O Som do Silêncio

“O Som do Silêncio”- “Sound of Metal”, Bélgica, Estados Unidos, 2018

Direção: Darius Marder

No meio da fumaça colorida pelas luzes no palco de um clube noturno, um baterista brilha com seus cabelos descoloridos, peito nu com tatuagens e uma incrível presença. “Heavy metal”, ele mal deixa espaço para que se escute a voz da vocalista do grupo. O público vibra.

Ruben (Riz Ahmed) e Lou (Olivia Cooke) se amam e viajam num trailer de cidade em cidade onde se apresentam em shows.

Estão juntos há cinco anos. Mas naquela noite, o baterista sentiu algo estranho durante o show. O som parecia distorcido, abafado, como que vindo de dentro da água. Estava com problemas em escutar? Não era possível, pensa Ruben. Deve ser cansaço. E Ruben mergulha na negação.

Mas não dá para ignorar que ele está perdendo aquilo que o faz viver. Busca um remédio. Mas o farmacêutico diz que acha melhor consultar um médico.

E o diagnóstico cai como uma bomba. Depois da testagem, o médico diz que ele perdeu de 80 a 90% de sua audição. Seja por exposição contínua a barulho alto, quer seja por uma doença hereditária, ele não vai recuperar o que perdeu. Pior, o resto irá embora também. Ele terá que evitar todo tipo de barulho estridente.

Lou ouve o médico e se preocupa. Porque Ruben tinha sido viciado em heroína, apesar de estar limpo há quatro anos. Frente a essa notícia trágica, ela temia que ele voltasse a se refugiar nas drogas.

Estão ambos desesperados quando um amigo dela fornece a indicação de um lugar onde havia uma escola para surdos. É para lá que vão os dois à procura de uma ajuda.

Lou terá que aceitar a condição de deixar Ruben na escola de Joe (Paul Raci). Era o único lugar que aceitara Ruben e o ajudara com uma bolsa de estudos.

Podemos imaginar a decepção do baterista quando descobre, numa conversa com Joe, que também ficara surdo no Vietnã com a explosão de uma bomba, que o método criado por Joe não era o de tratar a surdez como uma doença. Longe disso. Lá todos aprendiam a conviver com ela.

Tudo vai mudar. Depois de muita raiva e explosões de agressividade, Joe o coloca num quarto só dele e lá ele deve sentar-se na mesa e escrever tudo que vier à sua cabeça. Isso, ensina Joe, vai ajudar ao fortalecimento interno e a enfrentar a realidade com coragem.

Não é fácil aceitar essa perda que Ruben está sofrendo.

Até que ele tenta frequentar a escola das crianças, aprender a linguagem dos sinais, comunicar-se e brincar com ela. Mas ele é um baterista. Foi a única coisa em que se especializou na vida. Como aceitar esse nunca mais?

O diretor e roteirista Darius Marder, em seu primeiro filme de ficção, acerta no tom intimista e sóbrio de “O Som do Silêncio”. Escolheu muito bem seus atores. Inclusive muitos deles são figurantes surdos. Riz Ahmed preparou-se com esmero para fazer Ruben. Estudou bateria por meses e pesquisou sobre a surdez. Mas, tudo isso não o levaria tão longe como foi.

O personagem colou-se em sua pele, em seus movimentos e principalmente em seu rosto. Seus olhos falam. Para interpretar Ruben ele se identificou com sua surdez e passa para o espectador essa certeza. E nós vivemos isso com ele porque o som que ouvimos é o que ele ouve também. Um achado genial.

Experimentar o barulho intenso e desconfortável que Ruben ouve, nos faz caminhar com ele nesse drama que ele vive: a busca do silencio. A esperança da quietude.

O filme foi indicado a seis Oscar: melhor filme, melhor ator para Riz Ahmed, melhor ator coadjuvante para Paul Raci, melhor roteiro original para o diretor e seu irmão Abraham Marder, melhor edição e melhor som.

Um filme raro.

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