Em um Pátio de Paris

“Em um Pátio de Paris”- “Dans la Cour”, França, 2014

Direção: Pierre Salvadori

Todo mundo tem seus momentos de tristeza. Coisa passageira, com motivos.

Mas, quando não passa e se aprofunda, chamamos de depressão, que pode ser uma doença ou um estado normal do ser humano, uma fase que nos assusta e a quem está por perto.

Esse filme francês “Em um Pátio de Paris”, mostra de uma maneira simples e, com uma certa ternura, porque a depressão numa pessoa pode afastar os outros e levar a pensar que ela precisa de remédios ou até de internação.

Antoine (Gustave Kerten), uns quarenta e poucos anos, forte, barbudo, cabelos grisalhos, semblante sem expressão, larga sua vida de vocalista de uma banda, sem maiores explicações. Simplesmente vai embora.

Sentado no banco do parque, na verdade não está ali. Parece alheio a tudo.

Em seguida, o vemos numa agência de empregos onde tentam ajudá-lo. Consegue o de zelador e porteiro de um prédio de classe média:

“- Limpar, arrumar um pouco e dormir, é tudo que eu quero.”

“- Mas não vá dizer isso. Assusta as pessoas! Você tem que passar uma ideia de que é prestativo, gosta de contato humano, senão não vão dar o emprego para você”, avisa a moça da agência.

Mas tem mais gente deprimida nesse mundo do que Antoine imagina. Consegue o emprego e passa a conviver com os moradores.

Mathilde, mulher de meia idade, aposentada, bonita ainda (afinal, a atriz é nada menos do que a eternamente bela Catherine Deneuve), foge da depressão falando no telefone sem parar, se ocupando com uma associação, lendo para o vizinho cego, ou ainda se preocupando às 3 da manhã, em medir as rachaduras que apareceram na sala, alimentando ideias delirantes de que o prédio vai cair.

Antoine faz faxina e não dorme. Mathilde também não.

Outro dos moradores é um ex-jogador de futebol (Pio Marmai) que teve seus dias de glória e agora afunda na cocaína. Logo estão cheirando juntos, ele e Antoine.

Um dos visitantes, que acaba morando escondido no prédio é Lev, um sem teto que vende livros e filmes de uma seita estranha. Tem um cachorro enorme e não consegue outro lugar para dormir. Antoine não sabe dizer não.

Quando Mathilde piora muito e seu marido quer interná-la, ela vai se refugiar com Antoine, o único que a compreende. Os dois estão no mesmo barco.

Pessoas deprimidas estão com muita raiva comprimida dentro de si mesmas. Quando essa raiva se vira contra a própria pessoa, torna-se perigosa.

Pierre Salvadori, diretor e roteirista, 50 anos, faz um filme que, aparentemente, é comédia mas com toques de tragédia.

É a vida, sem muitos enfeites para  disfarçar o humano. Bom para aprender uma ou duas coisas sobre as outras pessoas e nós mesmos.

 

Este post tem 0 Comentários

  1. Rodolfo Müller . disse:

    Porque chegar nesse ponto !! Não conheço esse mundo tão pequeno porem de situações que preciso entender ! Vou ver o filme e homenagear a atriz Catherine Deneuve . Ela é maravilhosa . Obrigado pela belíssima resenha .

    O diretor Pierre Salvadori sabe criar uma atmosfera linda de comedia a uma tragédia

    • Eleonora Rosset disse:

      Rodolfo querido,
      O filme tem Carherine Deneuve e um assunto que deve ser pensado por todos nós. Por que as pessoas deprimidas são vistas sempre com cautela e não são acolhidas? Isso é grave porque, justamente elas, necessitam de acolhimento e compreensão. E como vc percebeu bem, há humor e ternura no modo como Salvadori conta essa história.
      Adorei seu comentário!
      Volte sempre!
      Bjs

  2. Yra doce disse:

    Percebo a raiva escondida,,,reprimida,,,
    Não a queria.Não a quero.
    Mas…mas…mas.

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