Malévola

“Malévola” – “Maleficent”, Estados Unidos, 2014

Direção: Robert Stronberg

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Como não se encantar com “Malévola”?

A história da “Bela Adormecida”, do velho conto de fadas na versão de Charles Perrault de 1697, que levou a Disney a fazer a animação de 1959, tem uma nova versão, contada do ponto de vista da fada Malévola.

Quem comanda a beleza que está na tela é o diretor novato Robert Stronberg, que já ganhou alguns Oscars como diretor de arte, em filmes como “Avatar”, “Alice no País das Maravilhas”, “Oz, Mágico e Poderoso”, que também dirigiu e “As Aventuras de Pi”.

Imagens cativantes mostram a jovem de asas de grifo e chifres de íbex (Isobelle Molloy), brincando com outras criaturas mágicas do reino de Moors. Mas existe um reino próximo, habitado por seres humanos. Tudo que em Moors é leveza e alegria, em plena natureza respeitada, no reino dos homens é pedra, fogo, soldados e um rei tirano.

Malévola é a guardiã de seu reino e pela primeira vez em sua vida encontra um ser humano, o menino Stefan (Michael Higgins), que veio para roubar. Ela faz com que ele devolva a pedra preciosa ao poço e, quando ele volta, é para se aproximar dela como um jovem atraente que encanta o puro coração da fada, que acredita no amor verdadeiro e se entrega.

Mas Stefan não tem amor, tem cobiça. E para tornar-se rei do reino dos homens, atraiçoa Malévola.

Esse é o centro emocional da história, que explica tudo que virá a acontecer depois.

Malévola, agora sem suas asas, tem Diaval (Sam Riley), o homem-corvo, olhos dela nas alturas que ela não pode mais visitar.

E, quando fica sabendo que nascera a filha do rei Stefan (Shalto Copley), Malévola vai se vingar.

Ela é uma personagem complexa que tanto ama quanto odeia, com todas as forças do seu ser. A maldição que lança sobre Aurora é cruel. Aos 16 anos, dormirá para sempre, a menos que um beijo de amor verdadeiro a desperte.

Aqui aparece a grande mudança que faz a história de Malévola ser mais contemporânea. Saimos da maldade da bruxa egoista e entramos em contato com uma mulher forte e protetora dos mais frágeis, mas com emoções ambiguas, que habitam seu coração ferido por seu amor recusado e traido. Sua magia é forte e, entretanto, ela se arrependerá de ter lançado a maldição sobre Aurora, menina alegre e encantadora.

O primeiro encontro das duas é comovente. Vivida pela filha mais moça de Angelina Jolie, Vivienne, de uns 3 anos, loirinha e angelical, a princesinha Aurora pede:

“- Colo, colo!”

E como  Angelina é bela e talentosa no papel que ela soube interpretar com nuances e humor. É dela, a tela.

Sedutora, com cornos de íbex (cabra do Himalaia) e asas de grifo (ave mitológica), caprina também no rosto marcante, onde as feições se tonam esculpidas a faca, seus olhos verdes cintilam com poder e aquela boca vermelha, feiticeira, tem trejeitos que só ela sabe fazer.

O amor verdadeiro libertará Aurora (Elle Fanning) e Malévola.

Final feliz e surpreendentemente novo.

Estou certa de que algumas mulheres da plateia vão secar uma lágrima inesperada e bem-vinda.

O Que os Homens Falam

“O Que os Homens Falam”- “Una Pistola em Cada Mano”, Espanha, 2012

Direção: Cesc Gay

A música que acompanha as primeiras imagens do filme lembra os faroestes italianos. Ironia, porque os homens de “Una Pistola en Cada Mano” estão longe do esterótipo do machão, à John Wayne.

Oito homens vão se encontrar e viver pequenas histórias que revelam, principalmente, fragilidades humanas.

O diretor catalão Cesc Gay, que também escreveu o roteiro, conta as histórias de maneira divertida mas não esconde os medos, ansiedades e decepções por que passam seus personagens.

Os dois primeiros esbarram por acaso. Não se vêem há muito tempo mas já foram amigos. Um deles (Leonardo Sbaraglia) sai de uma sessão de terapia e encontra o antigo amigo (Eduard Fernández) que procura um advogado para o seu divórcio. Há um clima de solidariedade e afeto entre eles e o que tem mais, vai ajudar o que tem menos.

Outro homem (Javier Cámara) leva o filho para passear mas só pensa em voltar para a mãe dele, apesar de ter sido ele quem se apaixonou por outra. Arrependido tarde demais?

No banco de um parque, o argentino Ricardo Darín é o homem que vigia um prédio de apartamentos onde desconfia que sua mulher o trai com o amante. O conhecido que passeia com o cachorro da ex (Luis Tosar), senta-se ao lado dele para ouvir seus lamentos.

E um conquistador egoista (Eduardo Noriega), não sabe o que o espera quando paquera sua colega de trabalho.

Maria (Leonor Watling) leva o marido de uma amiga (Alberto San Juan) em seu táxi, para uma festa onde todos vão se encontrar. No caminho eles conversam e ele fica sabendo das intimidades dela e seu marido.

A caminho da festa, Sara encontra por acaso um amigo (Jordi Mollà) e abre-se em confidências sobre o seu casamento.

Todos experimentam a dor de uma traição ou ainda vão conhecê-la.

Os amores do nosso tempo, com pequenas diferenças de casal para casal, sofrem as dificuldades do viver contemporâneo. “O Que os Homens Falam” trata disso com muito humor e inteligência.