Atrás da Porta

“Atrás da Porta”- “The Door”, Hungria, Alemanha, 2012

Direção: Istvan Szabó

O amor tem muitas faces. Algumas difíceis de reconhecer.

Em “Atrás da Porta”, do diretor húngaro Istvan Szabó, falado em inglês, um sentimento raro se esconde atrás de um rosto severo e gestos
secretos.

Estamos nos anos 60 em Budapeste e um casal se muda para um bairro residencial de casas simples, árvores e jardins campestres.

Ela (Martina Gedeck) é escritora e procura na vizinhança alguém para ajuda-la no trabalho doméstico, para que possa escrever em paz.

Alguém lhe indica uma senhora que cozinhava e faxinava. Morava logo em frente, num apartamento no andar térreo. Quando falou com ela,
ouviu de uma pessoa zangada e olhos desconfiados:

“- Não costumo trabalhar para qualquer um. Quem são vocês?”

Louca,orgulhosa, esquisita, que mais adjetivos encontram eus vizinhos pra desqualifica-la?

O estranho é que ninguém podia entrar na casa de Emerenc, a não ser Viola, o cachorrinho adotado pela escritora, que logo se tomou de amores pela criada. Só obedecia a ela e a olhava com olhos de adoração.

Mas por que Viola? Foi Emerenc que deu esse nome feminino ao cãozinho macho. Mais uma de suas excentricidades, pensou o casal que apreciava sua maneira de arrumar a casa e sua cozinha.

Só a câmara mostra os gestos de carinho de Emerenc para com sua patroa. Pratinhos com quitutes que ela preparava e deixava silenciosamente na cozinha enquanto a outra trabalhava na máquina de escrever.

Um violino toca Schumann ao fundo e vamos acompanhando o nascer de um sentimento amistoso entre as duas, patroa e empregada.

Ao marido da escritora, entretanto, não escapa a qualidade de tais pratos de porcelana deixados em sua cozinha, o que engrossa a desconfiança que ele tem sobre o passado de Emerenc na época da Segunda Guerra. Ladra? Aproveitadora do infortúnio de ricos judeus perseguidos?

O certo é que Emerenc fora educada para esconder ou mostrar pouco sua natureza generosa.

Helen Mirren, 67 anos, atriz que dispensa elogios, ganhadora do Oscar por “A Rainha”, vive Emerenc com garra e alma.

O diretor de 75 anos, de quem nos lembramos do filme “Mephisto de 1981, inspirou-se na novela de Magda Szabó, nenhum parentesco apesar do sobrenome, e co-escreveu o roteiro com Andrea Veszits.

Uma bela história, contada com simplicidade e belas tomadas do passado, vivida por duas atrizes afinadas, que comove e nos faz pensar em sentimentos nobres escondidos em pessoas rudes.

Este post tem 0 Comentários

  1. Cecilia Assumpção disse:

    Eleonora,
    “Atrás da Porta” me comoveu bastante, como vc disse “o nascer de um sentimento amistoso entre as duas, patroa e empregada” só pode ser entendido para quem vive ou já viveu esta relação dentro de sua própria casa ……que pelo olhar já basta, uma linguagem não verbal poderosa !!! Bom filme para saborear …..

    • Eleonora Rosset disse:

      Sis querida,
      Acho que sim. Sentimentos fortes geralmente tem uma inscrição na vida pessoal. De qualquer forma, o filme é mt bom e fala sb a surpresa de sentimentos nobres aparecerem em pessoas rudes.
      Bjs

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