Chamada a Cobrar

“Chamada a Cobrar” Brasil, 2012

Direção: Anna Muylaert

Oferecimento Arezzo

Quem passou por isso sabe como é. Quem não passou, ouviu alguém contar do sofrimento com esse golpe perverso que é o falso sequestro.

Já foi até capa de revista nacional.

Alguém, mãe ou pai, escuta um homem com disposição violenta, voz de marginal, dizer que estão com uma pessoa da família. Geralmente filho ou filha. E a mãe ou quem atendeu ao telefone inocentemente, angustiada com o susto que levou, se confunde. Na voz do comparsa, que imita a voz de uma pessoa desesperada, reconhece erradamente a filha ou filho e entrega o nome ao criminoso. E aí, é tudo que ele queria para extorquir o que quiser.

Anna Muylaert retrata fielmente essa situação desesperadora em seu filme “Chamada a Cobrar”, que originalmente, era um média metragem, com o nome de “Para aceitá-la continue na linha”, que passou na TV Cultura.

Bete Dorgami, atriz talentosa, faz Clarinha, uma senhora de meia idade, classe média alta, que mora sózinha com seu cachorro e a empregada de anos de casa.

Ela tem três filhas ocupadas, distantes quase o tempo todo, com seus afazeres preenchendo o dia. Não sobra muita coisa para a mãe. Mas, quando a empregada consegue, finalmente, localizá-las, dão-se conta do desaparecimento dela e são ajudadas por um delegado de policia que conta a elas sobre o golpe do falso sequestro e ensina como devem se portar para ajudar a mãe.

O filme se passa quase o tempo todo dentro do carro de Clarinha, que, com o celular no ouvido, segue as instruções do falso sequestrador ao pé da letra. Ela faz tudo que ele manda fazer.

Seria ela uma pessoa inocente, distante da realidade, meio gagá? Clarinha pode até dar essa impressão, agora que esse golpe é conhecido e todo mundo já sabe como funciona. Mas a intenção da diretora parece que não é essa. Porque quase qualquer um poderia ter caído nesse golpe, naquela época. Bastaria que amasse ou se preocupasse com o destino do filho ou filha, longe de casa, que se pensa que está na situação perigosa que o marginal que fala ao celular faz crer.

Acredite quem quiser, mas, infelizmente, esse golpe já foi adotado em nova versão, não por marginais falando português errado, mas por jovens que se fazem passar por familiares de avós, tias, parentes em geral.

Essas senhoras abordadas por telefone, bem intencionadas, acreditam na história que é contada com detalhes por supostos parentes desesperados e fazem depósitos na conta do jovem que passa por uma aflição, naturalmente inventada. E que pedem sigilo para que a mãe deles não fique nervosa.

“- Sabe como é, né, vó? A mãe é exagerada. Melhor eu contar depois com calma para ela. E eu vou te devolver esse dinheiro emprestado, claro.”

No Brasil, já não é só a classe mais necessitada que é a autora de golpes para arrancar dinheiro das Clarinhas ricas. Infelizmente aqui, a juventude “esperta” adotou o modelo que se mostrou compensador e saqueia a própria família ou a do amigo. Todo cuidado é pouco.

Além da Escuridão – Star Trek

“Além da Escuridão – Star Trek”- “Star Trek Into the Darkness”, Estados Unidos 2013

Direção: J.J. Abrams

Para quem só tinha visto Star Trek na TV dos anos 60, esse “Além da Escuridão – Star Trek” é uma surpresa e tanto.

Tudo já começa em ritmo vertiginoso, com a trilha sonora tonitruante de Michael Giacchino e seres brancos/giz, vestidos de panos amarelos, correndo atrás do comandante da Enterprise, numa floresta vermelha, antes mesmo dos créditos iniciais do filme.

E, sem que se possa imaginar onde estamos, um vulcão alarmante parece que vai decretar o fim daquele mundo. Mas aí, o bom e velho Spock (Zachary Quinto) está dentro do vulcão e, claro, consegue acalmá-lo no último segundo, com uma máquina de altíssima tecnologia e eficiência.

E como ele vai conseguir sair dalí? Perguntamos nós, aflitos.

E é nesse momento que reconhecemos, lá no fundo de nossa memória de criança, aquilo que mais atraia na série em preto e branco da televisão americana: o espírito de equipe, a solidariedade entre os membros da tripulação da Enterprise, de diferentes raças e até mesmo espécies de outros planetas.

A amizade do capitão Kirk (agora o bonitão Chris Pine) pelo alienígena de orelhas pontudas e franjinha, vai faze-lo quebrar outra vez as regras rígidas da Federação e por isso vai perder sua nave.

Mas há reviravoltas e, quando a própria Federação tem que enfrentar a ameaça de atos terroristas do terrível vilão super-homem John Harrison (o ótimo Benedict Cumberbatch), nosso comandante volta à ativa e tudo terá proporções que nós, crianças dos anos 60, nem ousávamos imaginar.

E a conhecida solidariedade e amizade entre os tripulantes da nave vai brilhar mais uma vez. O piloto japonês Sulu (John Cho), a bela Uhura (Zoe Saldana), especialista em línguas, McCoy (Karl Urban), o médico humanista, Chekov (Anton Yelchin), o russo que entende tudo sobre a nave e Scotty (Simon Pegg), o brilhante engenheiro escocês, vão passar por poucas e boas, numa Enterprise muito maior, onde os vemos correndo e se socorrendo uns aos outros, nas escadas e pontes suspensas quando falha a estabilidade da nave.

O filme é emocionante, divertido, com um roteiro eficiente e uma produção de arte com boa imaginação. Ainda bem que não mexeram muito no visual dos uniformes da Enterprise. Fortalece o elo afetivo com os personagens que conhecemos desde criança.

A mocinha Carol (Alice Eve), que é nova na história, apesar de uma cena breve em lingerie, não empolga, mas é bonitinha e tudo indica que vai namorar o capitão Kirk.

Bem, tenho que acrescentar que assisti ao filme num cinema que é um aliado importante nas emoções do novo Star Trek. O Cinépolis Iguatemi JK em 4D faz a gente participar das aventuras quase como se estivéssemos na tela. Ouvem-se gritos e risadas e há bons sustos. Recomendo.