Era Uma Vez em…Hollywood
“Era Uma Vez em...Hollywood”- “Once Upon a Time in...Hollywood”, Estados Unidos, 2019
Direção: Quentin Tarantino
Quando o filme estreou no Festival de Cannes desse ano, o diretor pediu à plateia que não revelasse o final. Queria evitar que o “spoiler” tirasse a graça do filme?
Ora, todos sabem que uma das características dos roteiros de Tarantino, central em “Bastardos Inglórios”, é incluir uma “revisão” da história. E, se ele diz para ninguém contar o final, todos ficam curiosos e quem viu tem um trunfo na mão.
Todo mundo que era gente em 1969 soube do crime hediondo. Sharon Tate era mulher do diretor polonês Roman Polanski que havia dirigido “O Bebê de Rosemary” em 1968. E ela esperava o filho deles, que chegaria em breve. Estava com amigos na noite do crime porque Polanski tinha ido para a Europa e voltaria para o nascimento. Todos que estavam na casa naquela noite morreram de maneira atroz.
Foi chocante saber dos detalhes do crime que estavam em toda a imprensa internacional. Charles Mason, o chefe do grupo conhecido como “a família”, não estava presente mas foi o mandante. Um psicopata perverso.
Tarantino mostra o líder demoníaco dando uma passada rápida pela tela, interpretado por Damon Herriman. Seus seguidores aparecem mais. Todos muito soturnos, drogados e fanáticos. Eles não eram “hippies”, “as crianças da flor e do amor”, mas jovens sujos, sem rumo, que queriam fazer notícia, matar para provocar.
Eles não são os personagens principais do filme. Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robie é que são.
Leonardo DiCaprio é Rick Dalton, ator de TV, que fazia o homem mau de uma série de faroeste que já acabou. Decadente, depende de participações especiais no programa de outros. Mas ele ainda pensa em subir na vida, trabalhar no cinema e aparecer. Tem raiva do que aconteceu com ele.
Brad Pitt é Cliff Booth, homem bonito, corpão. É o dublê de Rick. Também quer subir na vida. É rude, violento e tem um cachorro que só gosta dele. Odeia outros humanos.
E Rick Dalton descobre que é vizinho de gente famosa. Quer ser convidado para uma festa e conhecer os VIPs de Hollywood e fazer carreira.
Até aqui só desilusões. Sharon Tate é a bela do filme.
E quem presta uma homenagem a ela é Margot Robbie que passa toda a beleza, leveza e inocência da atriz. Aquela que entra num cinema para se ver na tela. Extasiada com as imagens, põe os pezinhos nús e sujos na cadeira da frente e olha a tela e acompanha as reações da plateia com óculos da moda na época, grandes e redondos. Parece feliz.
O diretor Polanski (Rafal Zavierucha) tem uma ponta com sua bela mulher. Os dois confiantes no Aston Martin conversível, cabelos ao vento, vão a uma estreia.
“Era Uma Vez em…Hollywood”, um filme difícil e amargo, talvez queira contar da decepção que o cinema pode trazer para os que querem participar desse mundo de ilusão que promete fama.
O crime traz mais fama, parece insinuar Tarantino. Uma ideia diabólica mas que sabemos estar presente por trás de muitos dos massacres acontecidos nos Estados Unidos.
Eu assisti outros filmes indicados ao Oscar e finalmente hoje assisti “Era uma vez em Hollywood” e todos os outros que assisti, dos últimos tempos, indicados ou não ao Oscar, pareceram muito pálidos e embaçados perto dele.
O filme me deu uma estranha energia.
Assistia um pouco, parava e ia lavar as louças na pia da cozinha.
Assistia um pouco e ia regar as plantas na sacada.
Assistia um pouco e ia lavar uma roupa que tinha comprado e tinha um cheiro esquisito.
Varri a sala.
Troquei vaso de lugar.
Chato eu tá aqui me colocando como protagonista, mas foi o filme que provocou isso em mim.
Fiquei completamente ligada nas cenas, sem perder nada, achando engraçado ele filmar a pessoa começando pelos pés e pelo andar.
As pessoas não tem nenhum caráter, nenhuma boa ação é cometida, nenhum afeto, talvez algum do ator e seu doublé e do doublé com seu cachorro…
Mas foi um filme que me fez me sentir viva e me desculpo por estar sendo de novo referência, mas fazer o quê?
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Minha Sinopse
Nasci em São Paulo, Capital. Sou a primeira filha de sete irmãos nascidos de Yvette e Octavio Pereira de Almeida, casada com Ivo Rosset. Estudei Psicologia na PUC de SP e Direito no Mackenzie. Sou psicanalista, membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP. Atendo em meu consultório há mais de 30 anos. Sempre adorei cinema, desde as sessões Tom e Jerry, passando pelo Cine Bijou até o saudoso Belas Artes. Meus filmes preferidos: “Morte em Veneza” de Visconti e “Asas do Desejo” de Wim Wenders.
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