Eu, Mamãe e os Meninos

“Eu, Mamãe e os Meninos”- “Les Garçons et Guillaume à Table”, França, 2013

Direção: Guillaume Gallienne

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Muitas vêzes é difícil para um menino ou menina conhecer sua identidade sexual. E a família sempre tem um papel decisivo para que essa dificuldade se instale.

“Eu, Mamãe e os Meninos” dirigido e interpretado por Guillaume Gallienne conta a história dele mesmo, com os pormenores de um caso complicado de determinação da identidade de gênero.

Ele escreveu um monólogo para o teatro e depois resolveu dirigir seu primeiro longa, onde essas memórias são encenadas com graça e inteligência.

E o sucesso foi enorme. Além da bilheteria de 2 milhões e 300 mil espectadores, ganhou cinco Césars, o Oscar francês 2013, incluindo melhor filme, ator e roteiro adaptado.

Por que será que Guillaume Gallienne caiu no gosto do público? Claro que ele é talentoso. Seu filme é divertido, intrigante e nunca vulgar. Mas sua maior qualidade é a facilidade com que nos envolve e como seguimos Guillaume em suas aventuras e dificuldades de entender quem ele é. Menina ou menino?

O título em francês é uma frase da mãe dele, uma de suas primeiras lembranças, chamando os filhos para a mesa e que traduz a ambiguidade, até mesmo a certeza, que ele vivia. Era diferente de seus irmãos homens, portanto deveria ser uma menina: “Guillaume e meninos, venham para a mesa”.

Essa frase perseguiu Guillaume e se somou às outras que ouviu de seus irmãos, seu pai e seus colegas de internato.

Ele explicava o uso de roupas masculinas, que a mãe comprava para ele, como um maneira de não desagradar o pai. Mas até ele confundia a voz de Guillaume com a voz da mãe. E odiava a situação. Queria que o filho fosse macho.

Filho caçula de uma mãe que queria uma filha, muito cedo Guillaume sintonizou com esse desejo da mãe adorada e tudo que ele fazia era para agradar a ela. Mais. Ser igual  ela.

Ótimo ator, Guillaume Gallienne, 42 anos, interpreta ele mesmo e a mãe, com tanto talento, que custa um pouco para o espectador perceber que não são dois atores.

E as peripécias vividas e trazidas em cenas hilariantes e comoventes, levam o cinema a rir com ele e a se emocionar com sua ingenuidade e temperamento amoroso.

A frase contundente e feliz de um de seus psicanalistas, o último, faz com que Guillaume comece a ver o mundo com olhos virados para si mesmo e não mais para a mãe  maravilhosa ou para o que os outros pensavam dele.

Saimos do cinema ainda rindo e relembrando cenas como a da massagem na Baviera, o internato inglês, a boate gay, a mãe aparecendo em todos os lugares, vinda da imaginação dele para opinar em tudo, a bela cavalgada ao som de Wagner e aquele jantar em Paris.

Faça como os francêses. Vá ver, rir e sorrir com Guillaume Galienne, um diretor sensível e ator talentoso.

O Espetacular Homem-Aranha 2 : A Ameaça do Electro

“O Espetacular Homem-Aranha 2 : A Ameaça de Electro” – “The Amazing Spider-Man 2”, Estados Unidos, 2014

Direção: Marc Webb

O Homem-Aranha é o único superheroi que assume plenamente sua fragilidade de ser humano. Ele tem medo e humor. E, por isso, conquista de cara a simpatia das plateias, em suas diferentes versões para o cinema.

Há quem prefira o primeiro filme de 2002, de Sami Raimi, que dirigiu a trilogia com o ator Tobey Maguire. A história que é contada é a de um garoto que, picado por uma aranha do laboratório do pai, sofre uma mutação. Criado pelos tios, porque seus pais cientistas tem que fugir, sofre “bullying” na escola e torna-se um adolescente com medo de viver, apesar de seus superpoderes. A identificação com todos os jovens do planeta Terra, que sofrem porque tem que crescer, é fácil e direta.

E a satisfação e o frio na barriga que sentimos com seus voos, faz lembrar montanhas-russas, bungee-jump e quedas livres, para quem já experimentou essas loucuras na vida real ou apenas sonhou com elas.

Agora, com Marc Webb (“500 Dias com Ela”) na direção, tudo continua o mesmo, mas mais movimentado e o nosso heroi mais seguro e mais apaixonado, vivendo mais conflitos internos. Mudaram os atores. E Andrew Garfield como Peter Parker, o Homem-Aranha e Emma Stone como a namorada dele, Gwen, nunca tiveram uma sintonia tão intensa.

O filme tem um prólogo que recorda o que aconteceu com o menininho que pensa que foi abandonado. Mas, antes da queda do avião que conduz seus pais, vemos um “down-load” ser completado com desespero. Uma confissão vai consolar Peter e ajudá-lo a aceitar a realidade da morte.

Sem perder a graça infantil, que faz dele um heroi amado, o Homem-Aranha vai ter que enfrentar não só inimigos como o carente e transtornado Electro (Jamie Foxx, excelente), o Rhino (Paul Giamatti) ou seu antigo colega de escola, Harry Osborn (Danny DeHaan), que se transforma em um sádico Duende Verde. Isso ele tira de letra. As cenas das lutas prendem na teia do Aranha também a plateia e não se vê ninguém olhando na telinha do celular ou passando mensagem no cinema.

O pior para Peter Parker, e para qualquer ser humano, é o enfrentamento das dores que sofremos para viver o amor.

Percebendo a necessidade que tem de Gwen, de sua presença amorosa e bela, de sua ajuda inteligente em momentos difíceis, Peter não quer que ela o abandone. Mesmo tendo prometido afastar-se dela, ao pai já morto de Gwen.

A tia May, vivida por Sally Field, está no lugar da mãe dele e recorda ao menino orfão o que é amar do fundo do coração.

Por causa de seus próprios sofrimentos, o Homem-Aranha compreende e ampara aqueles que estão desamparados em perigo. Ele é um heroi empático, que não procura glórias mas amor.

Essa história vai ter mais três filmes, o último em 2018.

E, atenção! A cena adicional não é do próximo filme do Homem-Aranha mas uma publicidade  de um filme da Fox, em troca da liberação do diretor Marc Webb para a Sony. Isso atrapalhou muita gente.