Meu Anjo

“Meu Anjo”- “Gueule d‘Ange”, França, 2018

Direção: Vanessa Filho

Tão lindas. Já de início, a imagem da mãe e filha seduz. Marlene e Elli, louras, olhos azuis, pele branca. Mas há uma nota de estranheza. Porque a mãe parece a mais infantil das duas:

“- Estou tão nervosa… Não posso vacilar amanhã! Tenho medo de perder a hora! ”

“- Põe um despertador mãe”, diz a menina séria. Deve ter uns 8 anos.

“- Você é o meu tesouro que vale mais do que ouro! Você me ama? Muito, muito, muito? ”

“- Sim, sim, sim! ”

E essas falas inaugurais, à noite na cama, mostram que, apesar de tanto amor, a mãe se sente insegura e se refugia na confiança incondicional da filha. Fuma sem parar e bebe muito. Usa maquiagem carregada e parece desesperada para arranjar alguém que a sustente.

Dia seguinte, no casamento de Marlene, ela vai vacilar, como tinha medo. Mas antes, pede para Elli:

“- Meu anjo, vai pegar um copo de vinho para mim? ” e faz a filha beber um gole também.

Linda, de branco, tiara e véu, Marion Cotillard mostra sua versatilidade. Uma das melhores atrizes do cinema, Oscar por sua Piaf, ela sabe fazer Marlene, mulher vulgar e carente, mãe irresponsável, de um jeito que nos leva a pensar em como é que essa personagem foi criada. Como era a mãe dela? Tentamos entender sua doce crueldade ditada por um enorme egoísmo.

Elli (Ayline Etaix), percebe-se em seus olhos, adora a mãe, aliás o único adulto por perto. O pai não existe. E assim, aquela bela loura sedutora que a todo instante diz que a ama, é o seu farol no mundo.

Por isso é tão desesperador quando some a mãe-fada e Elli tem que se virar sozinha. No começo vai à escola, como se nada tivesse acontecido.

Com aflição, vemos a menina procurar o número do celular da mãe que só dá caixa postal. Sentada no sofá esperando horas e horas.

E o que falta de comida naquele apartamento, sobra em bebida. Imitando a mãe, Elli afoga suas mágoas com álcool.

Ela já tinha começado a beber, provando de todos os copos sobre a mesa, quando a mãe a levava junto em suas saídas noturnas. Uma amiga de Marlene percebe e Elli leva uma bronca não convincente. O modelo materno fala mais alto. E Elli cheira a bebida na escola. Sofre “bullying”. Mas nada da mãe.

Quando aparece Julio (Alban Lenoir), o mergulhador, também um desgarrado, Elli gruda-se a ele como se fosse uma tábua de salvação.

O primeiro filme da diretora Vanessa Filho, que escreveu o roteiro com Diastéme, tem o privilégio de ter Marion Cotillard e a expressiva atriz mirim.

Em dias de irresponsabilidade geral e adultos infantilizados, sofrem as crianças, parece querer dizer o filme, que infelizmente não aprofunda mais essa ideia.

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