Relatos Selvagens

“Relatos Selvagens”- “Relatos Salvajes” - Argentina, Espanha, 2014

Direção: Damián Szifrón

 

Freud disse um dia: “O humor é um dom precioso e raro”. O pai da psicanálise mostra o seu humor sarcástico numa história real, acontecida em 1938, quando teve que deixar a Áustria, depois que sua filha Ana foi presa e interrogada pelos nazistas.

Ele foi obrigado a assinar um documento, dizendo que não sofrera maus tratos e, com ironia fina digna do humor negro, acrescentou com sua própria letra:“Posso recomendar altamente a Gestapo a todos.”

Ou seja, fazer humor é saber lidar com o sofrimento através de palavras que fazem rir. É transformar a tragédia em algo risível e assim, triunfar sobre a dor.

Um excelente exemplo desse modo de falar sobre as limitações e os desastres da vida humana é o filme “Relatos Selvagens”, que tem Agustín e Pedro Almodóvar como produtores.

Em seus seis episódios, todos ótimos, rimos da maneira como pessoas como nós mesmos, perdem as estribeiras quando tudo dá errado.

Os episódios, escritos e dirigidos por Damián Szifrón, 39 anos, que também participou da montagem, mostram um humor negro com o qual nos identificamos. Rimos porque nos vemos no papel daquele ser humano que, contrariado em seus desejos, vinga-se com uma graça nada politicamente correta.

Porque bem lá dentro, todo mundo é bastante malvado. E, com o filme rimos, ao invés de atuar essa maldade, que, por um curto espaço de tempo é permitida e incentivada.

“Relatos Selvagens” é imperdível. Não só como catarse mas para apreciar a inteligência de quem imaginou e escreveu histórias tão universais, que estão fazendo sucesso por onde passam.

As fotos de animais da África nos créditos iniciais já brincam com o título do filme. Vocês vão ver quem é selvagem aqui.

Tudo começa com contundência e impacto no episódio do avião, continua com uma mulher que toma as dores da outra, depois na estrada uma rixa deriva para um combate, enquanto que a burocracia leva Ricardo Darín às raias da loucura, num dos episódios mais latino-americanos do filme e um pai se desespera com o filho, para tudo acabar num casamento onde a noiva estressada, a ótima Erica Rivas, derrama sangue e lágrimas, fechando o filme com uma nota de bom coração.

Não dá para não gostar de “Relatos Selvagens”, que concorre pela Argentina a uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Vá ver correndo e solte suas feras, rindo muito com tudo que acontece na tela.

Este post tem 0 Comentários

  1. Priscila disse:

    Ah, que ótimo texto. Já tinha lido uma resenha sobre o filme – o qual quero muito ver! – e essa sua me fez querer ainda mais.
    A propósito, linda foto sua hoje na Folha 😉
    Abraço da Priscila.

    • Eleonora Rosset disse:

      Priscila querida,
      Vc é mt gentil! Não perca esse filme. Eu adorei e todo mundo está falando a mesma coisa. Faz tempo que não se vê tanta inteligência e ritmo nas telas!
      Volte sempre!
      Bjs

      • Priscila disse:

        Claro que volto. Aliás, estou sempre por aqui. 😉
        Vou anotando todas as dicas que você dá e minha lista de “filmes que quero ver” está imensa! Isso acaba me dando uma certa agonia, sabe. Que medo de não conseguir ticar todos os itens da lista :/ Como você consegue assistir a tantos filmes, Eleonora? Talvez umas dicas de “como organizar sua rotina para incluir muitos filmes na semana” seriam uma ótima…
        Um abraço da Priscila.

  2. Ari persan disse:

    Eleonora ….usando o mail para te dizer que ” Relatos Selvagems ” é o filme do ano e sua crônica relata com precisão e inteligência ! Seria injusto que não leve a estátua de ouro !
    Abrss BL

    • Eleonora Rosset disse:

      Bethy querida,
      Adorei vc usando o celular do Ari para me deixar esse comentário
      tão simpático! Vamos torcer para que o humor inteligente vença no Oscar!
      Volte sempre!
      Bjs

  3. Pietro disse:

    Olá! Antes quero dizer que so vou ao cinema depois de ler o que voce comentou sobre o filme. E vou em textos passados para escolher um dvd para assistir em casa.
    Entao, esse filme é maravilhoso!!! É uma oportunidade de ver o rídiculo dos exageros que somos capazes de cometer… O cinema vai abaixo em cada cena. Acho que todos nos identificamos em algumas ou todas as sequencias do filme.
    Adoro seus comentarios e estou sempre aqui
    Bjo

  4. Rodolfo Müller . disse:

    Me atrapalhei no começo do filme . Não esperava historias tão apreciativas e rápidas . Realmente o ritmo e a inteligencia me impressionaram .
    Todas as passagens incríveis , adorei . O final do casamento foi demais . quero ver outras vezes !!!

  5. Eugenia Kós disse:

    Eleonora, que prazer conhecer esse seu cantinho!Tambem sou apaixonada por cinema, assisto quase que 1 filme por noite. O interessante é que, como voce, a abertura desse filme chamou minha atenção logo de início. A analogia é fantástica! E o filme é imperdível, bom do início ao fim, redondo, instigante, hilário, daqueles inesquecíveis. O fechamento com o casamento é tão bom, mas tão bom que dá vontade de assistir novamente.

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