Jogador No 1

“Jogador No 1”- “Ready Player One”, Estados Unidos, 2018

Direção: Steven Spielberg

Estamos no futuro, 2045. A realidade da humanidade, se julgarmos por aquilo que vemos, é pobre e suja. Estruturas metálicas enferrujadas servem para empilhar “trailers” onde as pessoas moram.

“Drones” entregam comida. E, dentro das moradias acanhadas, vemos quase todo mundo usando óculos e mesmo roupas especiais, que criam uma realidade virtual.

Um garoto, Wade Watts (Tye Sheridan) nos conta que nasceu em 2027, época dura, onde todos lutavam pela sobrevivência. Seus pais morreram e ele foi morar com tia Alice. E acrescenta:

“- A realidade que vivemos é deprimente. Por isso todo mundo quer fugir para a realidade virtual. ”

Ele também nos conta que James Halliday (Mark Rylance) inventou um mundo virtual, o Oasis, onde todos podem fazer o que quiser e, melhor, ser quem quiser ou seja, os avatares. Mas tudo tem um preço e as moedas vem dos games, quando se ganha.

“- Ele era como um deus “diz Wade.

Ficamos também sabendo que, antes de morrer, Halliday, dono da Oasis, escondeu um “Eastern Egg – Ovo da Páscoa” em seu mundo virtual. Para chegar a ele será preciso encontrar três chaves, cada uma com um pergaminho que traz indicações enigmáticas. Quem chegar primeiro ao Ovo herdará a enorme fortuna de Halliday e o próprio Oasis.

O mau caráter é Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn) de uma multinacional que quer ficar dono da Oasis e persegue Wade e seus amigos Aech (Lena Waite) e Art3mis (Olivia Cooke), uma garota corajosa que vai mexer com o coração de Wade.

Steven Spielberg, 71 anos, baseou-se no livro de ficção científica de Ernest Cline de 2011 e recriou em imagens fantásticas o mundo virtual onde a humanidade prefere viver. Fogem todos assim de seus problemas reais,  divertindo-se com tudo que o mundo surreal de Oásis fornece. Em especial, muita adrenalina.

A cultura pop dos anos 80 é o material para a criação desse mundo fantástico dos games, que tem alusões ao cinema de Stanley Kubrick (“O Iluminado”1980), Robert Zemeckis (“Volta para o Futuro”, a trilogia de 1985, 1989 e 1990), “Saturday Night Fever- Os Embalos de Sábado à Noite”, personagens como o King Kong, Godzilla, Tiranossauro e Chucky e músicas de Van Hallen, George Michael e Blondie. E muito mais, claro. Não dá para perceber tudo porque o clima do filme é estonteante.

Há também alusões a personagens de antigas lendas e mitos: o nome do avatar de Wade é Parzifal, que com a mudança de uma letra é o nome do Cavaleiro da Távola Redonda que encontrou o Santo Graal e Art3mis, avatar de Samantha, amiga de Wade, soa como Ártemis, outro nome da deusa Diana, a caçadora.

Confesso que nunca joguei um vídeo game. Não sou dessa geração. Nos anos 80 a gente se divertia com a realidade que nós mesmos criávamos ou fugia também, mas através de drogas.

Spielberg, nesse filme barulhento, que deixa a mente zoando de tanta ação e cheio de surpresas, tem o grande mérito de chamar a atenção da moçada ligada em games o tempo todo, que viciam como uma droga, para o fato de que a vida acontece na realidade real, único lugar onde se consegue fazer mudanças consistentes que levam a progressos.

Incrível mesmo é o talento e a imaginação desse grande cineasta que assinou “The Post” no ano passado, um filme histórico importante que entrou na lista dos melhores do ano e agora nos brinda com essa fantasia extraordinária.

Parece normal para quem fez “Tubarão” em 1975 e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” em 1977, “Parque dos Dinossauros” e “Lista de Schindler”, ambos em 1993 e ainda “Resgate do Soldado Ryan” em 1998, “Cavalo de Guerra” em 2011, “Lincoln” em 2012 e “Ponte dos Espiões” em 2015, para só citar alguns da premiada e admirada filmografia dele.

Grande Steven Spielberg.

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