Emily em Paris – 3a Temporada

“Emily em Paris – 3a Temporada”- “Emily in Paris ”, Estados Unidos, 2022

Direção: Andrew Fleming e mais cinco

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Tudo começa com um pesadelo. Emily Cooper (Lily Collins), vestida de cor de rosa, corações e plumas idem, sonha que está no alto da Torre Eiffel. Desiquilibra e cai.

Este será o destino de Emily nessa 3ª temporada?

Tudo começou bem. Leve e divertida, bem charmosa, Emily demonstrava aos franceses, no caso a dona da agência de publicidade para a qual veio trabalhar, que os americanos tem coisas para ensinar ao resto do mundo.

Nessa 3ª temporada, entretanto, ela parece perdida. Não consegue escolher entre as duas agências, a ”Savoir” de Madaline (Kate Walsh) e a de Sylvie. Arranja tempo para aparecer nas duas e inventa mentiras. Tem ideias como  ninguém.

Cobiça o chef Gabriel (Lucas Bravo) que namora Camille (Camille Razat), amiga dela, enquanto sai com Alfie (Lucien Laviscount).

Fazendo de sonsa charmosa ela consegue sempre o que quer. Quem viu as duas temporadas anteriores sabe bem disso. Mas agora, até aulas de francês ela tem que assistir para dar conta do recado. É isso ou não quer mais ir embora?

Lily Collins tem graça, beleza e está muto bem no papel da deslumbrada Emly. Por ela aguentamos a falta de assunto. E tem também aquelas tomadas aéreas de Paris, indispensáveis para os amantes da “Cité des Lumières”.

Quem se sai muito bem dessa vez é a melhor amiga de Emily, com quem ela divide o apartamento. Mindy Chen (Ashley Park) canta muito bem e tem os melhores looks dessa temporada. Bonita, simpática e boa atriz ela conquista espaços.

Por falar nisso, a figurinista da série, Marylin Fitoussi, erra quase que em todos os looks de Emily. Com exceção dos casacos estampados longos. Todo o resto muito vistoso, enfeitando pouco e chamando a atenção pelo lado excêntrico.

E quando as duas donas de agência vão com o mesmo vestido a um evento, fica fácil dizer quem é a francesa e quem é a americana. Só pelos acessórios.  Muitos na americana e quase nada na francesa. Um acerto da figurinista.

E como diz o ditado citado: “Não fazer uma escolha também é uma escolha”, Emily deixa rolar.

A série não se propõe a ser mais do que apresenta. É um passatempo leve e bem produzido. Sem drama ecom leveza.

E a quarta temporada vem no fim de 2023. Assim dizem.

Pinóquio

“Pinóquio”- “Pinocchio”, Estados Unidos, 2022

Direção: Guillermo del Toro

Quem nunca ouviu falar de um boneco cujo nariz crescia a cada vez que mentia? Esquece. Porque o Pinóquio do mestre do cinema, o mexicano Guilermo del Toro de “O Labirinto do Fauno” e ”A Forma da Água”, é diferente daquele criado por Carlo Collodi em 1883.

Escrito a quatro mãos, o roteiro de del Toro e Patrick McHale, traz  um Pinóquio mais alegrinho, mais parecido com uma criança real. Mas é uma história para adultos. Se bem que crianças também podem ver.

Talvez seja sombrio em certas passagens. Mas é a vida.

Perdas. Temos que enfrentá-las.

Há uma elaboração de alguns temas como os regimes autoritários (fascismo na Itália), perder-se em sonhos de grandeza, ingratidão e remorso. Culpa também. E desobediência, quando necessária.

Trata-se de perguntar: o que nos faz humanos? O grilo falante resume bem: “Esta é uma história de pais imperfeitos e filhos imperfeitos.”

Guillermo del Toro focaliza aqui pricipalmente essa relação. Gepeto tem um filho de 10 anos, Carlo, que é só amor e juizo. Quando uma bomba de um avião da Primeira Guerra atinge a igreja local, Carlo morre e deixa Gepeto desacorçoado e bravo. Entrega-se à bebida.

O luto que o pobre pai enfrenta é colossal. Nada mais lhe resta nessa vida além de visitar o túmulo do filho morto.

Então, a chegada do filho de madeira, um marionete sem fios, é uma benção para o velho marceneiro. Há luz novamente em seus olhos que querem ver um Carlo ressuscitado.

Há uma identificação quase que imediata com o personagem, porque apesar de não ser o filho perfeito, há uma alegria em Pinóquio que faz lembrar como fomos também crianças, com aquele encantamento divertido do boneco hiperativo e total falta de foco.

O grilo falante é o personagem que conta a história. É um intelectual. Um escritor pernóstico. Sendo pequeno, o menor de todos, tem que cuidar para não ser amassado o tempo todo.

A fada azul virou um cruzamento de esfinge e anjo e dá vida a Pinóquio, para que ele encha de luz a vida do pobre Gepeto. É a única voz feminina. Não seria a mãe de Carlo, que aparece para consolar Gepeto? Ela pede ao grilo que ajude Pinóquio a evitar o mau caminho.

Bem, isso só vai acontecer bem mais tarde, quando Pinóquio experimentar e aprender. Afinal ninguém nasce sabendo.

A animação (stop-motion) tem tantas belas imagens que é impossível não se encantar. E as vozes de atores talentosos criam e recriam personagens na história de Pinóquio. Assim, David Bradley (Gepeto), Gregory  Mann (Carlo e Pinóquio), Ron Perlman (o fascista), Ewan McGregor (o Grilo), Tilda Swinton (Esfinge turquesa), Cate Blanchett (Spazzatura, o macaco).

Alexandre  Desplat, compositor e maestro, assina a música, tanto a orquestrada quanto as canções, momentos de beleza e brincadeira.

Essa nova versão da história tão conhecida tem menos pesadelos e mais sonhos realizados. Um alívio nesse mundo de decepções em que vivemos.