Olmo e a Gaivota

“Olmo e a Gaivota”- “Olmo and the Seagull”, Brasil, Portugal, Dinamarca, França, Suécia, 2014

Direção: Petra Costa e Lea Glob

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Foi perturbador para Petra Costa, 32 anos, atriz e diretora de cinema, constatar que nem na literatura, nem no cinema, havia material psicológico importante sobre o tema que ela queria trabalhar em seu segundo filme, a gravidez.

Compreendeu que, assim como o suicídio, abordado em seu primeiro documentário, o belo “Elena”, havia um tabu no tema da maternidade. Sempre que se falava nela, evitava-se tocar no que se passava na cabeça de uma mulher grávida. Nada sobre dúvidas, nem problemas, nem medos.Ora, a gravidez coloca sempre em jogo a soberania da mulher sobre seu próprio corpo. Era disso que Petra Costa queria tratar.

Convidada para fazer parte de um projeto dinamarquês, que une em duplas diretores do país com estrangeiros, ela foi escolhida para fazer parceria com Lea Glob, que havia filmado um curta sobre o suicídio do pai. O tema era comum às duas e Petra sempre admirou o cinema dinamarquês.

Outro desejo das diretoras era trazer o teatro para o cinema. Daí a escolha da atriz Olívia Corsini do Théatre du Soleil, conhecida companhia francesa, com quem Petra nutria laços desde muito tempo. Nesse momento inicial, a ideia era fazer algo como o que acontece no livro de Virginia Wolf, “Mrs Dalloway”, que conta o dia na vida de uma mulher. Enquanto ela faz coisas triviais, o passado e o futuro a invadem. Mas, quando Olivia contou que estava grávida, chamaram seu companheiro Serge Nicolai e o projeto transformou-se numa já antiga vontade de Petra de falar sobre maternidade.

Foram meses de filmagem sobre a atriz que tem que ficar presa em casa porque sua gravidez corre risco. E, desolada, vê o companheiro continuar com o projeto que era dos dois, a encenação da peça “A Gaivota” de Tchekhov, em Nova York e Montreal. Realidade e ficção misturam-se frente aos nossos olhos. Em closes reveladores, a câmara vasculha a mente de Olivia, que traduz em seu rosto e olhos expressivos, o que se passa com ela. Dúvidas e medos sobre o futuro, a carreira, o momento presente:

“- Não sei ao que me agarrar…”

E quando fala, muitas vezes grita suas angústias em francês e italiano com o companheiro:

“- Tenho um “alien” crescendo dentro de mim…”

“- Você está sensível demais”, diz Serge que é carinhoso com Olivia mas toca sua vida.

O filme é uma mistura muito íntima entre os atores, que vivem sua própria relação e o resto da equipe de filmagem que se intromete entre o casal. Há momentos em que ouvimos em “off” a voz da diretora, questionando a cena filmada e pedindo para que os atores repitam o que fizeram, de outra maneira.

“Olmo e a Gaivota”, vencedor do prêmio de melhor documentário do Festival do Rio 2015, não é um documentário realista. É um olhar denso e questionador sobre a vivência da maternidade. 

“Olmo e a Gaivota” é, no dizer de Petra Costa, “a luta entre as raízes e a liberdade”. O medo de não mais voar, está presente em Olivia, que sente que o bebê realiza uma grande mudança nela e ela se pergunta se vai perder asas ou transformar-se numa nova combinação, quase impossível, de voo e raízes.

Excelente.

007 Contra Spectre

“007 Contra Spectre”- “Spectre”, Reino Unido, Estados Unidos, 2015

Direção: Sam Mendes

Desde 1962, James Bond, então na pele do atraente Sean Connery, seduz multidões que vão ao cinema vê-lo lutar contra homens maus e transar com mulheres bonitas.

O agente secreto inglês, que tem licença para matar, já foi visto em 24 filmes da franquia bilionária, interpretado por cinco atores. Daniel Craig é o último.

No novo filme, a sequência inicial é espetacular e se passa na Cidade do México, no Dia dos Mortos, com uma multidão trajando caveiras, coveiros, santeiros, noivas da morte e onde Bond, ao lado de uma bela mulher, ambos mascarados, entram num hotel antigo em festa, só para ele despir seu terno pintado com a caveira e aparecer, arma na mão, atrás da Spectre, organização criminosa global.

Ele escala a fachada, pula para outro prédio, ouve uma conversa, explode o prédio que cai em cima dele e, sem um pingo de poeira, volta à multidão, perseguindo um italiano que luta com ele num helicóptero que pousa na praça e decola levando os dois.

Uma frase apareceu na tela : “Os mortos estão vivos”, numa alusão ao passado de James Bond, que virá à tona.

A italiana Monica Bellucci e a francesa Léa Seydoux são as belas da vez, a primeira numa ponta e a outra reservando surpresas para o agente secreto, filha de um inimigo dele, que parece que vai ganhar o coração de Bond , famoso por trocar de parceiras com a maior facilidade e frieza, sem se envolver com nenhuma. Bem, houve Vesper Lynd (Eva Green) em “Cassino Royale”, citada no filme em uma fita VHS antiga.

M (agora Ralph Fiennes), o chefe do agente 007, aparece mais dessa vez e se envolve na história, assim como Q (Ben Whishaw), o inventor das engenhosas armas secretas de Bond e Moneypenny (Naomi Harris). Até a falecida M, Judy Dench, aparece numa mensagem para Bond.

O vilão, interpretado por Christoph Waltz, é sádico e tem mais intimidade com James Bond do que poderíamos pensar, lembrando um Caim pós-moderno, que afirma que ele é o responsável “por toda a dor” do nosso herói.

As locações vão mundo afora, começando pelo México, depois Londres, Roma, lagos e montanhas nevadas na Áustria e Tanger no Marrocos, onde as perseguições em carros rivalizam com Bond pilotando helicópteros e aviões a hélices. Tudo isso ao som da estrondosa trilha sonora de Thomas Newman.

Sam Mendes, o diretor, entrega ao público um filme com um bom suspense, pitadas de humor e muito bem executado.

Daniel Craig está afinado com o personagem e deixa rolar uma química romântica com a bela e talentosa Léa Seydoux, a dra Madeleine Swan.

Será que a cena final é uma promessa de um 25º filme com James Bond apaixonado e feliz?