Um Alguém Apaixonado

“Um Alguém Apaixonado”- “Like Someone in Love” França/Japão, 2012

Direção: Abbas Kiarostami

Tudo começa num bar. Muitas vozes se entrecortando,barulho de copos, risos. Aos poucos se impõe uma voz feminina.

Uma mocinha japonesa de cabelos laranja e boca vermelhaolha em nossa direção. Demora um pouco mas depois compreendemos que estamos
olhando o bar através dos olhos puxados de uma garota de franjinha e rabo de cavalo. Ela está falando ao celular.

Agora vemos seu rosto bonito, com a pele clara, olhos expressivos. Tudo nela é juventude. Mas está triste, zangada com quem fala ao
telefone. Ela se justifica, dá provas de que está com Nagiza, a de cabelos laranja. O namorado de Akiko não acredita nela? Está com
ciúmes?

Assim começa para nós a história de Akiko, garota de programa, como veremos depois, que veio para Tóquio para ganhar a vida. Dividida
entre a avó que veio visitá-la, o namorado que ela engana e o seu trabalho de gueixa contemporânea, ela escolhe o último. Larga a avó esperando, o namorado sózinho e vai viver uma aventura.

Akiko vai ao encontro de um cliente, que o seu patrão escolheu para ela. Um homem muito especial, diz ele, que é um homem
maduro.

Com seu vestido verde e curto, ela entra no táxi e, apesar de passar pela avó que a espera na praça, chora mas não hesita em
continuar em frente.

O cliente, veremos, é realmente um homem especial. Um velho professor, escritor, que vive sózinho entre seus livros e papéis e que
parece que anseia por companhia feminina, alguém que ele possa mimar e conversar. Afinal, os únicos retratos que vemos em seu apartamento são os das mulheres de sua vida: a esposa, a filha e a neta. Não sabemos se isso é verdade.Não sabemos nada sobre elas. Como não sabemos quase nada sobre o professor, Akiko e seu namorado.

Essa é uma das características marcantes do diretor iraniano Abbas Kiorastami. O espectador deve estar ativo, preenchendo lacunas
propositais para que a nossa imaginação trabalhe. Ele quer uma platéia viva, com as emoções sintonizadas na história que se passa na tela sem nenhuma explicação, a não ser o que acontece com os personagens.

“- Seu apartamento é bonito. Todos esses livros! Você leu tudo? Não joga fora depois que leu?”

E o velho professor sorri, encantado com ela.

Ella Fitzgerald canta “Like Someone in Love” ao fundo.

O Japão, em Tóquio, vai se descaracterizando. Parece uma cidade ocidental mas a tradição permanece de alguma forma.

Há uma necessidade de alguém mais sábio do que eles para orientar esses jovens que não sabem o que fazem. Um avô? Um
professor?

Os mais experientes, como o próprio diretor Abbas Kiarostami, sabem que a natureza humana não muda, apesar das roupagens e jeitos
novos.

A necessidade de amar e ser amado é o tema de “Like Someone in Love- Um Alguém Apaixonado”. E é eterna.

Este post tem 0 Comentários

  1. Sonia Zagury disse:

    com essa descrição já fiquei muito curiosa e com muita vontade de assistir… depois contarei. Bjs!

    • Eleonora Rosset disse:

      Sonia querida,
      Adoro essa sua assiduidade no meu blog! Me incentiva a continuar! Obrigada amiga! Vá ver o filme do Abbas.
      Bjs

      • Sonia Zagury disse:

        Vi o filme e gostei muito. No início ele me incomodou um pouco pelas cenas muito escuras, mas ele tem o dom de prender nossa atenção e fazer com que a gente acompanhe passo a passo toda a trajetória dessa pobre jovem totalmente dominada por um namorado ciumento e violento, ….. final abrupto e inesperado. Muito bom, recomendo!

  2. Gostei dessa afirmação que a natureza humana não muda. Me deu segurança. Pq será, hein?
    Às vezes eu faço alguma observação sobre alguma criança para a mães e ultimamente elas tem me dito: hj em dia…
    Por suposto, querem me dizer q eu estou velha e já não acompanho mais as coisas e tb desprezam e desdenham qq Piaget da vida.

    • Eleonora Rosset disse:

      Sylvia minha amiga,
      E não muda mesmo. A gente consegue aparar algumas arestas mas com mt esforço…. Mas a essencia não muda.
      As mães não- piagetianas estão observando de um outro ângulo, acho eu. Do que elas queriam mudar nas crianças mas não mudaram nelas mesmas. E ai como vai dar certo?
      Gde bj

  3. Cássia Bruno disse:

    Eleonora, você é incrível mesmo. Com este comentário você me despertou da preguiça de tantos feriados e agora não quero perder este filme.Bj queirda! Cássia

  4. Alice Carta disse:

    Argo já vi, adorei e voce explica muito bem ,bjs
    Alice

  5. Bebeth Menezes disse:

    Adorei o filme e como sempre Abbas Karostami é genial e nos deixa “pensando” quando o filme termina. Ou será que termina?

    • Eleonora Rosset disse:

      Bebeth querida,
      Pois é. Vc tocou numa peça chave. Os filmes de Abbas Kiarostami são como a vida. Um fluxo de acontecimentos. E ele nos mostra isso. Entra sem se fazer anunciar e qdo sai, deixa mt coisa pra gente pensar…
      Bjs

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