Até a Eternidade

“Até a Eternidade”- “Les Petits Mouchoirs”, França, 2010

Direção: Guillaume Canet

Um “nightclub” em Paris. Música e risos. Homens conversam no banheiro. Um deles senta-se numa mesa mas logo sai, depois de beijar na boca uma garota que ele, visivelmente, não conhece.

Parece bêbado ou drogado porque sai meio que cambaleando do lugar. Põe o capacete e o vemos na sua moto, em uma Paris que amanhece, deserta.

A moto cruza a ponte sobre o Sena e um caminhão enorme aparece do nada. Ouve-se um estrondo. Gritamos juntos no cinema. Aconteceu uma tragédia.

A tela fica escura.

Quando voltam as imagens, estamos no elevador de um hospital e os amigos do motoqueiro (impossível não ter morrido, pensamos nós), revezam-se para vê-lo num leito de UTI, olhos fechados, rosto todo cortado, dentes quebrados, um colar ortopédico no pescoço e tubos por todo o lado.

Consternação geral e aquele clima…

Marion Cotillard, que faz Marie, parece ser a mais próxima de Ludo (Jean Dujardin), o acidentado. Seus olhos azuis transmitem preocupação.

“- Você está linda de máscara…Vou sair daqui amanhã”, sussurra Ludo no ouvido dela.

Na sala de espera, choro e palavras de consolo.

Já fora do hospital, os amigos de Ludo conversam:

“- É maldade deixá-lo”, diz um.

“- Esperem. Ludo é como um irmão. Mas não podemos fazer grande coisa. Ele está na UTI”, diz outro.

“- Vamos por duas semanas e voltamos. São as nossas férias. Que tal?”, arremata alguém.

“- É a melhor solução”, concordam todos.

“Até a Eternidade”, filme escrito e dirigido por Guillaume Canet, seu terceiro longa, tem como tema a amizade. Há quem considere esse sentimento como mais importante que o amor.

O grupo de amigos, todos entre 30 e 40 anos, sai sempre juntos para as férias na casa de Max (François Cluzet). Não abrem mão do mar azul, areias brancas e do barco que o amigo Max conduz, se exibindo e mandando em todo mundo.

Deixam Ludo na UTI porque não há nada a fazer. A não ser, talvez, esperar que ele melhore ou piore, em companhia. Mas como ninguém é santo, o egoísmo prevalece.

O filme de Guillaume Canet fala também sobre o que acontece quando amigos ficam juntos numa casa. Claro que vai haver conflito, confidências que esperam aprovação, segredos compartilhados, maus humores que transparecem mais do que nunca mas, haverá também, o afeto que une aquelas pessoas que estão lidando com a ideia da morte estar rondando.

Há ali um provável luto a ser trabalhado. E, por isso, os amigos se distraem com a sexualidade uns dos outros, os homens rivalizam entre si para ver quem é o melhor em tudo e as mulheres fazem o grupinho à parte para criticar.

Tudo muito humano, simpático e envolvente.

Há porém, a figura do pescador, que é o mensageiro da verdade que incomoda…

Talvez Canet tenha exagerado no tempo porque o filme tem 158 minutos. Mas, talvez não. Como aprofundar o olhar sobre os personagens e torná-los tão parecidos com a gente? Ele precisava de mais cenas.

O saldo é positivo para o marido de Marion Cotillard, aquele que acabou de deslumbrar as mulheres que o viram em “Apenas Uma Noite”, como o amante francês de Keira Knightley.

Bom diretor, roteirista e ator, o belo Guillaume Canet não aparece em “Até a Eternidade” mas merece a atenção do público que gosta de comédias dramáticas.

Ele tem também bom gosto. Escolheu Nina Simone para cantar “My Way” nas cenas finais. Levem seus lencinhos.

Este post tem 0 Comentários

  1. Ari persan disse:

    Adoro seus textos! Sempre nos inspira a antecipar nossa ida ao cinema! O de hj é me parece divino! Logo que eu ver posto meus comentários! Bjs

  2. Eleonora Rosset disse:

    Arizinho querido,
    Adoro sua presença amiga e carinhosa na minha vida!
    Este filme é sb a amizade e de como devemos respeito a todos, seja qual for sua escolha de vida desde que haja tb respeito pelos outros. Uma lição importante sempre!
    Bjs

  3. MArcinha disse:

    Eu tenho esse filme gravado em casa a bom tempo e nunca me deu vontade de assisti-lo ate ver sua critica e comentario. Mais uma vez thx

  4. Eleonora Rosset disse:

    Marcinha querida,
    Que sorte! Corre ver e depois me diga o que achou do filme, tá? Bjs

  5. Vc está cd vez melhor nessa qualidade na escritura, que eu mais gosto: vc dialoga com o leitor, a gente chega a ver vc sorrindo do lado de lá. Eu estou curiosa pra saber o que vai achar de ON THE ROAD. Adorei esse livro qdo li e adoro o Walter Salles como diretor, então juntou a fome com a vontade de comer.
    Bjo

    • Eleonora Rosset disse:

      Sylvia querida,
      Qdo eu dou uma desanimada, corro pra ver o que vc escreve sb o que eu escrevo! Que delicia de ler!
      E acabou de sair do forno o filme do Waltinho! Já está no blog.
      Leia e me diga, tá?
      Bjs

  6. Adorei este filme !! Os personagens sao mais importantes que a historia em si , um elenco excepcional com a grande Cotillard e Clozet em ótima forma !!
    Um filme engraçado , com muito charme , uma trilha sonora maravilhosa e emocionante .
    Um brinde a amizade , nao achei longo e sim dentro do seu tempo !! O saldo e muito positivo.
    Os franceses continuam brilhantes !!!
    Bacio

  7. Eleonora Rosset disse:

    Marcelo querido,
    Ainda bem que eu não escrevo para as paredes!Vc adorar o filme como eu adorei e sacar que os personagens são mt gente igual a gente, é a minha melhor recompensa para o trabalho que me dá esse blog rsrsrs
    Cinema é bom, né Marcelo? Agora estou de olho nas ” Bem Anadas” com a Deneuve e a filha dela com o outro Marcelo!
    Teve uma pré-estréia em horários horriveis mas na semana que vem vai ter!
    Bjs

    • Eleonora Rosset disse:

      ” Bem Amadas”!

    • Cinema eh uma grande terapia Eleonora !!!
      Sim estréia nesta sexta e tem a ótima Ludivine Sagnier e Louis Garrel no elenco tbm !!! Promete !!!
      Se vc gosta e Fellini nao deixe de ver uma exposição que esta tento dele no Sesc Pinheiros !! Vale a pena !!
      E se vc tiver tempo nao deixe de ver Febre do Rato do claudio Assis .
      Bacio

  8. Eleonora, é impressionante como voce descreve um filme, o roteiro, a biografia dos envolvidos… ADORAVEL !! Acho que voce deveria fechar o seu consultorio e ir para Holywood !!! rrsss Os seus pacientes vão me apedrejar agora…rrss
    Parabens querida, que bom que a revista Veja possa contar com pessoas do seu calibre para presentear o intelecto de seus leitores . Bjos cinefilos em voce

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