Tudo pelo poder

“Tudo pelo Poder”- “The Ides of March”, Estados Unidos 2011

Direção: George Clooney

O rosto bonito de Ryan Gosling, o ator do momento em Hollywood, recita em “close”e, estranhamente sem convicção, palavras que soam ocas, em um microfone:

“Não sou cristão, não sou ateu. Não sou judeu nem muçulmano. Minha religião é a Constituição dos Estados Unidos da América.”

Acendem-se as luzes. É um estúdio de televisão. Lemos em um cartaz que vai haver o debate das Primárias em Ohio, na campanha para a presidência do país.

“- Para onde vai Ohio, vai a nação”, diz o locutor de TV que apresenta o noticiário.

Mas Ryan Gosling não é o candidato. Ele estava fazendo o teste de som para o discurso de Mike Morris (George Clooney), o
governador em exercício, que quer ser presidente dos Estados Unidos.

E, o mais irônico, é que foi Stephen Myers (Ryan Gosling), que escreveu aquele discurso que o candidato recita depois, de modo dramático, frente às câmaras. Steve, como todos o chamam, é apenas um assessor da campanha. Mas é o centro da trama de “Tudo pelo Poder”.

Ao longo de “Tudo pelo Poder” vamos ver os bastidores de uma campanha política. E, nesse sentido, o filme trata menos de
política e mais de politicagem.

O elenco, composto por atores extraordinários, vai brilhar no embate de egos, traições, interesses escusos, troca de favores, maquiavelismos e “limpeza de sujeira”, pratos principais da campanha eleitoral do candidato democrata.

Baseado numa peça de teatro de Beau Willimon, o roteiro, que teve a contribuição de George Clooney que também dirige e atua, tem diálogos interessantes e inteligentes entre os homens do comitê do candidato. Phillip Seymour Hoffman e Paul Giamatti dão um “show”de atuação à parte.

Já Marisa Tomei, que faz Ida, uma jornalista investigativa e Evan Rachel Wood, a estagiária bela e bobinha, não tem maior
destaque porque seus personagens são pouco trabalhados no roteiro. Conseguem uma ou duas cenas e só.

O foco principal está sempre em Steve Myers. Idealista e convicto de que o governador é o melhor candidato, vamos ver Ryan
Gosling interpretar um homem que sofre uma transformação radical ao longo da história. Não é à toa que o filme começa e termina com a câmara fazendo “close”em seu rosto.

“Tudo pelo Poder”, a tradução brasileira entrega o filme. Mais sutil e pretencioso é o título em ingles, “The Ides of March”, que
faz alusão a Shakespeare e sua peça “Julio Cesar”.

George Clooney, como ator, dessa vez aparece pouco e sem brilho. Parece que concentrou todas as suas forças na direção e roteiro.

“Tudo pelo Poder” consegue interessar o espectador, apesar de alguma ingenuidade e superficialidade, principalmente quando envereda para o melodrama do “grande segredo”do candidato a presidente.

Já foi indicado para o Globo de Ouro e é um filme que certamente vai ser candidato a vários Oscars. Pode ser que dessa vez Ryan
Gosling ganhe o seu.

Este post tem 0 Comentários

  1. sonia clara ghivelder disse:

    Oi, Eleonora
    Há muito pouco a acrescentar ao que vc já disse no seu comentário.
    Não saí desse filme entusiasmada. Gosto mais das presenças dos atores do que do filme.
    Phillip Seymour Hoffman é um ator especial em tudo o que faz. São delicadas nuances de interpretação que não passam desapercebidas pelo especatador. Ryan Gosling é um ator que me parece racional em todos os seu trabalhos. Cada take é milimetrado por ele. Sua emoção é sempre contida, mais do que escondida.
    George Clooney conhece bastante cinema, sabe atuar e dirige com fimeza esse filme interessante que nos mostra as vilanias dos bastidores políticos. Concordo com você no que diz respeito à pretensão do título.Uma metáfora… É uma referência ao drama “Julio César” de Shakespeare. Logo no começo da peça, Júlio César vai entrando triunfante em Roma quando um mendigo lhe diz: “Beware the ides of March”. De fato, César seria assassinado no mês de março. Aliás, como a revolução no Brasil aconteceu num dia primeiro de março, passou a ser chamada de “os idos de março”.
    Vale ver George Clooney nos dizendo que recusa o título de galã.
    bjss
    Sonia Clara

    • Eleonora Rosset disse:

      Sonia Clara querida,
      Concordamos em tudo.
      Este é um filme feito sob medida para ganhar prêmios.
      Mas, como vc disse, é ótimo ver George Clooney dando espaço para os colegas atuarem!
      Bjs

  2. sonia clara ghivelder disse:

    Querida Eleonora,
    Alem dda grandeza que Georgs Clooney nos mostra, ele nos quer dizer e já faz algum tempo, que sua carreira seguirá com um estofo mais importante que apenas ser um homem bonito. Clint Eastwood, fez o mesmo é um diretor ´respeitadíssimo por esse caminho que tão bem escolheu. Assim como Robert Redford. Sabiam que o glamour tem o seu exato tempo de validade..
    bjss
    Sonia Clara

  3. Uma (outra) Qualidade do filme está na sua condução como simples atração, – c/ brilhantes atuações – atingindo assim público maior desvendendo as artimanhas negativas (algumas apenas) de homens públicos escolhidos por nós que ofendem a LEALDADE – tema forte no filme – de seus ideais assumidos. Que sirva de lição na hora da eleição.
    Concordo plena/ c/ Sonia Clara sobre sua descrição da “atuação racional” do Gosling, embora, pelo menos por enqto, esteja apreciando bastante. Isso me surpreende até, porque na VIDA, goste mais de transparência do que de emoções contidas, escondidas.
    Bem, a Psicanalista Eleonora é quem tem autoridade sobre o assunto.
    Este filme soma à lista das poucas exceções cinematográficas que reúnem vários artistas de peso num mesmo cenário e consegue manter padrão de Qualidade, mesmo sendo um “passatempo”.
    E se me permite, Eleonora: “minha religião é a Constituição dos Estados Unidos do Brasil”,que melhor ainda seria se fosse tão simples e reguardada quanto a dos Estados Unidos da América.

  4. P.S. Andei reparando detalhada/ o cartaz do filme que vc, Eleonora, aplicou no seu texto. Algum significado deve ter além de sua simples divulgação. O Personagem principal do filme exibe, na altura do rosto, publicação de grande público – Time, talvez – mas c/ imagem transparecendo o rosto dele (“ME”, de Time).
    Lealdade e Transparência. Sei lá!

    • Eleonora Rosset disse:

      Wilson,
      Pra mim a foto pareceu resumir a ironia dofilme. Qem vai ser a capa do TIMES? O candidato vai ganhar ou o colaborador vai denunciá-lo…
      Esse é o tema do filme.Reversão de expectativas.
      Bjs

  5. heddy dayan disse:

    que bom encontrar meus amigos de sempre comentando aqui, Sonia e Seramigo, ótimos inter locutores. Não tenho ido muito ao cinema, mas sempre acompanho por aqui. Adoro o Giamatti, e o Seymour. Beijos, heddy dayan.

  6. Luiz Roberto de Paula Dias disse:

    Muito bom Eleonora, como não tive a oportunidade de assiti-lo no cinema acabei por fazê-lo ontem em DVD, e como você bem colocou,foi ótimo ver Clooney como diretor, dando a oportunidade ao jovem Ryan Gosling, brilhar como ator nesse filme, Agora eu gostei mesmo foi do desempenho dos atores como um todo, do que do desenrolar da trama, porém foi uma agradável diversão,e também porque já vivemos o clima eleitoral americano, bjs

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