Bird Box

“Bird Box”- “Às Cegas”, Netflix, 2018

Direção: Susanne Bier

Oferecimento Arezzo

A sobrevivência é algo precioso para os seres vivos. Para nós, humanos, entretanto, existe uma saída trágica dessa vida através do suicídio. Que é sempre um enigma.

Pois “Bird Box” trabalha justamente o medo paralisante, o terror e o fim do terror através da morte, preferida à visão de algo extremamente perturbador. Esse algo provocaria o surto psicótico que leva ao suicídio.

O que é esse algo? O que ameaça e faz as pessoas se matarem? Não sabemos e não saber é um estado de sofrimento que vai se instalar ao longo do filme.

No começo, as irmãs Malorie (Sandra Bullock) e Jessica (Sarah Paulson) a pintora e a criadora de cavalos, não dão muita atenção ao que a TV está mostrando. Pessoas estão se matando na Rússia. Há uma epidemia de suicídios pelo mundo.

Mas Malorie tem uma consulta com a médica obstetra e Jessica larga tudo para acompanhá-la. Está preocupada com a apatia da irmã que não dá sinais de estar ligada em seu estado. Há algo de negação e de repúdio à gravidez não desejada e fruto de uma relação que não vingou.

A médica tenta alertá-la e até propõe o caminho da adoção, já que talvez Malorie não tenha nascido para ser mãe.

Já na saída do hospital as irmãs veem uma moça batendo a cabeça no vidro do corredor. Realizam rapidamente que a epidemia de suicídios tinha chegado. Nas ruas, carros batem, capotam, atropelam pessoas. Gente correndo sem rumo. Pânico.

Jessica, que está dirigindo o carro naquela rua cheia de gente enlouquecida, vê algo e põe o carro em situação de perigo. Malorie não consegue despertá-la de um estranho estado. Capotam mas sobrevivem. Quando Jessica olha Malorie com um olhar vazio e se deixa atropelar por um caminhão, é o nosso primeiro grande susto.

Malorie consegue ajuda e se refugia numa casa levada por um homem (Trevante Rhodes), não sem antes ver enlouquecer uma mulher que também vinha na sua direção. O marido dela (John Malkovich) assiste a tudo sem poder fazer nada.

O filme vai alternar dois cenários e dois tempos: a casa trancada e com as janelas vedadas, onde se refugiam algumas pessoas e o rio, onde, cinco anos depois, Malorie vai tentar sobreviver com duas crianças num barco a remo, com vendas nos olhos. Leva consigo uma caixa com pássaros porque eles sinalizam a presença do perigo ameaçador de que fogem. Este fato dá nome ao filme e também passa a ideia de confinamento a que os personagens estão condenados, já que não podem sair ao ar livre sem vendas e, assim mesmo, se arriscando à tentação de querer ver o que causa o perigo de morte.

Sandra Bullock, 54 anos, que já ganhou um Oscar de melhor atriz por “Um Sonho Possível” de 2009 e atuou em “Gravidade” de 2013, dirigida por Cuarón, está brilhante no papel de uma pessoa apática que passa a dar valor à vida e a sentir-se ligada, com todas as suas forças, ao objetivo de sobreviver com as duas crianças.

Susanne Bier, diretora dinamarquesa, 58 anos, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro com “Em um Mundo Melhor” de 2010. Ela consegue passar o clima de suspense e terror na medida certa em seu filme. O roteiro de Eric Heisserer (“A Chegada”) é uma boa adaptação do livro de Josh Malerman, dizem os que leram o livro.

Agora, quem não gosta de ver sangue e assassinatos, nem de sentir ansiedade, melhor pular essa produção da Netflix. Uma pena porque vão perder um filme muito interessante. Aos outros, eu recomendo vivamente.

O Retorno de Mary Poppins

“O Retorno de Mary Popkins” - “Mary Popkins Return”, Estados Unidos, 2018

Direção: Rob Marshall

Talvez não seja um filme para as crianças de hoje em dia. Mas certamente continua encantando uma geração que viu o original com Julie Andrews, em 1964, no papel da babá mágica e com espirito de aventura, que rendeu à atriz seu primeiro Oscar.

Quanto precisamos agora dessa mensagem de esperança, de que tudo é possível e de que as perdas não são aquilo que pensamos quando estamos deprimidos, mas a oportunidade de procurar as coisas perdidas no nosso coração.

A história se passa em Londres, durante o período da Grande Depressão, anos 30, no qual uma família está a um passo de perder a casa onde moram na rua das Cerejeiras.

Bem Wishaw é Michael Banks, viúvo recente e pai de três crianças, deprimido e endividado. Seus filhos, Annabel (Dixie Davis), John (Nathanael Saleh) e Georgie (Joel Walters), também sentem a falta da mãe, embora tenham a tia Jane (Emily Mortimer), irmã do pai e Ellen (Julie Waters), a empregada que os adora.

As coisas chegaram a tal ponto que falta comida na despensa e as crianças vestem roupa suja.

É então que vem literalmente do céu, com sua sombrinha voadora, a ex babá do pai e da tia, que não envelheceu um dia sequer.

Com ela, as crianças vão entrar na linha e começar a experimentar o afeto e a magia que o pai e a tia tinham vivido com Mary Poppins (Emily Blunt), anos atrás.

O filme é um musical e tem números de dança e canto muito bem executados por Lin Manuel-Miranda, o acendedor de lampiões e Emily Blunt, charmosa e com voz afinada, apoiados por coro e coreografias que incluem outros personagens.

Meryl Streep, por exemplo, participa de uma única canção mas ela é uma craque e consegue divertir a plateia como a russa Topsy, prima de Mary Poppins, que faz consertos em tudo, coisas grandes e pequenas.

Colin Firth é o mal intencionado Presidente do Banco que quer tirar a casa dos Banks e Dick Van Dyke é seu tio, afastado por causa da idade, que faz um retorno aos 92 anos, emocionando a todos, dançando em cima da mesa.

Com surpresa, vemos Angela Lansbury, aos 93 anos, cantando e vendendo balões mágicos no parque, que bem escolhidos, fazem a pessoa voar.

“O Retorno de Mary Poppins” é para gente que ainda tem boas lembranças de sua própria infância no século XX. Para os demais vai soar antigo demais.