Alma Imoral
“Alma Imoral”- Brasil, 2019
Direção: Silvio Tendler
Um mar tranquilo cor de prata é o cenário que abre o documentário que é uma adaptação do livro do rabino Nilton Bonder, “A Alma Imoral”.
A peça teatral, adaptada e interpretada por Clarice Niskier, fez muito sucesso e também inspirou o diretor Silvio Tendeler nesse documentário que pode, num primeiro momento, parecer ser filosófico demais para o público que vai ao cinema.
Espere um pouco. Relaxe. Ouça as palavras que são ditas pelo rabino enquanto a imagem mostra ele se preparando para as orações da manhã:
“Há um olhar que sabe discernir o certo e o errado.
Há um olhar que reconhece os curtos caminhos longos e os longos caminhos curtos.
Há um olhar que desnuda, que não hesita em afirmar que existem fidelidades perversas e traições de grande lealdade.
Este é o olhar da alma.”
Com essa introdução, Nilton Bonder quer fazer o elogio da transgressão que amplia fronteiras. Diz ele:
“São as almas imorais que expandem a nossa consciência.”
Nos capítulos em que se divide o documentário serão explorados os mais diversos assuntos, vividos por pessoas guiada pela desobediência. Por que? Porque o interesse do corpo é sempre a preservação. A lei é do corpo. Enquanto que a alma não precisa seguir o corpo moral. Daí ser chamada aqui de alma imoral. É ela que nos impulsiona na necessidade de evolução.
Assim, desfilam perante a câmara de Silvio Tendler vários personagens: “Akiva, The Believer”, um rabino que toca o tambor, procurando a batida de Deus; Franz Krajberg, que já nos deixou, emociona quando fala que se interessa pela “saúde do planeta”: “Pego restos de queimadas para fazer esculturas que gritam”; Steven Greenberg, o primeiro rabino assumidamente gay, fala da tolerância; Uri Avnery defende a Solução dos Dois Estados em Israel e Palestina; Etgar Keret, escritor e cineasta, é a maior voz de sua geração e tem muito a dizer; Natali Cohen, artista anarquista, compõe monólogos muitas vezes proibidos; Michael Lerner é rabino e editor da revista “Tikkum” que não é uma unanimidade entre os judeus; Jack Gabriel traz o tema da doação de esperma; Rebbeca Goldstein, escritora e filósofa é admiradora de Spinoza; Eva Jablonka, é geneticista, e acredita que “adivinhações inteligentes criaram os seres vivos do planeta”; Lama Michel Rinpoche, é monge budista e nasceu judeu; Noam Chomsky, nome famoso, é crítico das religiões e da política de Israel; Sari Nusseibeh, fala da cidade na qual nasceu, Jerusalem, onde sua família guarda as chaves da região das mesquitas; os Combatentes da Paz, soldados palestinos e israelenses são parceiros contra a violência entre os dois povos e contam histórias emocionantes; Arkadi Zaides, é coreógrafo; Yscar Smith conta sobre sua transição de gênero; Mira Awad, cantora, se intitula palestina e israelense, e tem fãs dos dois lados do muro.
Como viram, uma lista de pessoas muito interessantes com entrevistas estimulantes,
E a Companhia de Dança de Deborah Colker aparece em várias intervenções, atraindo nosso olhar a cada passo.
“Alma Imoral” é instigante e inteligente.