Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força

“Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força”- “Star Wars -The Force Awakens”, Estados Unidos, 2015

Direção: Direção: J.J. Abrams

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Levou um tempinho, mas aquela antiga emoção conseguiu ser recuperada. Confesso que foi quando vi Harrison Ford que meu coração se aqueceu e pude voltar às imagens do filme como se reencontrasse um velho amigo.  Afinal, 38 anos é muito tempo.

Mas acho que esta sensação de precisar dos velhos e bons personagens como Han Solo (Harrison Ford), a princesa Leia (Carrie Fisher) e Chewbacca, não fui só eu que senti. Sou fã da trilogia e para me interessar por esse novo episódio, passado tanto tempo na minha vida e na deles, algo tem que servir de âncora para as memórias e para que seja criado um espaço para o novo.

Dos personagens de agora, a que mais me seduziu e atraiu minha emoção foi, sem dúvida, a Rey (Daisy Ridley, 23 anos, estreante em longas). Mocinha bonita, valente, bem informada, atlética e inteligente, ela encarna o ideal feminino contemporâneo. Com seu jeitinho competente, autossuficiente mas também simpático, apesar de um pouco tristinha, principalmente no começo do filme, é ela que nos leva para os novos cenários.  É com ela que conhecemos os novos personagens. Ela é a nossa guia, nesse mundo antigo e novo.

Um dos novos personagens que faz par com Rey é Finn (John Boyega), um soldado da Ordem que passa para o outro lado. Como Rey, ele também não conheceu seus pais porque foi roubado de sua família e treinado para ser um Stormtrooper.

Um achado é o personagem do novo dróide que também nos cativa, BB-8, duas bolinhas, a cabeça e o corpo rolando, falando uma língua que só Rey entende e que é disputado por todos, já que leva em si um segredo da Resistência.

Mas o R2-D2 também aparece para fazer uma parceria inusitada. E o velho C3PO, todo dourado e com corpo e cara de gente, está de braço vermelho, não sabemos nem lembramos o porquê. Mas é bom revê-lo.

O vilão pertence à agora chamada Primeira Ordem, antigo Império, chama-se Kylo Ren (Adam Driver), é moço bonito mas corta o nosso coração com a cena mais triste do filme.

“O Despertar da Força” não tem exagero de cenas feitas por computador, o que é muito bom, porque nos devolve o clima original da história, contada de uma forma diferente das artificialidades atuais. É claro que há voos espetaculares, fugas e perseguições assombrosas mas o forte continua sendo a boa e velha simpatia e torcida pelos nossos heróis. E a emoção e o nó na garganta não passarão de moda nunca.

Por essas e por outras, não me arrependi de ter ido ver o filme dublado, porque não consegui as entradas que eu queria para o primeiro fim de semana de estreia em São Paulo. Cinemas lotados em todas as sessões.

Valeu.

Carol

“Carol”- Idem, Reino Unido, 2015

Direção: Todd Haynes

Tudo começa num bar, uma cena que vamos ver de novo perto do fim do filme. Logo, um longo “flashback” vai contar a história de Carol (Cate Blanchett) e Thérese (Rooney Mara).

Em tudo diferentes, a loira e a morena se conheceram numa loja de departamentos de Nova York, anos 50, onde Thérese trabalha na seção de brinquedos. Miúda, rosto de boneca, cabelos semi longos numa fita e franjinha, ela usa um gorro de Papai Noel, como todos os funcionários da loja, na semana do Natal. Veste-se em preto e branco e não está maquiada.

Carol é alta, loira, sofisticada e extremamente sedutora. Seu casaco é um “golden sable” que nela, combina com tudo. Até com sua natureza selvagem. Nos cabelos, traz um aplique gracioso, da cor da blusa presa com um broche precioso, bem diferente do gorro de Thérese, o que sublinha ainda mais a diferença social entre as duas. Bem cuidada no mais ínfimos detalhes, Carol é a imagem da perfeição burguesa.

Ela procura uma boneca para sua filha mas o brinquedo está esgotado. Pergunta então a Thérese o que sugeriria em troca:

“- Um trenzinho. Sempre quis um quando pequena.”

É o primeiro sinal de uma possível intimidade entre as duas, sinalizada pela pergunta da mais velha e pela resposta sonhadora da mulher mais jovem. E então, Carol “esquece” suas luvas sobre o balcão.

Nada é por acaso nesta cena imaginada por Patricia Highsmith (1921-1995), escritora americana, autora do livro “The Price of Salt” de 1953, no qual o filme de Todd Haynes se baseou. E, no entanto, a história entre as duas começa por acaso.

Na troca de olhares intensos de Carol e os mais tímidos e enviesados de Thérese, adivinhamos que há uma grande atração entre aquelas duas. Algo muito forte vai acontecer. Todos os elementos principais foram apresentados.

E, na plateia, sentimos aquele desconforto que aparece nas pessoas sensíveis quando adivinham sofrimentos. Tanto nos anos 50 do século passado como agora, pessoas que são como Carol e Thérese não podem viver sem sobressaltos. A homossexualidade ainda é um tabu. Principalmente quando se trata de mulheres. Tanto que Patricia Highsmith, uma autora respeitada, teve que adotar um pseudônimo, Claire Mogan, para escrever a história do romance entre duas mulheres.

Até quando as pessoas vão se incomodar com o fato de que existem mulheres como Carol e Thérese?

Mas até por isso, “Carol” é um filme bem-vindo. Ajuda a chacoalhar a mentalidade tacanha de alguns e talvez abra caminho para um sentimento de compaixão para com todos aqueles que precisam viver amores proibidos e, portanto, mais complicados e sofridos.

O diretor californiano Todd Haynes, 54 anos, fez um filme de uma beleza invulgar e soube dosar todos os elementos para que a plateia possa perceber o nascimento de uma história de amor, suas dificuldades e sua força.

Tecnicamente falando, o filme é bem trabalhado nos detalhes com o cuidado de não cair no puro esteticismo. Há uma magnífica recriação de época pela designer de produção Judy Becker, a fotografia de Edward Lachman encontra ângulos, closes e cores perfeitas na tradução dos estados de alma das personagens, os figurinos de Sandy Powell mostram a evolução psíquica das duas mulheres e a troca entre elas: Thérese amadurece e desabrocha e Carol abandona uma frivolidade defensiva, que já não lhe serve.

As duas atrizes estão esplêndidas. Percebe-se que viveram suas personagens com entrega total. Cate Blanchett também foi produtora do filme e faz Carol com paixão. Rooney Mara revela-se um talento à altura do que é solicitado. Ela é a mais equilibrada das duas personagens e, mesmo assim, quanta vibração ela empresta à sua Thérese.

Muitos prêmios virão. Merecidos.