Eleonora Rosset - Uma Psicanalista vai ao Cinema

18 Maio, 2014

A Recompensa

“A Recompensa”- “Dom Hemingway”, Reino Unido, 2013

Direção: Richard Shepard

Assista ao Trailer

O palavrório inicial assusta os ouvidos mais delicados. Uma louvação machista e narcisista, em tom exagerado, apresenta o personagem central, Dom Hemingway, que está na cadeia há doze anos.

Jude Law, num papel bem diferente dos que costuma representar, é ame-o ou deixe-o. Grosseiro, desbocado, agressivo, irritante. Ele é tudo isso e um pouco mais.

“- Sempre tive problemas com a minha raiva, você sabe, Dickie. Tentei ioga, CDs, aulas na prisão, mas ela ainda está dentro de mim…” explica-se ele ao melhor amigo (Richard E.Grant) depois de quase ter matado de pancada o cara que vivia com a mulher dele, já morta, assim que sai da prisão.

“- Perdi a infância de minha filha…” e olha o retrato dela.

Pronto, até as almas mais escandalizadas com ele, marcam um ponto a seu favor.

Mas, como exagera em tudo, num pub em Londres, tenta recuperar os doze anos perdidos em três noites de bebedeira, cocaína e mulheres.

Com Dickie no trem que os leva ao sul da França, onde Dom vai cobrar uma dívida, ele comenta a ressaca:

“- São cossacos sodomizando o meu crânio!”

E o tom desbocado e agressivo, principalmente quando bebe, continua, mesmo frente ao chefão russo (Demian Bichir), que pode matá-lo com um gesto.

Mas ele ficou calado por doze anos na prisão, não entregou ninguém e merece uma recompensa. Infelizmente vai durar pouco a alegria de Dom. Um acidente de carro, filmado de uma maneira original, vai ser a volta para trás da roda da fortuna.

Mas será que quem salva uma vida vai ser recompensado pela sorte no momento em que mais precisa dela?

O personagem de Jude Law tem uma reviravolta na vida e tem que escolher entre o afeto e o dinheiro.

Ele está ótimo na pele de Dom Hemingway, dirigido por Richard Shepard, que fez um filme com um visual atraente, trilha sonora bem escolhida e vontade de divertir a plateia.

Este post tem 0 Comentários

wilson-seramigo disse:

maio 21, 2014 às 3:08 am

Amor e Ódio ou como vc ‘disse’ “ame-o ou deixe-o”.
Até mesmo para o mais “grosseiro, desbocado, agressivo, irritante….tudo isso e um pouco mais”(sic); até mesmo para quem foi ‘mais odiado pela Vida’, como Dom Hemingway se definiu, merece(?) ganhar seu dia de resgate à normalidade, (neta na escola),…ou não?! Entendi essa sinalização na sua resenha, Eleonora.

Beirando o histrionismo quando ataca de raiva e parecendo um mendigo quando busca o resgate do afeto, Jude Law faz o seu Dom Hemingway dominar o filme.

Mesmo para “ouvidos menos sensíveis”, o êxtase inicial, a catarse do confronto exigindo o grau de ‘Recompensa’, o contato c/ a absolescência da idade, a busca do dinheiro e do afeto, são interpretados feitas no grito, mesmo que sussurado, (cena do restaurante).

Como na Vida, a alternância do Ódio com Ternura. Momentos bem mixados fermentando um bom & belo humor negro. Encorporando o espírito do personagem: (lá vái, segure-se!) – é preciso ser ‘um ser macho’ sensível para gostar do filme. Valendo para ambos os sexos. Mesmo porque o filme traz as qualidades cinematográficas que vc, Eleonora, destacou bem. Inclusive, a criação virtuosística do acidente que vc citou.
Enfim, havia gostado do filme, mas também um pouco não.
Sua resenha me fez decidir pelo ‘adorei o filme.’ Pronto!
Como sempre, sua ‘Psicanalista’ nos recompensa quando ‘vai ao cinema’.

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Eleonora Rosset disse:

maio 21, 2014 às 7:43 pm

Wilson querido,
Seu comentário/ resenha me divertiu muito!
Falou!
Bjs

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wilson-seramigo disse:

maio 22, 2014 às 3:01 am

Feliz, então, pois isso tudo, ‘além de tudo’, é uma grande ‘diversão’. Juro que não queria que soasse resenha, pois faço isso no meu blog, vc sabe. Amanhá vc poderá até checar por lá. Prometo que no próximo comentário meu o farei de jeito que pareça menos resenha, ‘pra não invadir a sua praia’. Sei que vc não liga. Mas quero que vc saiba. Não resisto em partilhar c/vc,(e os ‘Seus’ aqui),as emoções da telona. Obrigado e Bjs.

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wilson-seramigo disse:

maio 22, 2014 às 3:03 am

Feliz, então, pois isso tudo, ‘além de tudo’, é uma grande ‘diversão’. Juro que não queria que soasse resenha, pois faço isso no meu blog, vc sabe. Amanhá, (22/5), vc poderá até checar por lá. Prometo que no próximo comentário meu o farei de jeito que pareça menos resenha, ‘pra não invadir a sua praia’. Sei que vc não liga. Mas quero que vc saiba. Não resisto em partilhar c/vc,(e os ‘Seus’ aqui),as emoções da telona. Obrigado e Bjs.

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