Pais e Filhos

“Pais e Filhos”- “Soshite Chichi Ni Naru”, Japão, 2012

Direção: Hirokazu Kore-Eda

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Tudo parecia tão perfeitamente em ordem naquela jovem família de classe média alta vivendo numa cidade japonesa, que não se espera o que virá.

O pai Ryota (Masaharu Fukuyama), arquiteto de sucesso, trabalha em um escritório famoso, onde fez uma carreira rápida e brilhante. Ganha muito bem, é dedicado e ambicioso.

Por causa disso, o tempo para a família é escasso. Chega sempre tarde em casa e já está na hora de seu único filho, Keita (Keita Ninomiya) de 6 anos, estar na cama. Estranhamente, essa falta de convivência não parece incomodar nenhum dos dois.

A mãe, Midori (Machiko Ono), adora o filho que ela cerca de carinho. Keita é um menino bonzinho, afetuoso e não dá trabalho nem em casa, nem na escola.

Se há alguma nota dissonante, podemos dizer que o fato da criança ser tão comportada, parece desagradar um pouco o pai, que acha que os mimos da mãe não o preparam para uma vida competitiva no futuro.

O diretor Kore-Eda, que assinou o sensível “Ninguém Pode Saber” 2004, vai mexer aqui com uma situação delicada e vai trazer à tona sentimentos em conflito.

Eis que um exame de sangue de rotina, quando da admissão de Keita numa escola tradicional, revela algo que não se esperava.

A notícia chega como uma bomba: houvera uma troca de bebês. Keita não é filho de Ryota e Midori.

E o hospital onde o menino nascera, no interior, perto da casa da mãe dela, porque Midori precisava de alguém para ajudá-la, não podendo contar com o marido, reconhece o erro.

Depois do choque inicial, vemos a consternação dos pais e a complicada questão da culpa.

Mas, providências precisam ser tomadas.

Encontros com os representantes do hospital, médicos e psicólogos, levam as duas famílias a fazer contato.

E uma frase do pai de Keita espanta Midori:

“- Agora está tudo explicado!”

“Pais e Filhos” é um filme bem feito, com um roteiro envolvente e ótimos atores que conquistam a plateia com o drama dos meninos trocados.

A questão central e que não tem uma resposta simples, ao contrário, coloca ainda mais perguntas, é o dilema do sangue versus a convivência.

Ou seja, o que é mais importante para uma criança?

Estar com aqueles que a criaram e amaram desde o nascimento ou mudar para a família que tem o mesmo sangue que o seu?

O que é menos doloroso para os pais?

Trazer para casa o sangue de seu sangue e perder para sempre aquele que era o filho amado?

“Pais e Filhos” traz para a nossa reflexão um dilema difícil de ser resolvido.

Quando o filme passou em Cannes e ganhou o Grande Prêmio do Júri, Steven Spielberg, que era o presidente, comprou os direitos do filme para uma refilmagem.

Vai ser interessante comparar as duas versões.

Ela Vai

“Ela Vai”- “Elle S’en Va”, França, 2012

Direção: Emmanuelle Bercot

 

Vemos ao longe uma mulher que caminha ao longo do mar, sob um sol talvez não de inverno mas de outono. A câmera se aproxima dela porém não vemos seu rosto. Ela está de costas para nós. O cabelo louro brilha e balança com o vento.

Surge uma foto em preto e branco de uma bela jovem, depois dos títulos em vermelho, enormes.

“Ela Vai” parece gritar na tela e reconhecemos Catherine Deneuve na foto, mocinha.

Ela é Bettie, 60 anos, dona de um pequeno restaurante que dá muito trabalho e pouco retorno, numa cidadezinha da Bretanha, no norte da França. Mora com a mãe e as duas se dão bem.

Mas Bettie, que foi Miss Bretanha, passou por tristezas em sua vida. Percebe-se isso na expressão de seu belo rosto que não sorri e o ar de enfado.

É viúva e tem um amante. A gota d’água que vai entornar o copo dela vai ser a notícia de que Etiènne, o amante, largou da mulher por uma moça de 25 anos e nem deu explicações para ela:

“- Você teve tantas oportunidades de refazer sua vida, mas foi se grudar no Etiènne…”, lamenta a mãe ao dar a notícia.

Entre desesperada e furiosa, Bettie procura um cigarro escondido e vai fumar na cozinha.

A mãe não dá trégua:

“- Voltou a fumar? Estou sentindo o cheiro.”

Infeliz, Bettie fuma com a janela do quarto aberta.

Dia seguinte, olhos inchados, cara amassada (mas bela, porque é sempre Catherine Deneuve de quem se trata), Bettie diz que já volta, pega o carro e sai sem rumo. Chora, esbraveja, desabafa no carro, aquele espaço só dela.

Precisa comprar cigarros mas não acha nada aberto e vai em frente pela estrada.

Quando vê, está muito longe de casa e já é noite.

Bettie vai encontrar gente pelo caminho, vai beber, fumar, dançar, amar.

Mas quando o celular toca e é a filha, com quem mal se dá, e que precisa dela para cuidar do neto que ela também mal conhece, Bettie vai enveredar por um outro caminho e vai ter a chance de refazer laços e experimentar novas oportunidades na vida.

A diretora Emmanuelle Bercot centra seu filme em Catherine Deneuve, o ícone francês que tem 70 anos e continua bela, sem querer parecer ser jovem. Ela tem aquele porte elegante que sempre teve, um cabelo cobiçado e um rosto inesquecível.

O roteiro é leve e mistura doses de alegria e tristeza.

Uma menção especial para Nemo Schiffman, que faz o neto. Ele combina bem com a Deneuve. Mas quem não se encantaria em trabalhar com ela?