Amanhecer – Parte Um

“Amanhecer – Parte Um“ – “Breaking Down – Part I“, EUA, 2011

Direção: Bill Condom

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Não é de hoje que as mocinhas gostam de vampiros. Lembram-se dos filmes antigos? Por que será que elas deixavam as janelas abertas quando sabiam que ele rondava? Por que não usavam cruzes e alho em volta do pescoço mas, prazeirosamente, desprezavam essas armas e esperavam ávidas pela primeira mordida?

Bella (Kristen Stewart) se encantou por Edward (Robert Pattison) como faziam as mocinhas do cinema de antigamente. Vampiros são “sexy”.

Mas ela pode até querer ser “a noiva do vampiro”. Ele hesita. Não a quer vampira. Porque isso significaria que Bella tem que morrer ou porque ficaria igual a ele? Poderosa?

Os livros de Stephanie Meyer fizeram tanto sucesso quanto os filmes inspirados na saga que ela escreveu. Venderam mais de 120 milhões de cópias no mundo inteiro.

Como se explica esse fenômeno?

Claro que é porque esses livros e filmes tratam de um assunto que os adolescentes, tanto meninas quanto meninos, querem ler.

Contam a história de um amor complicado, com impecilhos, dúvidas, tanto da heroína que ora se inclina por Edward ora por Jacob, quanto do herói que foge dela e volta, com medo da atração fatal por Bella.

Isso sempre fez sucesso com todas as gerações de adolescentes que viveram na nossa cultura porque é nessa época de nossa vida que tememos e queremos amar e ser amados. Todo mundo gosta de ler e ver encenados seus temores prediletos.

Todo adolescente tem que enfrentar não só o mundo, nada romântico em nossos dias, aliás, mas também a si mesmo. Tornar-se adulto e lidar com as complicações da vida, dá medo… É difícil despedir-se da infância.

Então, Edward, que será um adolescente para sempre só na aparência, porque vampiro não envelhece, terá que lidar com sexo, quer queira quer não. Como todo adolescente macho, terá que enfrentar o seu medo de falhar, de pegar doenças e encarar o maior de todos os medos: a fêmea poderosa e rival.

Porque se, para um vampiro, a melhor penetração é na jugular da vítima, Bella é humana e quer tornar-se mulher. A voz da natureza clama dentro dela e sua sexualidade impõe uma decisão. Edward vai ter que casar-se com ela.

Se ficasse só nisso, virgens os dois…

Mas quando surge um bebê, os dois terão que encarar os medos que envolvem a gravidez e o parto, tão antigos quanto a história da humanidade, porque a morte ronda. E pode levar a mãe, o bebê ou os dois… E o pai pode não querer ou não poder ajudar a mãe… Muita coisa pode acontecer.

A história de Bella e Edward traz à tona todo esse elenco de medos conscientes somados às terríveis fantasias inconscientes que espreitam no escuro da mente dos seres humanos. E, de um jeito ou de outro, fazem os jovens olhar-se no espelho.

Não podemos esquecer que outro fenômeno de livros e filmes é a saga do bruxinho Harry Potter. Uma história leva à outra, o bruxinho prepara para os vampiros.

Há uma imediata identificação com os heróis que vencem os obstáculos e incentivam seus seguidores a fazer o mesmo.

Não é, então, só por pura diversão que esses livros e filmes fazem tanto sucesso.

Harry Potter ajuda a aguentar as mudanças que ocorrem entre a infância e a adolescência e Bella e Edward vivem na tela os nós que os adolescentes precisam também desfazer para caminhar em direção à maturidade.

Por isso “Amanhecer – Parte Um” enche tantos cinemas.

Se você é ou tem jeito de adolescente vá ver. Pode aprender alguma coisa.

 

 

 

Os Nomes do Amor

“Os Nomes do Amor”- “Les Noms des Gens”, França 2011

Direção: Michel Leclerc

Ela é Bahia Benmahmoud (Sara Forestier, atriz excelente e bela), jovem, cabelos longos cacheados, olhos verdes e corpo perfeito, filha de francesa e imigrante argelino.

Ele é Arthur Martin (Jacques Gamblier), quarenta anos, sisudo veterinário especialista em epidemias globais. Filho de judia que sobreviveu ao campo de concentração (e que nunca tocou nessa história) e de um francês mais velho, ambos conservadores.

Bahia e Jacques parecem em nada feitos um para o outro. No entanto, a vida os coloca frente a frente. Intuitivamente se procuram. Na verdade, ambos guardam, secretamente, histórias de infâncias difíceis.

Extrovertida até demais, Bahia, que tem que responder a todo mundo que seu nome não é brasileiro, resolveu seguir, ao pé da letra, o lema do tempo de sua mãe “ex-hippie”: “Faça o amor, não faça a guerra.”

Tudo acaba na cama. Tenta converter os “fascistas” (todos aqueles que não são de esquerda como ela), seduzindo-os para suas idéias políticas, através das delícias de seu corpo de ninfa pagã.

Jacques Martin não tem saída. Curva-se aos encantos de Bahia, apesar de seu superego rígido, herdado de sua mãe judia.

Original e sensual é a cena em que, antes de transar com Bahia, veste-a da cabeça aos pés, com carinho. Faz isso com ela, que a toda hora tem que esconder o seio que escapa do decote farto e desfila nuazinha e natural pelas ruas de Paris. Vestindo-a para depois despi-la, mostra a ela o seu amor.

“Os Nomes do Amor” é uma comédia inteligente, adulta, para quem tem um mínimo de instrução política. No Brasil pode passar batida a participação de Leonel Jospin, ex-primeiro ministro e candidato a presidente na época em que foi filmada a cena.

O roteiro, premiado com o César 2011, o Oscar francês, e escrito pelo diretor Michel Leclerc e sua mulher, Bahia Kasmi, fala da ocupação da Argélia pelos francêses, da deportação dos judeus da França em 1942, da atual situação política, do racismo e da eleição que colocou Sarkozy na presidência. De forma engraçada e sem perder a ironia.

No fundo está em questão o tema da identidade, do sobrenome das pessoas, como diz o título em francês, mal traduzido, talvez para fazer crer que se trata de uma historinha romântica.

Na França de hoje, bem como em toda a Europa, misturam-se as nacionalidades e a imigração maciça é um fato.

Pois bem. Falar desse assunto sério sem perder o poder da crítica e manter o humor inteligente, é o ponto forte de “Os Nomes do Amor”.

Recomendo o filme especialmente para quem não tem falsos pudores, entende um pouco de política e gosta de gente natural e afetuosa, como a personagem Bahia, que deu o César de melhor atriz de 2011 para Sara Forestier, uma comediante como poucas. Linda e talentosa. Vale a pena vê-la, rir das situações cômicas e se deixar seduzir pelo filme, que faz a gente sair leve do cinema.