Aproximação

“Aproximação” - "Disengagement", Alemanha/Itália/Israel, França, 2007

Direção: Amos Gitai

“Aproximação” (Disengagement, Amos Gitai, Alemanha/ Itália/ Israel/ França, 2007)
Postado em 2 de abril de 2010, às 11:00

Dois desconhecidos encontram-se no corredor de um trem. Ela é palestina, ele judeu.
Os dois tentam explicar ao guarda, que pede os passaportes deles, que “nacionalidade” pode ser um conceito abstrato.
-“Na verdade somos um povo nômade” diz ela.
Os dois viajantes aproximam-se e enlaçam-se em um longo e erótico beijo. Homem e mulher. Aproximação.
Aparecem os títulos na tela e fica claro que o nome do filme em inglês remete a movimentos de aproximação / separação. A palavra é escrita em duas cores e é cortada: Dis-Engagement.
O diretor é o israelense Amos Gitai que propõe um cinema político e ao mesmo tempo reflexivo.
“O cinema que me interessa é o que faz dialogarem estética e política“, diz Gitai em uma entrevista publicada na Folha.
A primeira parte do filme passa-se em um velório de um homem já velho que jaz sobre uma mesa em um apartamento europeu com sinais de decadência. Canapés de seda verde puida, cortinas de veludo vermelho desbotado, uma escadaria de mármore com uma bela grade de ferro dá para um hall desnudo. Cenário de morte. Separação.
A famosa soprano Barbara Hendricks canta lindamente um triste Mahler, sentada na posição de lótus, frente ao corpo do morto.
Uma menorá é percebida sobre a lareira e estranhos símbolos flutuam como móbiles sobre o corpo.
Aos poucos vamos percebendo que Ana (Juliette Binoche) perdeu o pai e recebe seu meio-irmão, Uli (Liron Levo), o israelense do beijo no trem, para o funeral. Aproximação.
Em uma interpretação belíssima vamos ver, ao longo do filme, uma mudança notável no humor maníaco da personagem de Binoche que, mais que em um velório, parece estar em uma festa. Salto alto, boca vermelha, vestido com uma fenda provocante, ela tenta negar a realidade da morte.
Jeanne Moreau, em uma ponta aproveitada com talento, faz Ana enfrentar o que ela teme: a responsabilidade por sua filha que vive em Gaza.
E aí começa a segunda parte do filme que combina com o nome com que foi apresentado na Mostra Internacional de São Paulo em 2007: “Retirada”.
Ana e Uli partem para o Oriente Médio onde, na faixa de Gaza, duas importantes missões os esperam: um terá que exercer separação, o outro vai viver aproximação.
Estamos em 2005 e os assentamentos de judeus ortodoxos estão sendo demolidos e o povo retirado do local.
Somos testemunhas aflitas dos gritos, medo, perplexidade e determinação que separam pessoas de seus lares e que, ao mesmo tempo, fazem outras voltar à mesma terra que consideram como sua.
O conflito no Oriente Médio é um dos pontos de maior dor e perigo do nosso mundo.
Aproximar-se desse tema e pensar, tentando separar-se de preconceitos e pré-julgamentos, é o único modo de contribuir, apesar da nossa impotência, para talvez sonharmos todos com uma solução possível.

Este post tem 0 Comentários

  1. Sylvia Manzano disse:

    Que filme complicado.
    Temo que nem com a detalhada explicação da Eleonora, vou entendê-lo.
    É um filme ótimo para preguiçosos como eu, que não conseguem entender o conflito no Oriente Médio pela via da leitura e nesse ponto o cinema é sempre a melhor maneira de ajudar-nos a entender.
    Já disse e repito, cinema deveria ser uma matéria no currículo das escolas, com posteriores debates a seguir.
    Eu via isso acontecer nos CEUSs da Marta, tanto com filmes, como com peças de teatro.
    Acabada a peça, o diretor, os autores e os jovens que tinham assistido iam debater sobre o que tinham visto.
    Bons tempos aqueles, quando a verdadeira função do cinema, do teatro, da música e da literatura eram levados à sério.
    Fico imaginando um projeto assim: Eleonora indo de CEU em CEU, levando filmes e discussões para a juventude.
    É emocionante a resposta dos jovens da periferia, tão diferente do tédio dos jovens da classe média e alta.
    Uma pena que isso foi retirado deles.
    Peço desculpas se viajei no comentário, mas é que uma palavra puxa outra e quando a gente vê, está de novo sonhando com o CEU.

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