Reality – A Grande Ilusão

“Reality – A Grande Ilusão”- “Reality”, Itália/ França, 2012

Direção: Matteo Garrone

O Vesúvio, imponente, trona sobre a cidade de Nápoles.

A câmara foca a cidade de cima e vai descendo, procurando por um veiculo inusitado. Uma carruagem dourada, puxada por dois cavalos brancos e conduzida por um cocheiro de chapéu e vestimentas com “paétès” vermelhos.

Nós nos perguntamos: do que se trata?

E, quando a carruagem adentra os portões de uma vila italiana decadente mas ainda com belos jardins, vemos que é um casamento bizarro. Noivo e noiva, de branco, estão sentados no cetim branco dos bancos, felicíssimos.

Chegam no local da festa e o noivo corta uma fita inaugural com uma tesoura dourada. Pombos brancos voam, libertados de caixas em formato coração. Pagens vestidos de cetim de cores berrantes ladeiam o cortejo. Tudo ao som da Marcha Nupcial.

E, coitados dos noivos, tudo muito cafona.

Mas aí pensamos: os convidados devem estar achando aquilo o máximo. Pois até aplaudem!

E logo é anunciado um convidado especial: Enzo, do “Grande Fratello”, o “Big Brother” local. Ovação, gritos, pedidos de autógrafos e fotos.

Enzo (Raffaele Ferrante), de blaser xadrez e chapéu de turista americano, é todo sorrisos e ridículo. Fica cinco minutos, fala seus clichês e corre para o helicóptero prateado. Mas tem que dar atenção a um homem vestido de mulher, peruca azul e boá de penas vermelhas, com uma menina no colo.

“- Enzo, minha filha quer uma foto!

“- OK!”, diz Enzo, um pouco chateado mas acrescentando o seu refrão, “Never give up” e “nunca desista de seus sonhos! “

Luciano (Aniello Arena), o pai da menina e mais dois filhos, que costuma fazer performances nas festas da família, é dono de uma peixaria, casado com Maria, vive num cortiço e aplica pequenos golpes para ganhar um dinheirinho extra.

Mas, preparem-se porque aquele homem simpático, cordato, feliz até, vai mudar completamente na frente dos olhos de todos.

Para não desistir de seu sonho, Luciano vai visitar o inferno. Delírios de grandeza, mania de perseguição, paranoia e ideias fixas. Luciano vai enlouquecer completamente, por causa de um sonho. Bobagem, para muitos de nós mas a salvação de sua vida, para ele e outros como ele.

Com produção de arte de Paulo Bonfini e fotografia de Marco Onorato, que usam e abusam das luzes coloridas de palco no cenário e música de Alexandre Desplats, de inspiração felliniana, assistimos a uma tragicomédia entre personagens caricatos, falastrões e com um gestual exagerado e até patético.

O filme levou o Grande Prêmio do Juri em Cannes 2012 e a interpretação de Aniello Arena foi muito elogiada. Ele é um ex-mafioso, condenado à prisão perpétua por três homicídios, que aprendeu teatro na cadeia e obteve permissão do juiz para participar da filmagem.

“Reality – A Grande Ilusão”, dirigido por Matteo Garrone, que também trabalhou no roteiro, é uma fábula contemporânea sobre o velho tema de vender a alma ao diabo, com a novidade que aqui alguém não consegue isso e afunda na loucura. O desejo é de obter fama e fortuna. Sabemos que dramas faustianos nunca acabam bem.

“Reality – A Grande Ilusão” é um filme divertido, patético e oportuno, num mundo de “celebridades” instantâneas em que vivemos hoje em dia.

Este post tem 0 Comentários

  1. Lauro miguel disse:

    Muito legal sua resenha! Deu vontade de ver o filme

    • Eleonora Rosset disse:

      Lauro querido,
      Vá assistir e rir e depois até se compadecer da triste figura do dono feliz da peixaria que cisma em participar do “Big Brother” local até enlouquecer….
      Bjs

  2. Santos Moreno... disse:

    Amei a narrativa,vou assistir o filme…vc fez parecer um belo filme,obrigada,bjkkkas…aproveito para um galanteio…Muito bela foto, parabénssss

    • Eleonora Rosset disse:

      Santos Moreno querido,
      Como vc pode ver acima ou abaixo( não sei como ficou a paginação) às vêzes é duro ser uma blogueira de cinema. Por puro amor! Vc me salva !
      Bjs

  3. theodore disse:

    Esse espaço de fato é dedicado ao cinema de “bom gosto”, com tematicas de arrojo “contemporâneo”, muito culto, adulto e elaborado, e claro, o templo da chatice!!! Aqui se desconhece o cinema de fantasia, diversão, a sua origem mesmo como oferta de algumas horas de amores, aventuras e perigos além de nossa realidade, o cinema surgiu para isso: provocar um extase de queima rapida, mas brilhante, possibilitando a todos que se atrevessem na sala escura a procurar seu personagem, sua passageira estória. Mas aqui a comentarista dedica-se a afetação do “cinema de arte” (nada contra, há muita beleza no cinema literario tb, de idéias, o que incomoda é a impostura insistente do “bom gosto” intelectual, pequeno burguês..), essa água parada e estagnada de impressões “reflexivas” sobre nossas questões e duvidas existenciais, nossos traumas sociais… Blargh!!! O mais hilário é que todos os frequentadores, e me parece, amigos da comentarista, seu pequeno circulo, um arremedo do salão ridiculo de “Guermantes” (isso não é um elogio…!) nunca assistem porcaria de filme nenhum, é um tal de comentar fotos, vestuario e quartos de hotéis de “prestigio” europeus, um “rasgar de sedas” perpetuo numa farra de afetação… A hostess tomará esse texto como uma agressão gratuita de um “triste e enfermo”, um recalcado não aceito em seu “sarau”. Mas não, é somente um serviço que presto ao chamar a atenção para alguns detalhes absurdamente grotescos cometidos por pessoa bem vista na nossa boa sociedade: as fotos continuam sendo ridiculas, fruto de uma necessidade de exposição e auto-adoração doentias em busca de adulação, e os comentarios não podem ser mais descritivos, com uma pobreza de opiniões chocante (mas para a qualidade cultural dos frequentadores esta de bom tom). Um conselho de despedida: divirta-se mais no cinema, sem tanta pose, há mais para se ver além desse rosario de chatices, afinal, cinema também é namoro e pipoca.

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