ela não consegue dormir porque Elena não dorme e chora o tempo todo.

Vemos aqui um circulo doentio entre mães e filhas que pode se perpetuar. Culpa e remorso tiram o sono dos adultos envolvidos. Uma auto exigência de não repetir a própria infância, torna as crianças dessas mães verdadeiras tiranas sem limites.

Mas há esperança para Leda. Ela acorda para a vida depois de reviver traumas antigos, que eram feridas abertas.

A boneca bem cuidada é o objeto bom internalizado que vai substituir a culpa pelas filhas abandonadas.

Certamente esse filme de mulheres sobre mulheres, assinado por Maggie Gylenhaal, vai figurar em várias categorias no Oscar 2022. Até porque mesmo as pequenas pontas como a de Ed Harris, a jovem Leda na pele de Jessie Brickley e a fotografia belíssima de Helene Louvat merecem indicações.

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