A Grande Aposta

“A Grande Aposta”- “The Big Short”, Estados Unidos, 2015

Direção: Adam McKay

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Sabe aquele sonho da casa própria que todo mundo tem?

Pois é. Pode virar um pesadelo, quando a ambição aumenta e encontra pessoas de má fé, prontas a emprestar força perversa para uma avidez desmedida.

“A Grande Aposta” mostra que vivemos num sistema financeiro alimentado por ganância e corrupção, com total desprezo pelo cidadão comum que precisa de bens para viver e sentir-se feliz assim.

Mais. Existem saqueadores que seduzem e tiram o que podem das pessoas mais ingênuas. Ricas e pobres.

Todo mundo já ouviu falar da crise de 2008, nos Estados Unidos, que jogou na rua milhares de desempregados e deixou outros tantos na penúria, sem um teto para cobrir a cabeça. Pois bem, o filme mostra como tudo começou, como ninguém prestou atenção, nem teve juízo.

“A Grande Aposta” demonstra como as pessoas não abrem o olho se tudo está, aparentemente, correndo bem para elas. Não notamos ou esquecemos daquilo que pode toldar o brilho dos nossos dias. E aí começa a encrenca.

Quem não entende, como eu, de economia, pode se atrapalhar bastante com o jogo dos corretores e dos representantes dos bancos frente à bolha no mercado imobiliário americano. São muitos personagens e termos em “economês” que a pessoa comum mal sabe que existe. E essa é mais uma das espertezas desse sistema: o uso de termos complicados e siglas estranhas, de propósito, para enganar os ingênuos que não querem passar por ignorantes.

O diretor Adam McKay, que adaptou o livro de Michael Lewis, de 2010, usa de um estratagema divertido e eficaz quando chama pessoas conhecidas para explicar o “esquema”, através de exemplos fáceis, que todo mundo entende. O “chef” Anthony Bourdon, por exemplo, explica para o público como se vende um peixe encalhado de três  dias, transformando-o em um produto novo, o ensopado. É o que fazem esses corretores inescrupulosos.

A maneira de contar essa história real é com a câmara agitada e cortes abruptos e uma introdução de cenas que ilustram o espírito do que está se passando com os personagens. E a trilha sonora acompanha com comentários musicais.

Christian Bale, um dos envolvidos, é aquele que vê, antes de todo mundo, o que vai acontecer e aposta contra o sistema, que ele sabe que vai terminar mal. Considerado louco, é o único que viu o tsunami anos antes, só fazendo o que ninguém faz, ou seja, prestando atenção nos números.

Ryan Gosling, um dos narradores e participantes da história, apesar de compreender o que está acontecendo, o drama que vai acontecer para muitas pessoas, aproveita-se bem da situação e faz sua conta bancária engordar. Enquanto que Steve Carell, é o personagem mais angustiado e indignado com o que vê acontecer.

Brad Pitt, que também é um dos produtores do filme, faz uma ponta e é aquele que vive de acordo com o que todo mundo sabe como deveria viver nos dias atuais. O ex-banqueiro é fã de comida orgânica da própria horta e pomar, vive longe das grandes cidades mas está ainda ligado ao mundo financeiro como uma espécie de consultor, apesar de não concordar com o que fazem seus colegas.

O filme foi indicado para cinco Oscars: filme, diretor, ator coadjuvante (Christian Bale), roteiro adaptado e montagem. E já ganhou o prêmio de melhor filme do Sindicato de Produtores dos Estados Unidos, que também votam no Oscar. Pode surpreender?

“A Grande Aposta” expõe uma chaga do mundo contemporâneo. Tudo isso aconteceu mais de uma vez e vai acontecer novamente, se deixarmos.

Saímos do cinema perplexos.

 

 

Joy – O Nome do Sucesso

“Joy – O Nome do Sucesso”- “Joy”, Estados Unidos, 2015

Direção: David O. Russell

A vida de Joy (Jennifer Lawrence, divina) não era nada fácil. Muito jovem teve que desistir da faculdade para trabalhar e sustentar a família porque seus pais se separaram.

Na casinha branca de Long Island moravam três gerações de mulheres muito diferentes umas das outras. A avó de Joy, Mimi (Diana Ladd), que ela adorava e a incentivava a ser criativa, a fóbica mãe de Joy (Virginia Madsen), que passava os dias em seu quarto, frente à TV, vendo novelas e a própria Joy, seus filhos e o ex-marido, do qual se divorciara mas que não tinha para onde ir e foi ficando. Ajudava Joy com as crianças.

O pai dela (Robert De Niro) saira de casa por causa de uma outra mulher mas separou-se e acabava de voltar, inesperadamente. Ela, que não sabia dizer não, põe o pai para morar com o ex-marido (Edgar Ramirez) no porão.

Através de “flashbacks”, vemos como Joy foi uma menina que gostava de inventar histórias e encená-las com papel e tesoura. Montou uma casinha e dizia que lá tinha tudo que ela precisava. E achava dispensável o “príncipe encantado” sugerido pela meia-irmã Peggy (Elizabeth Rohm), já que ela possuía “poderes especiais”. As duas não se davam muito bem.

É graças a esses dons que ela sabia possuir, esperteza aliada a uma inteligência acima da média e sua criatividade, que Joy vai dar a volta por cima naquela vidinha sem graça.

Isabella Rossellini faz Trudy, uma viúva rica que namora Robert De Niro e que será a investidora num negócio baseado na invenção de Joy, um esfregão útil e bem bolado, o melhor do mercado, como ela mesma diz.

Joy encarna o espírito de uma nova mulher que, ao contrário da mãe e da avó, vai à luta, já que os homens da família não servem como provedores.

Sua capacidade de resistir às reviravoltas do destino é o seu ponto forte. Joy não desiste. Mesmo quando tudo parece ir contra ela.

Bradley Cooper faz uma ponta, sempre bonitão e a melhor amiga de Joy (Dasha Polanco) revela-se uma excelente parceira.

A história é real e Joy Mangano, criadora de um império, foi a inspiração para David O. Russell escrever o roteiro. Aliás, esse é o terceiro filme da dupla diretor/atriz favorita. Os outros foram “Silver Linings Playbook – O Lado Bom da Vida” 2012 e “American Hustle – Trapaça” 2013.

Com momentos divertidos e outros dramáticos, “Joy – O Nome do Sucesso” é um filme agradável, com boas interpretações e, principalmente, com o brilho de estrela de primeira grandeza que é Jennifer Lawrence. É sempre um prazer vê-la na tela.

Com apenas 25 anos de idade, a bela já tem  um Oscar e três Golden Globes na mão. Um deles, graças à sua interpretação como Joy.

Aliás, ela é o filme.