Nada Ortodoxa

“Nada Ortodoxa”- “Unorthodox”, Alemanha, 2019

Direção: Marie Schreder

Quando Esther, 19 anos, tem sua primeira e única conversa antes do casamento com o futuro marido, ela avisa:

“- Sou diferente das outras, mas… normal ”, acrescenta ela, quando vê que os olhos de Yanki (Amit Rahar) se arregalam. O casamento é arranjado pelas famílias.

Pequena, magrinha mas determinada, Esty, como é chamada, mora com a avó que ela ama e a tia Malka.

É considerada órfã de mãe, mas na verdade tem um pai difícil e como sua mãe separou-se dele, não pertence mais à comunidade ultra ortodoxa na qual vivem e ninguém toca em seu nome.

A comunidade Satmar de Williamsburg, Brooklyn, Nova York, foi fundada por sobreviventes do Holocausto de origem húngara que se juntaram a outros judeus em Nova York, todos muito traumatizados pelos horrores que passaram na guerra. Só falam iídiche e são muito rígidos no que diz respeito à tradição e os preceitos da Torá.

É shabat quando o filme começa e Esty tem que correr para não perder tempo. Ela decidiu em segredo que vai para Berlim, já que seu casamento fracassou. Sai de casa sem nada na mão e leva apenas escondidos na roupa do corpo a passagem, documento, um pouco de dinheiro que ela consegue vendendo suas poucas joias e o retrato da avó querida.

Leah, mãe de Esty, mora em Berlim e ela é a única pessoa que poderia abrigá-la. Mas as relações entre as duas tem muitos impecilhos. O principal é a rejeição. Esty pensa que a mãe a abandonou e isso nunca foi negado por ninguém da família. Então, lá no fundo, Esther quer encontrar-se com a mãe e perguntar porque. Por que não a levou também com ela quando foi embora?

E outro obstáculo Esty vai descobrir quando aparece no apartamento da mãe em Berlim.

Vai ser difícil a adaptação ao mundo contemporâneo para quem, como ela, vivia como que numa ilha distante de tudo.

Mas Berlim tem algo precioso para Esty. Ela adora música, teve aulas secretas de piano e se emociona com o ensaio da orquestra de câmara do Conservatório, com jovens músicos de diferentes origens. Aproxima-se deles e é adotada.

Esther, uma garota em busca de si mesma, vai começar a acreditar que seus sonhos podem se tornar realidade.

A minissérie é baseada na história real de Deborah Feldman, principalmente na parte que se passa em Nova York. Em Berlim, as aventuras de Esther foram recriadas pela imaginação das escritoras do roteiro, a própria Deborah Feldman e Alexa Karolinski.

A produção alemã da Netflix é muito bem cuidada nos mínimos detalhes. Todos fizeram duas viagens a Nova York para observar e assimilar o modo de vida dessa comunidade. Houve esmero na criação dos figurinos e na decoração dos interiores.

As belas cenas do casamento foram filmadas em dois dias. E a diretora conta no “making of” do filme que isso seria impossível sem a ajuda de Eli Rosen, especialista em iídiche, que ensinou a língua aos atores e Jeff Willbush, ator alemão que nasceu numa comunidade Satmar e cuja língua natal é o iídiche, além de conhecer de dentro como é que é a vida nessa comunidade.

E claro, o filme ganha em emoção com a atriz israelense Shira Haas, que com seu talento conquista o espectador que torce por ela e pela realização de seus sonhos.

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