Jimmy’s Hall

“Jimmy’s Hall”- Idem, Reino Unido, França, Irlanda, 2014

Direção: Ken Loach

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O confessado último filme do diretor Ken Loach, quase 80 anos, várias vezes premiado em Cannes, conta uma história real. Ele diz que só fará documentários daqui em diante.

Jimmy Gralton (1886-1945), interpretado com carisma por Barry Ward, depois de passar anos como imigrante nos Estados Unidos, por causa da Depressão volta a seu país natal, a Irlanda, em 1932, de onde havia saído após a luta de seu povo pela independência do Império Britânico (1919-1921).

Em 1922 eclodiu uma guerra civil entre os que aceitavam o Tratado imposto pelos ingleses e os que o recusavam. As forças que aceitaram o Tratado foram apoiadas pela Grã-Bretanha e venceram a guerra civil.

Quando Jimmy volta, dez anos depois, uma mudança de governo promete mais paz no futuro.

Mas, como diz o padre da aldeia (Jim Norton, excelente), que visita a mãe de Jimmy para saber se ele tinha mudado:

“ – Vindo de Nova York, ele vai estranhar nossa vida simples e humilde. Passamos um tempo violento e difícil, Alice… Foi irmão contra irmão, vizinho contra vizinho. As cicatrizes no coração levam tempo para fechar… Mas, eu sinto uma nova atmosfera, inclinada ao perdão. Concorda? “

A velha senhora, que o escuta com olhos preocupados, responde:

“- Sim. Mas tem que haver respeito mútuo.”

E muita gente espera Jimmy em sua casa, quando ele chega. A câmara de Loach aproxima-se dos rostos dos camponeses rudes, alegres com a festa pela volta de um líder deles:

“- O que vai fazer agora, Jimmy?”

“- Vou ajudar minha mãe e ter uma vida tranquila.”

Resposta que faz todos rirem, já que conhecem o temperamento de Jimmy.

A moça (Simone Kirby) que servia os sanduiches, sai com sua bicicleta e ele corre atrás:

“-Oonagh!”

E entrega presentes para os filhos dela e uma caixa grande:

“- Por que parou de escrever?”

“- Você sabe…” responde com tristeza.

O clima é de pesar mas há calor e saudade naqueles dois. O vestido, que ele trouxe para ela, vai enfeitar uma das cenas mais bonitas do filme.

De volta do campo onde foram buscar turfa na lama, Jimmy e seus companheiros encontram moças e rapazes dançando na estrada, ao som de instrumentos tocados por outros do grupo.

E Jimmy é saudado com entusiasmo porque aqueles jovens já sabiam do seu “hall” e queriam que ele o reabrisse.

“- Estamos desempregados e à toa”, diz um rapaz.

“- Queremos um lugar aquecido onde a gente possa dançar, cantar, aprender coisas”, acrescenta uma mocinha.

E é a história desse famoso “hall”, desse salão onde os jovens vão aprender os passos das novas danças dos negros americanos com Jimmy, que vai ser contada. Um lugar de conhecimento e liberdade, que incomoda tanto os padres católicos locais quanto a polícia e os donos das terras.

 “O “hall” de Jimmy é sobre a possibilidade de aprender, de transpor limites e também sobre as forças que tentam impedir que isso ocorra com as pessoas”, diz o roteirista.

Ele e o diretor Ken Loach, fizeram, principalmente, um belo filme contra toda forma de autoritarismo.

O Ciclo da Vida

“O Ciclo da Vida”- “Fei yue lao ren Yvan”, China, 2012

Direção: Zhang Yang

A morte é o destino certo de todos nós. Mas é um assunto do qual muitos fogem, sem perceber que é preciso pensar nela, para que se torne menos cruel.

O filme do diretor chinês de 48 anos, Zhang Yang (“Banhos”1999), é uma lição de vida. Seus personagens são velhos, que um parente próximo internou numa Casa de Repouso e lá foram abandonados, pelas mais diversas razões.

Então não vamos ver velhinhos “fofos”, nem vamos ouvir falar de “melhor idade”. Sem eufemismos, vamos entrar em contato com pessoas de mais idade, na maioria maltratados pela vida, solitários e sem acesso aos cuidados de profissionais que fazem retardar os efeitos do envelhecimento.Contam consigo mesmo e com os outros que moram junto a eles (o ótimo elenco tem de 55 a 92 anos).

A história começa com a chegada do senhor Gê (Xu Huanshan) na casa de repouso onde vive seu amigo, o senhor Zhou (Wu Tiang-Ming) que, tempos atrás, fora seu colega de trabalho como condutor de ônibus. Zhou é um velho enérgico e criativo, que inventa espetáculos para distrair seus companheiros.

Ele interfere junto à enfermeira-chefe e, apesar da casa estar lotada, arranjam uma cama para o senhor Gê, que acaba de perder sua segunda esposa e não tem para onde ir, já que o lugar onde morava pertencia aos filhos da falecida.

O senhor Gê vive uma situação complicada com o filho de seu primeiro casamento. Não se falam por causa de velhas mágoas.  

Tudo isso o senhor Gê conta em lágrimas para o amigo Zhou, que tenta consolar o desolado pai rejeitado.

E é a postura do senhor Zhou, frente à própria morte, que vai levar alguns dos velhinhos da casa, inclusive o senhor Gê, para uma aventura fascinante, que será o projeto que vai tirá-los de um fim de vida amargurado.

Sabendo que está gravemente doente, o senhor Zhou convida quem quiser, e puder, para ensaiar com ele um esquete, pequena cena engraçada, que seria apresentada num concurso televisionado para todo o país. Esse é seu último desejo. E confessa ao amigo Gê que gostaria muito de conhecer o mar.

E, para conseguir chegar na distante cidade onde acontece o concurso, o senhor Zhou vai ter que inventar muitas estratégias para manter o plano em segredo e comandar a fuga emocionante dos velhinhos através da China.

“O Ciclo da Vida” é um filme divertido que comove e faz pensar com admiração na posição ativa e confiante desse grupo de pessoas, solidárias umas com as outras, apesar das mazelas e sofrimentos. São todos por um e um por todos, na vontade de participar do concurso e fazer valer o projeto em comum.

Afinal, para valer a pena viver, nada melhor que um projeto. Mesmo que seja a realização de um último desejo.