Liv e Ingmar – Uma História de Amor
“Liv e Ingmar- Uma História de Amor”- “Liv & Ingmar” Noruega, 2012
Direção: Dheeraj Akolkar
Quando o filme começa, vemos um jovem Ingmar Bergman (1918-2007) dirigindo uma cena de um de seus filmes:
“- Silêncio, por favor, rodando.”
Aparece na tela:
“Esta é a história de cinco décadas, sobre dois amigos. Uma atriz lendária e um mestre da cinematografia.”
E o nosso envolvimento começa a crescer, a ponto de querer que algumas imagens congelem na tela para poder desfrutar da beleza e da intensidade que passam.
Porque “Liv e Ingmar” não é um simples documentário. É a história afetiva de uma relação que cria arte quando imita a vida.
No litoral da Suécia, a casa na ilha de Faro, moradia do casal durante os cinco anos de seu casamento, se oferece à câmara que vem do exterior e entra por uma janela. Lá dentro, quietude, simplicidade e conforto nas madeiras e couros do mobiliário. A memória se espalha pelas fotos do casal nas paredes.
Acontece o primeiro close do rosto de Liv Ullmann, 74 anos, envelhecido e belo, onde brilham olhos de um azul raro. Ela conta:
“- Eu tenho tantas lembranças da ilha… Lá eu atuei, dirigi filmes, meus melhores amigos estão enterrados lá. Por um tempo, foi a minha casa. E lá encontrei Ingmar. Ele mudou a minha vida.”
Com amor e humor, Liv Ullmann revê sua vida diante da câmara de Dheeraj Akolkar, diretor indiano radicado em Londres, durante dois dias. Ele acrescentou à essa entrevista excepcional, trechos dos filmes de Bergman que fazem uma ponte com o que Liv conta e partes do livro dela, “Changings”.
Ficamos íntimos do casal, graças à generosidade com que Liv fala de sentimentos, descobertas e mudanças internas que experimentou na casa da ilha de Faro.
Ela, com 26 anos, apaixonou-se por ele, com 46 anos, durante a filmagem de “Persona” de1966. E, no desenrolar cronológico do documentário, Liv visita tópicos do seu relacionamento com Bergman. Amor é o primeiro:
“- Era como se eu estivesse vivendo entre paredes macias. Nenhum verão jamais foi igual a aquele…”
As cartas de Ingmar para ela são lidas por uma voz emocionada (Samuel Froler):
“-Por favor, fique comigo. Me abrace e me prenda em sua feminilidade e carinho.”
E Liv diz:
“- Eu precisava de carinho e ele de uma mãe que o amasse sem complicação. Sua fome de convivência era enorme.”
E ela conta do sonho que ele teve com ela, onde estavam “conectados dolorosamente”. E nesse lugar da ilha, onde ele contou o sonho para ela, foi construída a casa.
E outros sentimentos aparecem descrevendo essa história de amor: solidão, raiva, ciúmes, dor.
Tiveram uma filha mas se separaram:
“- O que eu levei embora comigo não foi a beleza da ilha. Parti com a solidão na minha mala e com o sentimento de que algo em mim mudara para sempre”.
Mas a palavra “longing”, traduzida por saudade, aparece na tela negra. E amizade é o tópico seguinte:
“- Durante um tempo estivemos conectados dolorosamente. Mas só quando terminou é que nos tornamos amigos de verdade”.
E quando a câmara mostra as cartas dele, com corações vermelhos, testemunhamos o lado macio da personalidade dele.
O “diário” dos dois, corações pintados na porta branca e que ele refazia até a sua morte em 2007, é o pano de fundo para Liv contar o que Ingmar lhe disse a respeito do sucesso dos filmes dele:
“- Tem a ver com você também. Você é o meu Stradivarius.”
E com os olhos brilhando confessa que foi o maior elogio que ouviu em sua vida.
E os olhos de Liv brilham porque uma história como a deles é para sempre.
Na plateia, estamos mudos e comovidos. Porque quanto mais íntimo, mais universal é o sentimento.
Eleonora
as vezes resito de ler seus comentarios antes de ver o filme.
Mas hoje não resisti.
estou indo agora ver o filme mais ansiosa e feliz por ter lido seu comentario.
Anna querida,
Conhecendo sua sensibilidade, fico contente em ter conseguido fazer vc ler a minha resenha e se entusiasmar mais para ver o documentário. Vc vai adorar! Eu sai do cinema andando nas nuvens!
Bjs
Que maravilha, sua resenha leva a gente pro cinema correndo. danadinha!
Li dela PENTIMENTOS, que é um livro belissimo, conhece.
Este filme eu ja vi q vou ficar vendo umas 2 sessões.
bjo
Erandy querida,
Foi a vontade que tive. Não sair nunca mais daquele cinema e ficar curtindo a sensibilidade e o talento dessa dupla genial.
Corra já para o ciinema amiga!
Bjs
Fomos ver o filme ontem e saimos “querendo mais”! Decidimos q. definitivamente é um filme p/se rever várias vezes. A fotografia é linda, a luz do lugar e a sensibilidade com q. a história é contada, a camara passeando pelo rosto de Liv, tudo é emocionante! Já tenho o hábito de ler a sua coluna antes de ir ao cinema mas desta vez fomos por livre escolha, e hoje ao ler a sua resenha fiquei muito feliz por sua análise sensível e informativa ao mesmo tempo. Muito grata por compartilhar conosco o seu amor pelo cinema.Carinho
Debora querida,
Esse filme é um divisor de águas para a gente saber se a pessoa é do nosso time! Todos os que apreciam a beleza, a inteligência e a suavidade, só podem adorar essa entrevista de Liv Ullman. E o diretor acertou em cheio na escolha das cenas dos filmes de Bergman que expressam o que ela conta sb a vida do casal.
É pra ver e rever, como todo mundo vem dizendo.
Bjs pra vcs
Tambem nao vi, pois estava na praia com netos, mas vou correndo depois das tuas palavras a respeito,bjs
Alice Carta
Alicinha querida,
Vc vai se emocionar!
Bjs
Eleonora
Fiquei morrendo de vontanda de ver este documentário.
Uma das histórias que mais acho divertida sobre o profundo Bergman é que no fim da vida ele só tinha uma coisa que o divertia : Não perder os episódios de DALLAS!!!
abs
Marco
Marco querido,
Todo gênio tem tb suas maluquices rsrsrs
Acho que ele tb tinha um lado comum, né?
Gostei da sua história!
Bjs
Agora vou assistir, pois o crítico da Folha me afugentou.Obrigada, adoro o casal. beijos
Carmen Sylvia querida,
Vá ver! O critico da Folha estava num dia de mau humor, acho.
Bjs
Sei que sou persona non grata nesse espaço, mas é irresistivel não comentar o sucesso alcançado por esse filme junto ao publico frequentador do blog, a “la salão de Guermantes”, tão previsivel, ja que a pobre Liv Ulmann desfia um rosario de sentimentalidades piegas (e muitas vezes perigosamente mentirosas) sobre sua conturbada vida com o clichê para ilustrados que é o cineasta Ingmar Bergmann (gosto dele, mas o “bouquet” alcançado junto a determinado “publico” me enoja, o pobre não merecia esse estigma, seu cinema é belissimo, porem cruel). Prefiro Liv Ulmann e seus textos sobre a fabulosa Karen Blixen, paixão que divido com ela, ou em “Mutações”, aonde pelo menos ela dispensa a pieguice. É uma pena que ela não conte sobre a obsessão de Bergmann por Bibi Anderson, um dos pontos de partida de sua relação com ele, egoismo absurdo do genio (até quando admite as dificuldades de sua vida em comum com Bergmann, Liv é terna, portanto falsa, mas a distancia no tempo talvez a perdoe por atitude tão magnanima, Ingmar teria detestado). Enfim, melhor mesmo, e que passou despercebido pelo tal “publico intelectualizado” (talvez por falta de propaganda pelos salões de Guermantes), foi “Bergman & Magnani – A Guerra dos Vulcões”, magnifico documentario de Francesco Patierno, sobre a história do imbroglio amoroso entre Ingrid Bergman, Anna Magnani e Roberto Rosselini, que resultou em guerra de celulóides em ilhas vulcanicas durante as filmagens paralelas de “Stromboli”, com Bergman dirigida e amada por Rosselini, e “Vulcano”, com Magnani explosivamente abandonada pelo então marido, o mesmo Rosselini. A narrativa dessa estupenda estória de amor, traição e por fim desengano, pathos humano absoluto, é sóbria e detalhada, mas ao mesmo tempo cumplice, e nunca, jamais, piegas. Até porque Ingrid Bergman e Anna Magnani são absolutas, tanto nas telas como nas vidas que tiveram, humanas. Faltou isso na narrativa de Liv, que no entanto é feita por encomenta para o gosto pequeno-burgues.
Cassiano,
Já que vc se intitula ” persona non grata” nesse espaço, deixe-me dizer que observo atrás de sua condenação aos apenas proustianos pequenos burgueses olhos e ouvidos desse canto, que vc gosta de ser acolhido por aqui.
Suas palavras são as que vc pode nos dar e prestamos atenção nelas. Qdo digo tudo no plural é pq aqui existem mts pessoas além de mim. E é bom poder expressar o que pensamos e saber que somos lidos, mesmo que por alguém que pense diferente de nós.
Isso serve tanto para vc qto para mim.
Eu vi trechos do documentário que vc cita, na aula magna que Martin Scorsese deu sb o cinema italiano. Tem tudo a ver com a gente aqui.
A expressão das diferenças é a riqueza das trocas que podemos fazer com os outros semelhantes.Mesmo quando encoberta pelo desdém, a comunicação de um pensamento é preciosa.
Por favor, continue a se expressar aqui. A voz dissonante ilina outros aspectos que talvez não tenham sido apreciados ainda.
Seja bem-vindo sempre!
Não ha desdém, Eleonora, apenas alguns moinhos que gosto de combater (nos dias que correm acho absolutamente necessario que a reação aconteça…). Quanto ao filme/depoimento de Liv Ulmann, gostaria de chamar a atenção para um ponto interessante citado em um dos comentarios (talvez sem o viés que atribuo, afinal todos nesse espaço estão sempre intoxicados de boas intenções): é o depoimento de uma atriz, e uma vez atriz, atriz para sempre. Ingmar Bergmann era um ególatra, como todo genio, e Ulmann tolerou ser dublê para o próprio companheiro, interpretando todas as mulheres, menos ela própria, e acho tremendamente desonesto da parte dela confeitar tal relação para torna-la mais “admiravel” diante do mundo. Tenho profunda desconfiança de pessoas pretensamente bem intencionadas, prefiro as ressentidas, são pelo menos mais honestas. E um casamento, sabemos todos, é tudo, menos poesia. Novamente citando outro Bergman, Ingrid sempre foi muito honesta sobre sua relação com Rosselini, alias com personalidade muito parecida com a de Ingmar, e assumiu sua responsabilidade no fracasso da relação, mas ela era uma mulher bastante corajosa, e honesta. É preciso ser muito tolo para se fiar em platitudes sobre um casamento, ou relacionamento, principalmente quando se tratam de personalidades tão peculiares. Quanto a minha vontade de ser aceito e lido pelo “salão de Guermantes” desse espaço, bem, Dante visitou o inferno, não visitou?
Cassiano,
Direto do ” inferno de Dante” (quanta honra), me vem a idéia de que vc nem viu o documentário mas gosta de polemizar, de ser do contra. Tudo bem pra mim.
Só uma pergunta. Vc conhece tão bem assim Liv Ullmann e Ingrid Bergman?
Não é uma grande pretensão saber quem é falso e quem é verdadeiro?
Tenho cá pra mim a tranquilidade de aceitar o que me dizem qdo a questão é pessoal. E Liv foi pessoal na entrevista. Atriz é sp atriz? Claro. Dá pra ser outra coisa? Uma pessoa sem contexto?
Mas acho que essa discussão se esgotou para todas as partes envolvidas.
Feliz Natal!
É certo que não assistimos ao mesmo filme. Retribuo os votos.
ELEONORA
FIQUEI ENCANTADA COM A LIV ULLMAN.ELA NOS COMOVE COM A TERNURA COM QUE ELA DESCREVE ESSA RELAÇÃO.SEM RECEIO DE MOSTRAR SEU ROSTO MADURO.BEM,ELA TEM A AUTORIDADE DE TER SIDO CHAMADA PELO BERGMAN DE SEU STRADIVARIUS.
Anna querida,
Um Stradivarius que toca uma canção triste, bela e com compassos bem- humorados tb!
Ela é uma pessoa inteligente e especial que valorizou sua proximidade com o gênio de Bergman que a fez crescer e observar sua pp natureza humana por outros ângulos. E conheceu tb os pps limites.
Achei comovente essa amizade proveitosa para ambos.
E foi um privilégio testemunhar essa entrevista rica em nuances.
Seu rosto de 74 anos, marcado pela idade e por uma vida rica de emoções é uma escolha dela. Acertada. Quem viveu o que ela viveu tem nas marcas do rosto toda uma história que não pode ser eliminada.
O Stradivarius soa melhor depois que envelheceu.
Que inveja!
Bjs
CARA ELEONORA,CADA VEZ MAIS APRECIO SUAS RESENHAS, COMENTÁRIOS E CLAREZA COM QUE VC ANALISA OPINIÕES DIVERGENTES,QUE POR VOLTAS NÃO DEIXAM DE SER BRILHANTES E COM OUTRO OLHAR QUE NÃO O NOSSO,COMO É O CASO DA DO CÁSSIO.FUI VER O FILME E ME ENCANTEI COM A GENEROSIDADE E PLACIDEZ COM QUE LIV CONTA SUAS MEMÓRIAS,DESTE RELACIONAMENTO TÃO RICO QUANTO CONTURBADO E POSSESIVO COM ESTE GÊNIO ABSOLUTAMENTE FASCINANTE MAS AO MESMO TEMPO APAVORANTE.ACREDITO QUE A INTENSIDADE DESTE AMOR FOSSE EM SEUS ANOS MAIS APAIXONADOS,TANTO SUBLIME QUANTO PROFUNDAMENTE ANGUSTIANTE .
ACHO QUE AS PESSOAS QUE TIVERAM O PRIVILÉGIO DE VIVER UM GRANDE AMOR,ESPECIALMENTE AS MULHERES SABEM O QUANTO ELE PODE SER TUDO ISTO.
O GRANDE GANHO AQUI A MEU VER ALÉM DAS DESCOBERTAS PESSOAIS DE LIV SOBRE SÍ É A MANEIRA COMO ELA COM O PASSAR DOS ANOS SUMARIZA TUDO NA BELEZA E TERNURA DE SUA INTERPRETAÇAO DESTA NECESSIDADE DE SERMOS AMADOS.
COMO VC BEM DIZ…QUANTO MAIS ÍNTIMO MAIS UNIVERSAL…
UM RELATO QUE ME TOCOU PROFUNDAMENTE! ESPERO SINCERAMENTE QUE ELA TENHA SIDO VERDADEIRA DEIXANDO A MULHER PREVALECER SOBRE A GRANDE ATRIZ,A ATRIZ QUE FEZ DE “CENAS DE UM CASAMENTO”A OBRA PRIMA QUE É .
AGORA PRECISO REVÊ-LO,POIS SEM DÚVIDA ALÍ ESTÁ O MAIS PRÓXIMO DO QUE FORAM, LIV E IGMAR.
GRANDE BEIJO
VI
Vi minha querida,
É isso mesmo! Que comentário feliz!
Nós mulheres somos atrizes quando falamos sb os nossos grandes amores?
Somos apaixonadas e apaixonantes como a grande Liv Ullmann que acredita que o amor pelos grandes homens de nossas vidas tem que ser celebrado ! Somos as grandes guardiãs do grande amor de nossas vidas.
Bjs
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Minha Sinopse
Nasci em São Paulo, Capital. Sou a primeira filha de sete irmãos nascidos de Yvette e Octavio Pereira de Almeida, casada com Ivo Rosset. Estudei Psicologia na PUC de SP e Direito no Mackenzie. Sou psicanalista, membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP. Atendo em meu consultório há mais de 30 anos. Sempre adorei cinema, desde as sessões Tom e Jerry, passando pelo Cine Bijou até o saudoso Belas Artes. Meus filmes preferidos: “Morte em Veneza” de Visconti e “Asas do Desejo” de Wim Wenders.
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