O Tigre Branco

“O Tigre Branco”-“The White Tiger”, Índia, Estados Unidos, 2021

Direção: Ramin Bahrani

Nova Dehli 2007. O filme começa pelo acidente fatal. No carro dos patrões, ele fantasiado de marajá, como macaquinho de circo, no banco de trás, vê que eles bebem muito para festejar o aniversário de Pinky Madam (Priyanka Chopra). Ela insiste em guiar o carro e a fatalidade acontece.

Bangalore 2010. Balsan, agora um empresário rico, escreve um email para o Primeiro Ministro chinês que vem visitar a Índia para saber mais sobre a economia do país. Ele, que teve um início de vida paupérrimo e tornou-se um empresário de sucesso se oferece para explicar ao chinês como funciona a economia.

E escreve: “Os Estados Unidos já eram. Agora é a vez da Índia e da China. O futuro está nas mãos dos asiáticos, amarelos e marrons. Agora que o branco, o mestre anterior, arruinou-se em sodomia, smartphones e abuso de drogas, ofereço-me a contar a história atual da Índia, através da minha vida.”

E vamos para o norte da Índia, a pequena Lanxmangarth, onde vive a família de Balran Halwai (Adorsh Gourav, maravilhoso ator) sob o jugo da avó, a matriarca que decide quem faz o quê e quem se casa com quem. E fica com o dinheiro de todos.

Mas Balran consegue escapar do destino que a avó traçou para ele. Arranja dinheiro para aprender a dirigir e torna-se motorista, em Nova Delhi, do conterrâneo que cobrava taxas de toda sua aldeia natal. Um senhor feudal. Ficava com tudo.

Balran torna-se então motorista do filho do aproveitador que se enriquece às custas dos ignorantes que só sabem obedecer. E é claro que a família tem um esquema secreto com o governo. Ashok (Rajkummar Rao), o filho, estudou e viveu nos Estados Unidos e trata bem do motorista. Mas como se ele fosse um animalzinho de estimação. Sem o domínio de sua vida.

“Na Índia de hoje existem só duas castas: os com barriga e os sem nada, ” Balran começa a pensar.

Foi quando aconteceu a catástrofe e fizeram Balran assinar uma confissão para a polícia. E aqui, a inteligência de Balran, que o libertara da tirania da avó, vai mudar novamente o seu destino:

“Não sei se na fachada tenho um amor que esconde o ódio, ou um ódio que esconde o amor, “ pensa ele, refletindo sobre sua relação de subserviência, de seu eterno sorriso, com quem faz dele o que bem quer.

“Por que eu assinei aquela confissão? “

É nesse momento de “insight”, de descoberta de si mesmo, que Balran torna-se o dono de seu destino. A inteligência a serviço da sobrevivência. Já na escola da aldeia o professor profetizara frente ao bom aluno que ele era:

“- Você é o tigre branco, o único que nasce em sua geração.”

O filme está sendo comparado a “Parasita”, o sul coreano que ganhou os maiores prêmios do Oscar do ano passado e foi, inclusive, o primeiro estrangeiro a ganhar o de melhor filme. Porque a ideia central de mudança de domínio e poder faz ainda mais sentido no mundo da pandemia. O Ocidente que se cuide…

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