O Grande Mestre

“O Grande Mestre”- “The Great Master”, China 2013

Direção: Wong Kar-wai


Aqueles que amam o cinema conhecem Wong Kar-wai, 58 anos, diretor de cinema chinês, nascido em Shanghai e que mora em Hong-Kong, por seus belos filmes de amor.

Em Cannes 1997 foi considerado melhor diretor por “Felizes Juntos – Happy Together” e em 2000, seu filme “Amor à Flor da Pele – In The Mood for Love” ganhou o César, o Oscar francês.

Escolhido como presidente do Festival de Berlim 2014, seu filme “O Grande Mestre” abriu a Berlinale.

Era um sonho de Wong Kar-wai filmar a biografia de Ip Man, o lendário mestre de Bruce Lee, que morreu em 1972, aos 79 anos.

Já na primeira cena de “O Grande Mestre”, vamos ver uma luta espetacular, uma arte esquecida.

Quase no escuro, mas com uma iluminação que destaca os detalhes, admiramos um contra muitos, no meio da chuva torrencial. Sem nenhuma arma a não ser seu próprio corpo, suas mãos, braços, pernas e uma sensibilidade aguçada, o mestre vence a todos sem deixar cair da cabeça seu chapéu Panamá, que o identifica, nas cenas debaixo de uma água brilhante.

Ip Man (Tony Leung, belo e convincente no papel), o grande mestre, faz uma entrada triunfal.

A câmara de Wong Kar-wai acompanha a luta de perto e é estonteante ver o mestre em ação. Vai de um em um dos desafiantes, certeiro e econômico, deixando todos no chão.

O balé do kung-fu, fascina com sua precisão, agilidade e graça.

Vamos seguir a história do mestre em “flashbacks”. Majestosas as cenas que mostram sua aceitação como discípulo do mestre Gong Yutin, no fim dos anos 30, no sul da China. Salta aos olhos o respeito com que é tratado por seus pares, no bordel dourado, onde todos se reúnem.

O ponto culminante acontece quando ela chega, Er Gong (Zhang Zyi, maravilhosa), a filha do mestre morto, que aprendeu com o pai as 64 formas do bagua, outra linha do kung-fu.

A luta de Ip Man e a bela é a mais bonita do filme porque não é para que ninguém se machuque. É pura beleza e arte. Um homem e uma mulher, colocados frente a frente, para que o melhor domine o outro.

A câmara ágil de Wong Kar-wai segue colada aos perfis que se roçam, as mãos que sustentam o outro para que tudo possa recomeçar, os olhares que não se perdem, os voos na escada e a mocinha sobre o corrimão, qual pássaro pousada, vencedora, encantando os olhos da plateia e apaixonando seu antagonista.

Há cenas que são quadros com detalhes que se quer guardar na memória (fotografia deslumbrante de Philipe LeSourd), como a do antigo mestre treinando na neve do jardim, observado por sua filha pequena que vai aprender a arte do pai e não terá para quem passá-la, por ironia do destino.

Depois da cruenta guerra com o Japão e da Segunda Grande Guerra, o kung-fu torna-se uma luta mais popular e menos sofisticada. Vemos uma rua inteira em Hong-Kong com escolinhas que pretendem ensinar algo que não é mais a arte milenar.

Como tudo na vida, o kung-fu tem que mudar e é aí que aparece o menino que será Bruce Lee. Ele vai encantar o Ocidente com a beleza e a graça letal de algo que não conhecíamos e que o grande mestre ensinou ao seu discípulo mais famoso.

Bela homenagem de Wong Kar-wai à milenar arte marcial de seu país natal.


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