Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual

“Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual” – “Medianeras”, Argentina/Espanha/Alemanha, 2011

Direção: Gustavo Taretto

 

Perfis de edifícios na noite. De dia, prédios e mais prédios escondendo o horizonte. Uma cidade que poderia ser São Paulo mas é Buenos Aires.

Ouvimos a narração em “off ”:

“Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita. Sem nenhum critério constroem-se milhares de edifícios. Estilos diferentes convivem lado a lado.”

A voz acrescenta uma reflexão:

“Essas irregularidades estéticas nos refletem. Porque nossa vida é assim. Irregularidades estéticas e éticas.”

E pergunta: “O que esperar de uma cidade que dá as costas ao rio?”

Ao longo de três capítulos (Outono Curto, Inverno Longo e Finalmente Primavera), o filme “Medianeras” vai contar, com humor e leveza, através das banais pequenas tragédias quotidianas, as histórias de Martin (Javier Drolas) e Mariana (a bela espanhola Pilar Lopez de Yala). Os dois tem menos de 30 anos, são solteiros, belos e moram na mesma avenida. Esbarram um no outro mas se desencontram o tempo todo.

Ele vive na internet, desenha “sites” e quase não sai de casa. Quando isso acontece, leva uma pesada mochila nas costas, como se fosse passar perigo de vida numa selva. Luta contra a insônia. O único ser vivo que lhe faz companhia é Susú, a cadelinha da noiva que foi embora e não voltou.

Ela é arquiteta mas nunca construiu nada. Virou vitrinista e não consegue arrumar o apartamento para onde se mudou. À sua volta, em vinte e sete caixas de papelão, está embalada toda a sua vida. Acabou um relacionamento de quatro anos. Tem medo de elevador. O livro preferido é “Onde está Wally?”. Ela já achou todos, menos o da cidade. Procura com lupa e se desespera. Chora quase todo o dia.

Esses dois tem muito em comum: são solitários, moram em “caixas de sapato”(kitinetes), procuram alguém para amar e seus corações estão feridos por amores que não deram certo

E são vizinhos. Mas são como o sol e a lua. Um encontro impossível? Ou previsível?

Tudo começa a mudar quando ambos abrem janelinhas na “medianera” de seus edifícios. Naquela parede lateral que é usada para colocar anúncios imensos.

Gustavo Taretto, 45, faz sua estréia com esse longa. O filme já foi sucesso no Festival de Berlim, o que garantiu sua distribuição pelo mundo todo. Em Gramado levou três prêmios: melhor longa estrangeiro, melhor diretor e melhor filme pelo júri popular.

“Medianeras”agrada porque é sutil, engraçado sem apelações, triste sem ser pesado e fala de amor.

A inspiração do diretor e roteirista em Woody Allen é explícita. Vemos uma passagem de “Manhattan” nas TVs dos vizinhos, cada um em seu canto. Um jovem Woody Allen se encanta com Mariel Hemingway, ainda uma ninfeta.

E a gente fica torcendo por Mariana e Martin.

“Medianeras”mostra que seres humanos sempre buscam a mesma coisa. A diferença em nossos dias é que a internet pode ajudar ou atrapalhar.

Encontrar o que se procura vai depender da sorte e do talento de cada um. Não é verdade?

Este post tem 0 Comentários

  1. Sonia Clara Ghivelder disse:

    Olá, Eleonora
    Este é mais um filme argentino para refletirmos sobre a chamada era virtual e seus efeitos colaterais..
    O ainda jovem diretor Gustavo Taretto encontrou uma idéia genial a partir do autor e ilustrador ingles Martin Handford cuja obra em série fez grande sucesso na década de 90 a partir do livro “Were is Wally”. Esta foi a inspiração para a originalíssima metáfora do filme “Medianeras”. É uma nova sociedade na visão de Taretto com os jovens se desequilibrando nesse novo way of life.
    Vemos que os personagens desse filme são jovens enfrentando os seus sofrimentos em busca das suas identidades perdidas e descaracterizadas em função daquilo que se passa nas grandes cidades: Buenos Aires, São Paulo, Nova York, Tóquio. Ou seja , como diz Gustavo Teretto “as irregularidades urbanas” que acabam achatando e classificando os seres humanos. Então temos nos edifícios, além bos blocos,A,B,C as medianeras(media/metade) metades de paredes encobrindo as outras
    paredes. Taretto faz o agrado aos seus colegas Mariano Conh e Gaston Duprat “O homem ao lado,” na cena em que é quebrada a medianera em busca de um rayto de sol.
    Essas aflições pelas quais passam os seus personagens, ataques de pânico, claustrofobia, e tantas “bias” outras nos indicam a solidão em que vivem essas pessoas. A internet lhes possibilita tudo inclusive o sexo terapeutico atraves de uma erotização de imagens banais.
    O lay out do livro de Martin Handford nos é mostrado algumas vezes pela protagonista com a lupa procurando o seu amor no meio da multidão. Ouvimos o seu vazio entre outras músicas, “Traumerai” de Schumann.
    É um filme que se ouve mais do que se fala e o que se ouve através dos pensamentos é muito bom.
    Diretor de gde sensiblidade e criatividade. Atores interessantes e muito bem colocados. O figurino da atriz que faz dog girl nos sinaliza essa new society. (jeans rasgadíssimo, esmalte descascado, cara mal dormida e sexo blasé)
    O filme é ótimo!.
    Bjooos, para vc e nuetros amigos
    Sonia Clara

    • Eleonora Rosset disse:

      Minha querida Sonia Clara,
      Achei mesmo que vc iria gostar.
      Em meio ao mal estar da contemporaneidade há sp uma saída, uma medianera. Acho que o ponto forte desse filme é mostrar que essa busca natural ao ser humano não pode ser esquecida. Nem protelada. E é ela que encontra!
      Os homens andam meio perdidos?
      Bjs

  2. Sonia Clara Ghivelder disse:

    Seja como for, desejo muitos raytos de sol en las medianeras… para todos.
    Bjos,
    Sonia Clara

  3. edson disse:

    Antes da sua recomendação, eu já tinha entrado aqui no teu blog e inclusive assisti o trailer do ótimo (espero) MEDIANERAS.. inclusive, só a marquei no vídeo do filme francês por ter passado por aqui.
    Voltarei com mais calma…
    Abraços e é sempre bom revê-la…

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