A Vida dos Peixes

“A Vida dos Peixes”- “La Vida de los Pesces”, Chile 2010

Direção: Matias Bize

 

“É desconcertante rever um grande amor”? Chico Buarque afirma isso na canção “Anos Dourados”.

Eu diria que é muito mais. Principalmente se o amor perdura.

“A Vida dos Peixes” coloca um reencontro desses no centro do palco e, fazendo isso, adiciona outros sentimentos mais profundos ao de ser apenas perturbador.

Quando André, que escreve guias de turismo, volta à sua terra natal, o Chile, depois de dez anos na Alemanha, ele não veio para ficar.

No aniversário de um amigo, se despede dizendo:

“- Tenho que fazer as malas… Vou amanhã, já é tarde.”

Os amigos brincam comentando as bugingangas que ele leva na mala por causa de sua profissão.

“- Viajo, me pagam bem. E depois, turistas não querem nada de importante. É tudo sempre igual. Clichês. O que fazer com a família, as crianças…”

André ganha tempo? Certamente ele evita um assunto que paira no ar:

“-Você a viu?”

“- Não…”

“- Nós a convencemos a dar um pulo aqui. Espere. Há quanto tempo não a vê?”

“- Muito…”

Ele se despede dos amigos, da dona da casa e, de repente, na sala escurecida e enfeitada por lampejos de luzes coloridas, onde pessoas dançam, ele a vê. Dá passos para trás, abalado.

Entra em um quarto, como que fugindo e encontra uma velha amiga pondo o bebê para dormir. Conversam banalidades mas o tema reaparece:

“- Quando vocês terminaram, para mim foi muito incômodo. Não sabia o que fazer… Não queria tomar partido. Então me afastei de vocês dois. Um dia fui tomar sorvete com Bea e ela me falou de você.”

Ele corta e dirige a conversa para outro rumo.

Mas não vai dar para adiar aquilo que, fatalmente, vai acontecer. Lutando consigo mesmo, ele vai ao encontro dela.

“A Vida dos Peixes” é um filme raro. Com um roteiro brilhante, co-escrito pelo diretor de cinema chileno de 34 anos, Matias Bize e atores que mergulham sem medo em uma água turva de sentimentos contraditórios, coloca a nu, a alma dos personagens. Santiago Cabrera e Blanca Lewin vivem na tela, com sinceridade, no espaço de algumas horas, o que a maioria de nós só vive em pensamento.

E, por isso, nós na plateia, perturbados, aflitos, emocionados, somos testemunhas de que reviver o amor é um sentimento complexo. Atrai, na mesma proporção que afasta.

Rever o grande amor faz um convite perigoso para viver uma vida que não aconteceu e que, por isso, pode parecer mais convidativa do que aquela que vivemos.

Somos como peixes em um aquário presos na escolha de vida que fizemos?

Talvez… Certamente que sim para a maioria de nós.

 

Este post tem 0 Comentários

  1. Martha Salles disse:

    Oi Eleonora, fiquei com vontade de ver este filme, esta passando aonde? Bjo!!!!

  2. Eleonora Rosset disse:

    Martha querida,
    Infelizmente só em um cinema, CineSesc.
    Mas é na Rua Augusta, fácil de chegar com carro, ônibus, a pé etc e como é um filme mt bom, vale ir. Se vc for de carro, estacione ao lado ou nas transversais da Augusta.
    Bjs

  3. Luiz Roberto de Paula Dias disse:

    Pelos seus ótimos cometários Eleonora, o filme de grandes emoções, e com um apelo irresistível, um grande amor a ser revivido;e claro como você nos informa, um roteiro brilhante; ótimos ingredientes para ir vê-lo.
    Gosto do Cine SESC,que por sinal, traz-me excelente lembrança de “Mistérios de Lisboa” que me arrebatou, bjs

    • Eleonora Rosset disse:

      Luiz Roberto querido,
      O filme é mt bom. Vale a pena!
      E o Cinesesc é mt agradável. Pertinho, estacionamento ao lado e o principal, público educado, interessado em cinema.Coisa rara hoje em dia…
      Bjs

  4. alice carta disse:

    Gostei, deve ser ótimo. Beijos Alice Carta

    • Eleonora Rosset disse:

      Alicinha querida,
      O filme é daqueles que emocionam. Eu e minha irmã saimos com os olhos vermelhos. Mas às vêzes é bom ser tocada assim. Faz bem.
      Bjs

  5. No escuro, vc é fosforescente, Eleonora?

  6. Muito bom !! os diálogos sao ótimos e fazem vc entrar no filme , como se estivesse na casa da festa . Fora o que vc comentou acima , adorei o dialogo sobre sexo no quarto com os meninos e o das meninas tentando leva-lo a outra festa !!
    Trilha sonora show e uma boa harmonia fotográfica .
    Cinesesc eh sempre uma ótima alternativa , localização boa e o ingresso mais barato de SP !! Esta tendo no local uma exposição maravilhosa do Ziraldo , o que eh mais um atrativo para ir assistir este bom filme.
    Eleonora , assisti um filme/documentário ( Vou Rifar Meu Coração ) e me diverti muito !! Sobre cantores e Canções “bregas”deixo aqui mais esta dica !!
    Bacio

    • Eleonora Rosset disse:

      Marcelo querido,
      Concordamos em tudo!
      Tb adorei a passagem da conversa de sexo com os meninos e as garotas chapadas seduzindo o gato da festa!
      E o CineSesc é uma instituição na cidade de SP!Ultra civilizado e tradicional!
      Bjs

  7. marcia disse:

    O Cine Sesc é um cinema de rua muito bom. Exibe sempre ótimos filmes. Gostei do filme. Fui assistir por que pensei que reveria Berlin. Já morei em Berlin. O roteiro é interessante. O filme passa em uma casa, é denso, retrata reencontros, recordações, conflitos,e indecisão.Os diálogos divertidos, as vezes profundos retratam a vivência de cada um. Sensível.Recomendo.

    • Eleonora Rosset disse:

      Arcia querida,
      Que pena… Não tinha Berlim mesmo. É tudo rodado em tempo real naquela casa. Não dou informações desse tipo na resenha pq pode tirar a surpresa de ver o filme.
      Mas que bom que vc gostou! Só pessoas mt mau humoradas e que nunca tiveram um grande amor é que vão desprezar ” A Vida dos Peixes”!
      Bjs

  8. Luiz Roberto de Paula Dias disse:

    Ví há pouco Eleonora e gostei imensamente, os seu ótimos comentários, mais uma vez me fizeram ver o filme com outra perspectiva, os meus antecessores já descreveram o mesmo com propriedade; emoção transbordando e uma trilha musical ótima para criar o clima dos dois. Em uma cena, (não vou tirar o prazer de quem ainda não o viu) relembrei o dialogo de Cary Grant e Déborah Kerr em “tarde demais para esquecer”, embora os motivos fossem diversos..
    O Cine SESC tem toda uma logística que nos favorece, de fácil localização e sem dificuldades para estacionar. em resumo, foi uma ótima recomendação sua, obrigado, bjs

  9. Eleonora Rosset disse:

    Luiz Roberto querido,
    Pensei a mesma coisa que vc na cena que lembra “An affair to remember”!
    O filme é mt bom e sensível. Dificil ver cousas assim hoje em dia…
    E eu adoro o Cinesesc!
    Bjs

Deixe seu comentário

Obter uma imagen no seu comentário!