O Estranho Caso de Angélica

“O Estranho Caso de Angélica”- Idem, Brasil/Espanha/França/Portugal

Direção: Manoel de Oliveira

 

É uma lição de vida. Com 104 anos, o genial  diretor de cinema português, Manoel de Oliveira, consegue pensar e realizar um filme sobre a morte.

“O Estranho Caso de Angélica” parece que foi feito com aquela matéria prima que evitamos. O medo da morte e mais, do sofrimento ao ter que passar por ela, assusta a todos nós, seres humanos. Ora, Manoel de Oliveira está bem vivo mas mais perto dela e deve pensar nela mais do que nós, que achamos, mas não sabemos, que vamos viver mais do que ele.

A história do filme é simples e romântica.
Um fotógrafo (Ricardo Trêpa), se apaixona por uma moça morta (Pilar Lopes de Ayala). Ao fotografá-la na “chaise longue” de seda azul, onde parece dormir, com os cabelos louros emoldurando seu belo rosto, ele se assusta. Imagina, ou vê, pelo olho da camêra, que ela sorriu para ele.

E daí em diante, a vida não mais o encanta.

Sonha com Angélica e se vê voando com ela, que veio buscá-lo. Ao passar pelo rio, ele colhe uma flor para ela.

Parecem os noivos do quadro de Chagall, sempre voando, vestidos nos trajes do casamento.

Ao acordar, assustado grita:

“- Angélica!”

E esse grito vai ressoar algumas vezes durante o filme. Todos que cercam Isaac, o fotógrafo, pensam que ele enlouqueceu. Viera para documentar o trabalho nas vinhas da região do Douro, feita ainda de modo tradicional, com os camponeses cantando. Agora, esquece-se de tudo, só pensa nela.

Mas Manoel de Oliveira também deve sonhar com Angélica, o anjo da boa morte. Espera encontrá-la e unir-se a ela, num estado inebriado como Isaac. Sonho, desejo de morrer nos braços de uma morte feminina, encantadora, apaixonante.

Acho que todos nós, ainda, mais dia menos dia, vamos precisar de uma Angélica. Um anjo bom que nos faça esquecer que somos mortais e que tememos a morte.

Um pequeno filme precioso.

Este post tem 0 Comentários

  1. Priscila disse:

    Nossa, não acredito que descobri sua página só agora! Estou há mais de uma hora lendo suas resenhas e, puxa, adorei. Já anotei vários títulos para minha lista de “filmes que quero ver”. Parabéns. E um abraço. 😉

    • Eleonora Rosset disse:

      Priscila querida,
      Que bom nos encontrarmos! Espero que seja o começo de uma longa amizade, já que nós duas gostamos de cinema!
      Bjs

  2. Marco Antonio disse:

    Eleonora

    Ultimamente tenho usado o blog, como um guia de locação.
    Como não tenho muito tempo livre para ir no cinema, acabo vendo os filmes em casa mesmo( sei que não é o ideal pois nada substitui a emoção da tela grande, mas fazer o quê não é mesmo com essa vida corrída da gente)As vezes, vejo aqui o vou locar outras vezes, vou ler seus comentários depois de assisti-los.Tem vez que concordo outras não…
    Quando que vc vai transformar o blog em um quia impresso?Vai ser o maior sucesso.
    Abração
    Marco Antonio

    • Eleonora Rosset disse:

      Marco Antonio querido,
      Gostei de estar sendo sua guia no mundo do cinema. Com essa vida corrida que todo mundo leva, às vezes a gente não tem tempo de ficar procurando, né? Então aqui estou para ajudar. E sabe? Às vezes é saudável discordar do que eu escrevo. É uma visão pessoal minha.
      Volte sempre!
      Bjs

  3. Hugo Ferreira disse:

    Olá Eleonora,
    Folgo em resgatar a possibilidade de ler suas resenhas, autênticas balizas para quem quer assistir bons filmes.
    No caso em tela, Angélica é bem definida por você como um anjo bom. Penso que o medo maior que temos é do desconhecido.Talvez se soubéssemos como é estar morto…mas é fato que se perguntar quem quer morrer daqui a um minuto ou uma hora a unanimidade será…ninguém.Por conta disso, mais uma vez você foi precisa…mais dia , menos dia, precisaremos de uma Angélica…obrigado por mais essa resenha!

    • Eleonora Rosset disse:

      Hugo querido,
      Vc me compreendeu muito bem! E como essa passagem virá certamente, precisamos de uma Angélica para nos ajudar a enfrentar o desconhecido…Manoel de Oliveira é genial!
      Bjs

  4. Elói Leandro disse:

    Sou jornalista há 30 anos. Quero convidá-la para uma Conferência na PUC sobre a conexão do filme 7km de Jerusalém de Claudio Malaponti ( It 2006 ) recomendado pelo papa Emérito Bento XVI. Assista ao trailer ( já postado em sua pág. o FB )
    https://www.youtube.com/watch?v=w0Iw7o1p6eg&feature=c4-overview&list=UU69xOxGFMsrgrb9g7OcKwwg.

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