Segredos Oficiais
“Segredos Oficiais”- “Official Secrets”, Estados Unidos 2019
Direção: Gavin Hood
Quem vai ver o filme sabe, pelo menos, que é uma história real. E, mesmo assim, parece inacreditável.
As imagens iniciais mostram o quase final do filme. Em 25 de fevereiro de 2004, Katherine Gun, acusada de revelar informações ultra secretas, ouve a pergunta do juiz:
“- Você é inocente ou culpada? ”
Voltamos para um ano antes.
Muita gente percebeu que tanto o presidente George W. Bush quanto o primeiro ministro britânico, Tony Blair, queriam uma guerra ao Iraque. Os dois falavam, pela televisão, com os cidadãos de seus países, afirmando que o Iraque do ditador Saddam Hussein tinha desenvolvido armas nucleares e químicas que iriam ser usadas e eram uma ameaça ao Ocidente. Não havia nenhuma prova concreta, entretanto.
Katherine Gun (Keira Knightley, ótima), tradutora de mandarim, trabalhava no Quartel General de Comunicações do Governo britânico. Uma espiã. Ouvia conversas telefônicas e lia e-mails confidenciais. Como ela diz, à certa altura do filme, ela servia ao povo de seu país e não ao governo inglês. Aliás ela afirma que sua função era proteger o povo das mentiras do governo.
E, por isso mesmo, fica surpresa e assustada quando lê algo muito grave num e-mail. Dizia o documento que a Agência de Segurança Nacional americana (NSA) estava buscando informações que pudessem servir para pressionar representantes da ONU, para que aprovassem a guerra ao Iraque.
A partir dessa descoberta, Katherine fica muito propensa a vazar essa informação. Ela pensa nos que vão sofrer com uma guerra que não vai servir a ninguém, a não ser ao poderio militar americano que iria se apossar do petróleo do Iraque.
Katherine quer ficar com a consciência limpa. E, por isso, vai sofrer ameaças, prisão, é seguida dia e noite, censuram seu telefone e vê o marido curdo e muçulmano ser indicado para deportação. Ela só consegue ter um advogado brilhante quase que por milagre. E Ralph Fiennes está maravilhoso no papel.
Como todo mundo sabe, a guerra do Iraque tirou Saddam Hussein do poder e com isso desequilibrou a região dando início a uma guerra civil entre xiitas e sunitas. Além disso fez de 500.000 a um milhão de mortos iraquianos (ninguém sabe o número exato), quase 5.000 soldados americanos pereceram, 4 milhões de iraquianos foram deslocados de suas regiões e 2 milhões deixaram o país. E foi a semente que fez surgir o ISIS.
Mais que tudo, desacreditou instituições e os políticos que mentiram para o povo sobre a necessidade dessa guerra. Não foram encontradas armas nucleares ou químicas pelos inspetores americanos.