Mad Max : Estrada da Fúria

“Mad Max: Estrada da Fúria”- “Mad Max: Fury Road”, Austrália, Estados Unidos, 2015

Direção: George Miller

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Já consagrado em Cannes, aplaudido durante sua exibição para a crítica internacional, “Mad Max: Estrada da Fúria”, está sendo considerado o melhor filme de ação do ano.

Max, o personagem de Mel Gibson nos outros três filmes, agora é Tom Hardy, o único macho atraente na tela.

A trama é simples. Max, sempre atormentado por culpas do passado, é aprisionado por estranhos seres pálidos e carecas, muito maus, que o aprisionam numa gaiola para servir como doador de sangue.

O líder deles é “Immortal Joe”(Hugh Keays-Byrne), que tiraniza seu povo e se anuncia à multidão de excluídos como o Redentor. Usando uma prótese com enormes dentes, cabelos brancos desgrenhados e olhar furioso, ele é assustador.

São dele todos os recursos que existem nesse mundo pós-tudo, incluindo a água, plantas e até mesmo mulheres que doam seu leite para os inúmeros filhos de Joe, que servem como seu exército, protegendo sua cidade, a Cidadela.

Quando a Imperatriz Furiosa (Charlene Theron) foge de Joe, levando as mulheres dele, começa uma perseguição cruel. Max, que consegue escapar dos seres pálidos, tenta ajudar a Imperatriz a livrar-se desses seres endoidecidos que estão no seu encalce.

De cabeça raspada, maquiagem negra que cobre sua cabeça e testa e vai até os olhos claros, alta e com um corpo perfeito, a Imperatriz tem uma prótese no lugar de seu braço esquerdo, o que mostra que ela não hesita em se arriscar. Guia um caminhão híbrido de tanque de combustível com pedaços de outros carros acoplados. Ela arrasa.

E as companheiras, que ela roubou de Joe, são belas e jovens mas também selvagens.

O filme passa-se quase que inteiramente no deserto, onde a perseguição acontece. E são colisões, capotamentos, explosões, muito tiro, motos que voam sobre carros saídos da imaginação mais louca, mistos de sucata de tudo que tenha um motor, ao som de uma furiosa guitarra elétrica, qual trio elétrico do horror.

A fotografia de John Seale, belíssima, pinta cenas com amarelo e vermelho para o dia e cinzas azulados para a noite. E a câmera acompanha, frenética, o exército atrás de Furiosa. Nota dez para a edição que empresta ritmo acelerado ao filme, bem como para a direção de George Miller, idealizador de tudo que pertence a esse universo bizarro e brutal.

O filme prende a atenção o tempo todo, colando o espectador na cadeira.

Mesmo pessoas como eu, que não gostam de filmes de ação, vão se encantar com Furiosa, Max e as velhinhas de moto que se aliam a eles. Porque é deliciosa essa fábula sobre um mundo onde a luta é por uma qualidade de vida melhor para todos.

Aqui é o matriarcado que vai salvar a humanidade dos machistas empedernidos e terríveis. Doa a quem doer.

Permanência

“Permanência”, Brasil, 2014

Direção: Leonardo Lacca

Há um desconforto entre os dois.

Ele se anuncia pelo interfone, tentando brincar e põe a mala no elevador.

Sobe a escada com passos largos. Ela sorri quando abre a porta e vê que o elevador chegou primeiro com a mala, mas sem ele. Lembranças chegam antes dele, que retarda aquele encontro.

“- Você ainda tem problema com elevador?”

Na cozinha, ela se esquiva quando ele fica mais ardente. E oferece café.

O que foi que separou aquele casal?

“Permanência”, primeiro filme de Leonardo Lacca, ilustra o tema do silêncio. Não o vazio, mas o que contém o que não se diz. E por isso o desconforto. Ficam palavras entaladas na garganta. E a emoção paira.

Cabe ao espectador valer-se das suas próprias experiências para preencher as lacunas, já que é uma linguagem que todos compreendem.

Ivo (Irandhir Santos), fotógrafo que chega do Recife para sua primeira exposição em São Paulo, reencontra Rita (Rita Carelli). Ela está casada com outro, muito diferente de Ivo, que apesar de sentir o clima entre sua mulher e o recém-chegado e porejar ciúme, faz um tipo seguro de si, tratando o outro como um caipira na grande cidade. É aparentemente acolhedor e prestativo, mas soa falso e inútil.

Ivo é filho de uma aventura do pai (Genésio de Barros), que o esconde, também mantendo um silêncio incômodo. Tem como desculpa, a existência de Tereza, sua mulher, que não vai gostar de saber desse segredo.

Ivo vai pela cidade, transa com Laís (Laila Pas) mas tem Rita na cabeça.

As mãos deles, apaixonadas, se torcendo juntas e clandestinas no cinema, são mais sensuais que qualquer outro ato de amor.

E dela, restam com ele fotos, sinais da permanência de sentimentos. Ela olha essas fotos e se emociona com o que trazem ao coração.

Aquele amor vivido permanece na memória dos dois, onde deixou traços indeléveis.

“Permanência” foi muito premiado no Festival do Recife: melhor filme, melhor atriz para Rita Carelli, melhor ator coadjuvante para Genésio Barros, melhor atriz coadjuvante para Laila Pas e melhor direção de arte para Juliano Dornelles.

Mais um bom filme nacional que vem engrossar o veio que nos vem do Recife.

“Permanência” é um filme que se vê intrigado, até que o espectador perceba que tem que entrar em sintonia com as emoções e não com as palavras.