Batman vs Superman: A Origem da Justiça

“Batman vs Superman: A Origem da Justiça”-“Batman vs Superman: Dawn of Justice”, Estados Unidos, 2016

Direção: Zack Snyder

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Num mundo violento, as pessoas, além de ficarem paranoicas, precisam acreditar que existe alguém que os protegerá. Um “salvador da pátria”, messiânico, é o perigo que pode surgir e confundir os desprotegidos.

A tentação de aderir fanaticamente a quem promete uma solução para o desamparo pode levar ao engano. E isso serve tanto para as pessoas do nosso mundo, como para as cidades de Metropolis e Gotham, onde vivem  Superman e Batman.

Na verdade, a proclamada luta do título do filme entre os dois tem como base esse perigo ao qual aludi acima.

O confronto entre eles é algo preparado durante todo o filme do diretor Zack Snyder. Vai ser o ápice final?

Na verdade, o personagem principal é Batman (Ben Affleck, arrasando no papel), o vigilante, que começa a ter dúvidas sobre quem é o Superman.

Sabemos que o menino Bruce Wayne perdeu os pais num assalto, quando saiam do cinema. A cena do bandido atirando, em câmara lenta, as pérolas do colar da mãe voando e rolando pela calçada, o pai estendendo a mão para ele, impotente, nunca será esquecida pelo menino traumatizado.

Em meio ao cortejo que levava seus pais para a igreja e o serviço fúnebre, ele não aguenta e sai correndo pelo bosque. Numa queda espetacular, cai na caverna dos morcegos, que serão sua marca no futuro.

Criado pelo mordomo da família, Alfred Pennyworth (Jeremy Irons, secretamente soberbo), seu fiel companheiro e conselheiro de tantas lutas contra criminosos, Bruce Wayne é agora o dono da empresa que leva o seu nome. Maduro, não é mais o “playboy” da juventude. Menos impetuoso, e mais cético, tem pesadelos que substituiram os sonhos da infância, quando os morcegos o levavam para a luz.

Ao presenciar na rua a destruição causada pela luta do Superman contra o vilão Zod, em cenas onde prédios são destruídos e uma nuvem de detritos preenche o ar (fazendo lembrar do 9/11), Bruce Wayne consegue salvar algumas pessoas mas o prédio onde fica sua empresa é atingido e ele começa a pensar sobre o que está acontecendo.

Passam-se 18 meses e um episódio envolvendo o Superman e sua namorada Lois (Amy Adams), que fazia uma reportagem na África, causa morte de civis num tiroteio entre guerrilheiros.

Superman (Henry Cavill, bem apagado e inexpressivo), que era visto como um protetor, passa a ser chamado de vilão pela imprensa e televisão. E as multidões que o adoravam começam a suspeitar que um ser alienígena não pode ser boa coisa mesmo. A xenofobia, citada de passagem e a fé cega que cede à desconfiança fanática, são temas conhecidos no mundo atual. No mundo dos heróis, atinge o Superman.

Tudo isso é fomentado nos bastidores pelo vilão Lex Luthor, interpretado por um Jesse Eisenberg de cabelos revoltos caindo nos olhos, roupas transadas, trejeitos e requebrados estranhos e uma fala de frases entrecortadas. Bem surtado.

E claro, a ação é de doer nos olhos. Tanto na luta dos dois heróis quanto nas cenas finais contra o gigante Apocalipse. Incluída numa ponta, a Mulher Maravilha, a sedutora israelense Gal Gadot, mostra sua beleza e prepara a plateia para seu próximo filme.

“Batman vs Superman: A Origem da Justiça” é o primeiro de uma série que reúne vários heróis na “Liga da Justiça”, que vem para as telas, ainda sem data.

Apesar de muito longo nos seus infindáveis 153 minutos, o filme de Zack Snyder tem cenas atraentes, que não precisavam de 3D e um roteiro que tem ideias boas, nem sempre compreensíveis, entretanto, pelo modo como se desenrola a narrativa.

Mas os fãs vão gostar.

Conspiração e Poder

“Conspiração e Poder”- “Truth”, Estados Unidos, 2016

Direção: James Vanderbilt

O pano de fundo dessa história real, acontecida há 11 anos atrás, é a reeleição de George W. Bush em 2004, para a presidência dos Estados Unidos. E tudo se passa com a equipe de repórteres do mais famoso programa de notícias da TV americana, o extinto “60 Minutos” da CBS, que tinha na época como âncora, Dan Rather (Robert Redford).

O filme, adaptado do livro “Truth or Duty – The Press, the President and the Privilege of Power”, da ex-produtora da CBS News, Mary Mapes, conta a história do ponto de vista dela (Cate Blanchett).

Um dos repórteres da equipe que produziu a reportagem com a notícia-bomba que o presidente Bush teria escapado do serviço militar para não ir para o Vietnã, conta que a produtora Mary Mapes se inteirara de tudo isso em 2000 mas que a produção do programa não foi para a frente porque Mary perdeu sua mãe naquela época. Recordem vocês que foi nesse ano a eleição de George W. Bush que concorria com Al Gore para a presidência.

Tudo se baseava em conversas e documentos que Mary conseguiu de sua fonte, que davam conta de que, embora alistado na Guarda Nacional nos anos 70, Bush não fora avaliado por não estar presente em nenhuma das ocasiões em que foram feitas tais avaliações. Ora, esse tratamento diferenciado, que não só Bush mas outros rapazes ricos conseguiram, era uma blindagem para tirá-los da lista dos que iriam lutar na guerra.

Era um escândalo para os americanos cujos filhos morreram ou voltaram estropiados física e mentalmente dessa guerra, onde o país fora derrotado pelo povo vietnamita. E tudo isso a meses da pretendida reeleição de Bush, atual presidente dos Estados Unidos, responsável pela guerra contra o Iraque.

Desde o recebimento dos documentos até conseguir produzir o programa, com atestados de especialistas confirmando sua validade, passaram-se 15 dias. Mas depois da vitória de Mary Mapes, viria um pesadelo que ela, nem ninguém, poderia imaginar.

Cate Blanchett, 47 anos, dá vida e energia à produtora do programa da CBS, encarregada de pesquisar notícias, buscar provas e conseguir fontes seguras, ajudada por uma equipe jovem que ela mesma escolhera: Mike Smith (Topher Grace) e Lucy Scott (Elizabeth Moss). Casada e com um filho pequeno, era vista como alguém que tivera uma infância difícil com um pai tirano e violento. E daí sua ligação paternal com o âncora do programa, bem mais velho que ela.

Dan Rather tinha a responsabilidade de levar a notícia ao telespectador. Era a cara do programa e confiava em Mary de quem era próximo. ”60 Minutos” gozava de grande credibilidade e era assistido por milhões de americanos. No filme, Robert Redford , 80 anos, empresta carisma necessário a essa figura lendária da TV americana.

Como “Spotlight”, o ganhador do Oscar de melhor filme do ano, que trata de jornalismo investigativo em jornal, “Conspiração e Poder” retrata o mesmo na TV. Só que aqui há uma derrota.

Mary Mapes foi demitida da CBS com sua equipe e Dan Rather aposentou-se meses depois. A notícia incomodava o poder e o destino deles estava selado. Bush ganhou as eleições.

O filme do novato James Vanderbilt tem um ritmo acelerado e trata de um assunto que não é familiar ao público brasileiro. Assim mesmo, vale a pena ver a atuação de dois grandes do cinema, mostrando que nem sempre a verdade interessa aos poderosos.

Aliás, nunca ninguém conseguiu provar que a história contada por Mary Mapes fosse falsa.