Noite do Oscar 2014

Oferecimento Arezzo

Foi uma noite feliz.

O Oscar mais disputado de todos os tempos, agradou. E era difícil porque todos os indicados mereciam o prêmio.

E de uma forma interessante, os dois favoritos saíram ganhando.

“Gravidade”, a maior bilheteria, levou 7 Oscars, o principal deles para seu diretor Alfonso Cuarón, entregue a ele pela sempre maravilhosa Angelina Jolie.

E “12 Anos de Escravidão” foi consagrado o melhor filme. O diretor Steve McQueen e o produtor Brad Pitt subiram ao palco para receber seu Oscar, felicíssimos.

Mattew McConughey e Jared Letto, os favoritos para melhor ator e coadjuvante, merecidamente levaram para a casa a cobiçada estatueta. “Clube de Compras Dallas” também ganhou o prêmio de melhor maquiagem e cabelo.

Aliás, o Oscar de Mattew McConaughey (casado com a bela brasileira Camila Alves) foi entregue por Jennifer Lawrence, de Dior vermelho, linda e simpática como sempre, mesmo não levando o seu segundo, que certamente virá em sua carreira.

A bela e talentosa Cate Blanchett, a mais premiada nesse ano, já que ganhou todos os prêmios a que foi indicada, consagrou-se a melhor atriz, vestida com o vestido mais lindo da noite, um Armani “nude” bordado. Chiquérrima!

Um dos pontos altos foi Lupita Nyong’o vestida num Prada azul bebê deslumbrante, ganhar o prêmio para sua sofrida interpretação em “12 Anos de Escravidão”. A plateia aplaudiu a nigeriana de pé.

“A Grande Beleza” o preferido dos críticos, foi consagrado o melhor filme estrangeiro. Paolo Sorrentino, o diretor e Toni Servillo, o ator, subiram os degraus do palco e sob muitos aplausos, agradeceram com belos sorrisos no rosto.

Os prêmios para roteiro adaptado e original, foram entregues por um casal elegante para “12 Anos de Escravidão” de John Ridley e “Ela” de Spike Jonze. Penélope Cruz e Robert De Niro estavam impecáveis.                                    

A melhor canção ficou para “Let it Be”de “Frozen”.

O “In Memoriam”, apresentado por Glenn Close, homenagem aos que nos deixaram, incluiu o brasileiro Eduardo Coutinho, nosso mestre em documentários inesquecíveis.

Ellen Degeneres foi a mestre de cerimônia e saiu-se muito bem. Brincou com todos na plateia, vendeu pizza e comandou uma foto com quase todos os indicados, tirada num celular.

As mulheres estavam quase todas de vestidos claros bordados. Exceção para Charlize Teron e Julia Roberts de negro, belíssimas, Amy Adams de azul marinho e o vermelho de Jennifer Lawrence. Poucas joias. Mas poderosas.

E agora, é esperar pelo próximo, com a impressão de que o mundo do cinema não perde nunca o seu charme.

Nebraska

“Nebraska”- Idem, Estados Unidos, 2013

Direção: Alexander Payne

Sem sonhos, não há vida, só uma sobrevivência ingrata.

Woody Grant, uns 80 anos, vivia assim, sem alento, bebendo muito, desde garoto, casado há 40 anos com uma mulher que só o criticava, pressagiando-lhe um negro futuro, a internação num asilo.

Talvez tudo fosse culpa dele mesmo. Não sabemos.

O fato é que o velho (interpretado com convicção por Bruce Dern, 76 anos, melhor ator no Festival de Cannes e candidato ao Oscar) parece não ter laços afetivos estreitos com ninguém. Dos dois filhos, o mais velho e bem sucedido, âncora de um noticiário de TV, diz claramente ao mais novo:

“- O asilo é a melhor saída. Ele nunca ligou para nenhum de nós.”

Tudo isso porque últimamente, o velho Woody Grant, descabelado e renitente, fugira de casa por duas vêzes, sendo encontrado pela polícia andando a pé pela estrada. Dizia que ia para Nebraska, onde ganhara um prêmio de US$1 milhão.

Só ele acreditava nisso, não dando ouvidos aos filhos e à mulher que explicavam que tudo não passava de um truque publicitário. Apegava-se àquele pedaço de papel que viera pelo correio como se fosse sua tábua de salvação.

Até que o filho mais moço, David (Will Forte, muito convincente no papel), sente pena do pai e decide levá-lo a Lincoln, em Nebraska. Dessa forma, o velho se convenceria por si mesmo que não existia prêmio algum.

Mas, por trás dessa decisão do filho mais moço há motivos mais íntimos. A namorada dele, gorda e prática, acaba de deixá-lo e ele se sente só e sem futuro como vendedor de uma loja. Identifica-se com o pai desnorteado, buscando uma razão para viver. Quer aproximar-se mais e conhecê-lo melhor. Entender o porquê dessa alucinação com o prêmio e desse fim de vida melancólico.

A viagem torna-se uma volta ao passado para Woody e uma oportunidade para o filho de ver com os próprios olhos as testemunhas da vida do pai quando jovem.

A cidadezinha de Hawthorne, no caminho para Nebraska, é a terra natal do pai e seus irmãos e onde ele conheceu a mulher que viria a ser sua esposa.

Lá eles param para pernoitar e participar de um almoço em família, que vai mostrar como o dinheiro mexe com as pessoas.

E é ali que vamos ver a parte mais engraçada  do filme, com cenas a cargo de June Squibb, que faz a malcriada mulher de Woody, indicada a melhor atriz coadjuvante no Oscar.

A bela fotografia em preto e branco, também indicada ao Oscar, ajuda a criar um clima de passado e estagnação. A cidadezinha de Hawthorne, vazia e fria, parece saída de um quadro de Edward Hopper (1882-1967).

Alexander Payne, 54 anos, indicado ao Oscar de melhor diretor, assim como o seu filme, já ganhou dois Oscars com roteiros seus: “Sideways”2004 e “Os Descendentes” 2011. Com “Nebraska” filma o primeiro roteiro de Bob Nelson, outra indicação ao Oscar, que acerta na história que lida com o envelhecimento e as relações familiares.

Mas “Nebraska” fala, principalmente, do amor entre filho e pai, de forma delicada e simples.