Exodo: Deuses e Reis

“Exodo: Deuses e Reis”- “Exodus: Gods and Kings”, Estados Unidos, 2014

Direção: Ridley Scott

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Quem não conhece essa história milenar?

Moisés, que foi salvo da morte certa, ainda bebê, porque foi colocado num cesto no Rio Nilo para escapar dos soldados do faraó, foi adotado pela princesa que o encontrou. Não sabendo sobre sua origem, fez dele um Príncipe do Egito. Ele é um dos personagens mais importantes da religião judáica e está presente na Bíblia dos cristãos e no Corão dos muçulmanos.

Cecil B. de Mille, em 1956, fez Charlston Heston ser o Moisés que falava com Deus, uma coluna de fogo, no filme “Os Dez Mandamentos”. Houve também uma animação da DreamWorks, “O Príncipe do Egito”.

Mas nunca se viu um Moisés como o de Ridley Scott, na pele de Christian Bale. O diretor do “cult” “Blade Runner” 1982, “Alien” 1979, “Gladiador” 2000, “Prometheus” 2012, fez de Moisés um príncipe, um exilado, um homem em busca de si mesmo e, por fim, um revolucionário que tira seu povo da escravidão no Egito, liderando-o em busca da Terra Prometida.

Tudo isso contado com tal grandiosidade e beleza de imagens 3D, que nos perdemos na procura de detalhes, quando a imensidão do que é mostrado na tela não dá para nossa visão abarcar. É de embasbacar. Tudo é superlativo.

Quem conhece o Egito nunca sonhou em ver aquelas ruinas reconstituídas com tamanha glória. Os palácios refulgem, as colunas imensas sustentam edifícios de sonho. A decoração é extasiante nos mínimos detalhes, sob uma luz definitiva.

As passagens mais marcantes como as pragas e a travessia do Mar Vermelho são contadas em cenas arrepiantes que são imagens que falam. Não são necessárias palavras para entender o que se passa.

Os atores foram bem escolhidos: John Turturro como o faraó, Joel Edgerton seu filho Ramsés, Sigourney Weaver faz a irmã do faraó e a bela indiana Golshifteh Farahani (de “A Pedra da Paciência”) é a rainha.

Mas ninguém faz sombra a Christian Bale, que construiu uma personalidade carismática e muito humana para Moisés.

Um ponto alto é a originalidade com que Ridley Scott tratou a figura do Deus dos hebreus. Um menino (o britânico Isaac Andrews, de 11 anos) encantador, voluntarioso e muitas vezes doce. Tão próximo de Moisés que diríamos ser a parte dele identificada com a missão de salvar seu povo e ser digno de sua origem, antes ignorada por ele e resgatada com honra.

“Exodo: Deuses e Reis” é um filme épico com um quê de contemporâneo.

 

 

Uma Longa Viagem

“Uma Longa Viagem”- “The Railway Man”, Austrália, 2013

Direção: Jonathan Teplitzky

Ele é um prisioneiro do tempo.

Parece estar na Escócia, numa reunião de veteranos da Segunda Guerra nos anos 80 mas, alí, ele está só de corpo presente. A alma ainda está presa na Tailândia, onde aconteceu o que o marcou para sempre.

Eric Lomax (Colin Firth) é um traumatizado de guerra. Mas Patti (Nicole Kidman) não sabe disso quando o encontra no trem que a leva para conhecer as “Highlands” na Escócia. As belas paisagens verdes, sempre molhadas de chuva e enfeitadas de arco-iris são sua escolha para seus dias de férias.

Mas quem é que sabe qual será o próprio destino?

Aquele homem obcecado por trens e que tem mania de cronometrar tudo, tem algo melancólico e doentio em sua personalidade, mas ela não presta atenção e aceita casar-se com ele.

Aí, passado o primeiro encanto, vem o susto. E, apesar disso, o amor dela por ele procura um meio de livrá-lo do pesadelo que o persegue e sobre o qual se cala.

Enquanto ela decora a casinha deles frente ao mar, ele afunda na depressão. A imagem destorcida de Eric no vidro da janela é o perfeito reflexo do seu estado psicológico.

Ela procura ajudá-lo mas ele se fecha e o casamento parece fadado a um triste fim. Porém Patti não desiste e o coloca frente à frente daquilo que ele não quer ver mas que não o deixa viver. Para isso, ela conta com a ajuda do também veterano Finlay (Stellan Skarsgad) que sabia o que tinha acontecido com Eric.

Baseado em um livro escrito pelo verdadeiro Eric Lomax, a história do filme é real. E mostra, com crueza, o que foi a guerra para os britânicos capturados pelos japoneses.

Aliás, qualquer guerra é cruel. Numa situação onde a morte ronda, os homens podem praticar as maiores barbaridades para dominar o inimigo.

Mas, se a vida continua, a guerra não termina fácilmente. Porque quem a viveu, não pode esquecer os traumas que marcaram para sempre os que se enfrentaram com ódio e medo.

Será possível perdoar a quem nos fez tanto mal?

Esta é a pergunta do filme “Uma Longa Viagem”, dirigido por Jonathan Teplitzky, que não chega a ser memorável. A não ser pela atuação sempre convincente de Colin Firth, que mostra a dor e a prisão onde ainda vivia seu personagem, anos depois do acontecido.

Um filme tradicional, sem grandes novidades mas que conta uma boa história verdadeira.